sexta-feira, 21 de junho de 2024

COMO NÃO AMAR O SÃO JOÃO?! (TOSTA NETO)

Nós, nordestinos, ao longo do ano, esperamos ansiosamente a chegada do São João. É até uma redundância falar o quão amamos tal festa, porém, diante do advento dos festejos juninos, este que vos escreve, sentiu-se persuadido no âmbito sentimental a engendrar este singelo artigo. É insofismável que o São João tem vários requisitos que o transformam numa solenidade apoteótica.

A musicalidade junina esbanja uma riqueza incalculável, perpassando por Luiz Gonzaga, Mastruz com Leite e Flávio José, entre outros ícones tradicionais, cujas letras expõem de forma fidedigna o cotidiano, a alegria e as angústias do povo nordestino. Apesar da interferência da Indústria Cultural com o chatíssimo e previsível “sertanejo universitário”, o cancioneiro junino resiste com todo vigor.

Numa perspectiva idealista, o São João deveria contar apenas com atrações musicais que fazem jus aos festejos juninos. A propósito, faço uma menção especial ao São João de Mucugê na Chapada Diamantina, o qual, oportuniza uma programação essencialmente tradicional; em contrapartida, entendemos que é difícil resistir à tentação musical que é curtida pelo grande público, logo, suscita-se a necessidade de contratar “artistas” que estão na moda, objetivando assim, amplificar o número de visitantes.

Nosso amado São João é uma explosão de cores, fenômeno percebido nos fogos, nas bandeirolas e demais adereços. No mês de junho, num prisma inconsciente que remonta aos tempos medievais, comemoramos a fartura da colheita, deliciando as guloseimas oriundas do milho e do amendoim. Ademais, os concursos de quadrilha absorvem o olhar e o coração do espectador, eventos que sintetizam com louvor a grandiosidade do São João.

Voltemos ao plano inconsciente. Desde o Paleolítico, a humanidade se reúne ao redor das fogueiras para dialogar e celebrar a vida, por conseguinte, também agimos assim no São João. O fogo tem todo um simbolismo que remete à renovação, concedendo-nos luz para nos orientar perante as adversidades da vida; nesta perspectiva, sentimo-nos acolhidos e aquecidos pelo fogo sagrado e humano. No especialíssimo mês junino, três santidades extremamente populares são homenageadas: Santo Antônio, São João Batista e São Pedro.

Ilustre Leitor, por ora, permita-me abrir espaço para o eu lírico. Entre os santos supracitados, até pelo meu nome advindo do meu avô, tenho um carinho muito grande por São João Batista, sentimento que não consigo explicar numa óptica racional. Certa vez, quando tive a honra de desfrutar a fase joanina em Mucugê, ouvi o hino de São João Batista de Mucugê e determinados versos afetaram o meu interior e fizeram despontar lágrimas nas pálpebras: “Entre aqueles nascidos de mulher, surgiu ninguém maior que João Batista”.

Conforme o parágrafo anterior, dificilmente o autor não dá vazão à subjetividade; o ato de escrever é pessoal, portanto, o escritor não consegue ficar imune ao seu âmago. Este que vos escreve, tem um elo afetivo e transcendental com o São João, condição que é percebida em maior ou menor grau em muitas pessoas na nossa resiliente região Nordeste. Afirmamos que o nosso vínculo com os festejos juninos é uma celebração rebuscada de hierofania, cuja sentimentalidade não pode ser mensurada de forma empírica e racional. Enfim, façamos o seguinte questionamento: como não amar o São João?!

(Tosta Neto, 21/06/2024)

 

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