Inestimável
Leitor, tive recentemente uma grandiosa experiência cinematográfica ao
contemplar Mufasa: O Rei Leão. A priori, este filme nos
proporciona uma miríade de reflexões sapienciais e sentimentalidades, logo,
precisamos de tempo para processar tantas mensagens contidas no roteiro. Apesar
de ter consciência das dificuldades, eu tentarei abordar as principais camadas
deste filme dirigido por Barry Jenkins. Ademais, afirmo sem titubear que Mufasa:
O Rei Leão honrou a tradição desta franquia de sucesso da Disney.
O live-action
em questão conta a história de Mufasa e Taka (Scar) no período anterior ao
reinado de Simba. O enredo é narrado por Rafiki, com alguns comentários
assertivos e cômicos de Timão e Pumba, os quais, contam para Kiara (filha de
Simba e Nala) a lenda de seu grande avô Mufasa. A trama se desenrola com cenas
que mesclam de forma equilibrada e dinâmica o elo entre passado e presente. A
propósito, o filme supracitado nos sinaliza uma prática que vem sendo perdida
nos dias de hoje: o hábito dos mais de velhos de contar histórias lendárias
para os mais novos, cujos saberes intrínsecos eram imprescindíveis na formação
do imaginário infantil e no estabelecimento de valores universais.
Prezado
Internauta, permita-me citar uma percepção de cunho mais subjetivo: subsequente
à exibição de Mufasa: O Rei Leão, os cinéfilos emitiram aplausos e
fiquei com a sensação de pleno regozijo. Tal filme explora várias camadas que
permeiam o comportamento humano. Façamos um adendo: por causa da extensão
limitada de um artigo, serei conciso na abordagem dos valores subjacentes nos
personagens. Eis alguns aspectos: a importância do cumprimento da palavra dita;
o amor ágape representado nas mães de Mufasa e Taka; a plenitude das
experiências sensitivas; a importância de cada ser no cosmo; a ênfase na
coletividade enveredada à resolução de problemas; a valorização da amizade;
explanação do ciúme e da inveja diante das conquistas alheias...
Apesar de ser uma
obra de roupagem infantil, nas entrelinhas, o universo de Rei Leão tem
uma ambientação mítica, haja vista a personificação do profeta no babuíno
Rafiki. Tal personagem tem uma dimensão transcendental, configurando-se como o
arquétipo do ancião (um velho sábio) que anuncia a “terra prometida”,
denominada Milele, ao grupo de animais liderado por Mufasa; percebe-se em
Rafiki uma fé inquebrável e um senso de sabedoria que impõe respeito aos leões.
A travessia do bando de Mufasa pela Terra do Gelo lembra a passagem dos
judeus pelo deserto antes do advento em Canaã, a terra prometida por
Deus para Abraão, Isaac e Jacó. Simplesmente, Milele é a Canaã dos animais que
formarão o futuro reino liderado por Mufasa.
A parte final do
filme nos aponta a necessidade dos animais no reconhecimento de um rei, cujo
governo traria paz, segurança e ordem social. Aqui temos outro link com a
história judaica presente no Primeiro Livro de Samuel, quando o povo
clama a Javé pela formação de uma monarquia. Assim como o povo judeu nas
diásporas enfrentadas, Mufasa é um desgarrado que procura incessantemente por
um território que possa abrigá-lo, movido pela esperança de reencontrar os seus
pais. Com toda tranquilidade, podemos fazer uma analogia entre Mufasa e Saul,
este último, o primeiro rei de Israel. Enfim, O Rei Leão demonstra que o
senso de justiça deve ser inerente ao monarca, valor que foi relegado por
inúmeros governantes. Mufasa: O Rei Leão é uma obra-prima
cinematográfica que trabalha valores que são fundamentais para a humanidade.
Quem dera se nós tivéssemos governantes do naipe de Mufasa e Simba...
(Tosta Neto,
23/12/2024)
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