segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

BREVE ANÁLISE SOBRE “MUFASA: O REI LEÃO”

Inestimável Leitor, tive recentemente uma grandiosa experiência cinematográfica ao contemplar Mufasa: O Rei Leão. A priori, este filme nos proporciona uma miríade de reflexões sapienciais e sentimentalidades, logo, precisamos de tempo para processar tantas mensagens contidas no roteiro. Apesar de ter consciência das dificuldades, eu tentarei abordar as principais camadas deste filme dirigido por Barry Jenkins. Ademais, afirmo sem titubear que Mufasa: O Rei Leão honrou a tradição desta franquia de sucesso da Disney.

O live-action em questão conta a história de Mufasa e Taka (Scar) no período anterior ao reinado de Simba. O enredo é narrado por Rafiki, com alguns comentários assertivos e cômicos de Timão e Pumba, os quais, contam para Kiara (filha de Simba e Nala) a lenda de seu grande avô Mufasa. A trama se desenrola com cenas que mesclam de forma equilibrada e dinâmica o elo entre passado e presente. A propósito, o filme supracitado nos sinaliza uma prática que vem sendo perdida nos dias de hoje: o hábito dos mais de velhos de contar histórias lendárias para os mais novos, cujos saberes intrínsecos eram imprescindíveis na formação do imaginário infantil e no estabelecimento de valores universais.

Prezado Internauta, permita-me citar uma percepção de cunho mais subjetivo: subsequente à exibição de Mufasa: O Rei Leão, os cinéfilos emitiram aplausos e fiquei com a sensação de pleno regozijo. Tal filme explora várias camadas que permeiam o comportamento humano. Façamos um adendo: por causa da extensão limitada de um artigo, serei conciso na abordagem dos valores subjacentes nos personagens. Eis alguns aspectos: a importância do cumprimento da palavra dita; o amor ágape representado nas mães de Mufasa e Taka; a plenitude das experiências sensitivas; a importância de cada ser no cosmo; a ênfase na coletividade enveredada à resolução de problemas; a valorização da amizade; explanação do ciúme e da inveja diante das conquistas alheias...

Apesar de ser uma obra de roupagem infantil, nas entrelinhas, o universo de Rei Leão tem uma ambientação mítica, haja vista a personificação do profeta no babuíno Rafiki. Tal personagem tem uma dimensão transcendental, configurando-se como o arquétipo do ancião (um velho sábio) que anuncia a “terra prometida”, denominada Milele, ao grupo de animais liderado por Mufasa; percebe-se em Rafiki uma fé inquebrável e um senso de sabedoria que impõe respeito aos leões. A travessia do bando de Mufasa pela Terra do Gelo lembra a passagem dos judeus pelo deserto antes do advento em Canaã, a terra prometida por Deus para Abraão, Isaac e Jacó. Simplesmente, Milele é a Canaã dos animais que formarão o futuro reino liderado por Mufasa.

A parte final do filme nos aponta a necessidade dos animais no reconhecimento de um rei, cujo governo traria paz, segurança e ordem social. Aqui temos outro link com a história judaica presente no Primeiro Livro de Samuel, quando o povo clama a Javé pela formação de uma monarquia. Assim como o povo judeu nas diásporas enfrentadas, Mufasa é um desgarrado que procura incessantemente por um território que possa abrigá-lo, movido pela esperança de reencontrar os seus pais. Com toda tranquilidade, podemos fazer uma analogia entre Mufasa e Saul, este último, o primeiro rei de Israel. Enfim, O Rei Leão demonstra que o senso de justiça deve ser inerente ao monarca, valor que foi relegado por inúmeros governantes. Mufasa: O Rei Leão é uma obra-prima cinematográfica que trabalha valores que são fundamentais para a humanidade. Quem dera se nós tivéssemos governantes do naipe de Mufasa e Simba...

(Tosta Neto, 23/12/2024)

 

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