sábado, 17 de agosto de 2024

PREFEITURA: A GALINHA DOS OVOS DE DIAMANTE (TOSTA NETO)

Ilustre Leitor, a priori, eu escrevi este singelo artigo em 2017, por conseguinte, diante do princípio da corrida eleitoral nos municípios, decidi revisá-lo e publicá-lo novamente. Desde já, anseio que tu tenhas uma ótima leitura... Saudações Literárias!

O Executivo por excelência é o poder que executa as leis, isto é, o governo de fato (a esfera que exerce a governabilidade). O poder executivo está distribuído em três instâncias: federal, estadual e municipal. A prefeitura, o poder executivo municipal em si, traz consigo a amplitude local, configurando-se uma proximidade entre governantes e governados, logo, há mais pessoalidade nas relações de poder. No plano ideal, a gestão governa para o povo, porém, na maioria das vezes, a práxis nos apresenta uma realidade rebuscada de paternalismo, vingança, corrupção, inoperância e clientelismo.

Obviamente, o advento à prefeitura é antecedido pelo processo eleitoral. O pleito municipal é aquele que mais mexe com os eleitores: o candidato pode ser seu irmão, primo, vizinho, colega de trabalho, amigo de infância etc. Para ser eleito, o candidato necessita realizar conchavos com os “notáveis” oligarcas, normalmente os que protagonizam a alternância de poder. Às vezes, esses oligarcas são ou estão ligados às famílias ditas nobres, status quo deveras perceptível no interior; qualquer candidato que vislumbre a vitória precisa aliar-se às “famílias tradicionais”. Com a formação da base de apoio e o uso de artifícios inescrupulosos e escusos – compra de votos, promessa de empregos e propaganda massificada – o candidato angaria as potencialidades que poderão lhe conceder o triunfo na eleição municipal. Estamos cônscios que no Brasil, lamentavelmente, os eleitores não se importam com a qualidade dos seus representantes e desconhecem as propostas das candidaturas que estão no jogo eleitoral.

De forma categórica, a “lua de mel” entre o prefeito eleito e a base de apoio pode ser arranhada ao longo do governo. Ademais, no modus operandi dos oligarcas que só conseguem viver como parasitas nas entranhas do poder, a prefeitura é vista como uma fonte inesgotável de empregos. O prefeito deve distribuir cargos para articuladores, indicados e bajuladores de sua campanha. A prefeitura é transformada em um balcão espúrio de distribuição de cargos, o notório cabide de empregos. Vale enfatizar, que a escaramuça é mais vivaz pelo controle das secretarias; os padrinhos mais influentes acabam abocanhando os cargos mais valiosos. Nesta conjuntura de “toma lá dá cá” peremptoriamente desnuda de mérito, a técnica, a formação profissional e a experiência são relegadas, logo a composição governamental é constituída consoante os interesses de oligarcas e padrinhos políticos.

No imaginário popular, a prefeitura é apreendida como a “casa da mãe Joana”, graças a uma série de mazelas: salários altos, ineficiência administrativa, ausência de concurso público, iminência do atraso de pagamentos, calotes, presença de alguns funcionários desconectados da causa pública, cargos de confiança... Além disso, empresários que apoiaram o prefeito na campanha exigem seus quinhões (milhões): informações privilegiadas em licitações públicas e a prática trivial de superfaturamento. Na lógica dos parasitas do poder, a prefeitura é a galinha dos ovos de diamante. Sabe-se que certos empresários e prefeitos corruptos adquirem verdadeiras fortunas em determinadas gestões, por isso que há tanta sede e fome no aparelhamento da máquina pública. As tetas da prefeitura são sugadas até a derradeira gota de sangue.

O formato de gestão pública no Brasil está carcomido e obsoleto. É mister a adoção de modelos administrativos que inibam a proliferação de vícios que corroem a estrutura estatal. Infelizmente, nossos governantes estão muito aquém do nível de excelência exigido à gestão pública. Deve-se dificultar o acesso de corruptos à plataforma eleitoral e elevar a qualificação dos candidatos. Algumas medidas poderiam ser adotadas: fim do financiamento partidário público (o partido deve ter recursos próprios), voto distrital, drástica diminuição salarial, reputação ilibada dos políticos, cursos de gestão pública etc. A caminhada é longuíssima e árdua, a internet e as redes sociais estão aí, portanto, continuemos atentos e vigilantes em prol de uma gestão municipal enveredada aos anseios do povo.

(Tosta Neto, 17/08/2024)

 

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