Nós,
nordestinos, ao longo do ano, esperamos ansiosamente a chegada do São João. É
até uma redundância falar o quão amamos tal festa, porém, diante do advento dos
festejos juninos, este que vos escreve, sentiu-se persuadido no âmbito
sentimental a engendrar este singelo artigo. É insofismável que o São João tem
vários requisitos que o transformam numa solenidade apoteótica.
A
musicalidade junina esbanja uma riqueza incalculável, perpassando por Luiz
Gonzaga, Mastruz com Leite e Flávio José, entre outros ícones tradicionais,
cujas letras expõem de forma fidedigna o cotidiano, a alegria e as angústias do
povo nordestino. Apesar da interferência da Indústria Cultural com o
chatíssimo e previsível “sertanejo universitário”, o cancioneiro junino resiste
com todo vigor.
Numa
perspectiva idealista, o São João deveria contar apenas com atrações musicais
que fazem jus aos festejos juninos. A propósito, faço uma menção especial ao
São João de Mucugê na Chapada Diamantina, o qual, oportuniza uma programação
essencialmente tradicional; em contrapartida, entendemos que é difícil resistir
à tentação musical que é curtida pelo grande público, logo, suscita-se a
necessidade de contratar “artistas” que estão na moda, objetivando assim, amplificar
o número de visitantes.
Nosso
amado São João é uma explosão de cores, fenômeno percebido nos fogos, nas
bandeirolas e demais adereços. No mês de junho, num prisma inconsciente que
remonta aos tempos medievais, comemoramos a fartura da colheita, deliciando as
guloseimas oriundas do milho e do amendoim. Ademais, os concursos de quadrilha
absorvem o olhar e o coração do espectador, eventos que sintetizam com louvor a
grandiosidade do São João.
Voltemos
ao plano inconsciente. Desde o Paleolítico, a humanidade se reúne ao redor das fogueiras
para dialogar e celebrar a vida, por conseguinte, também agimos assim no São
João. O fogo tem todo um simbolismo que remete à renovação, concedendo-nos luz
para nos orientar perante as adversidades da vida; nesta perspectiva,
sentimo-nos acolhidos e aquecidos pelo fogo sagrado e humano. No especialíssimo
mês junino, três santidades extremamente populares são homenageadas: Santo
Antônio, São João Batista e São Pedro.
Ilustre
Leitor, por ora, permita-me abrir espaço para o eu lírico. Entre os
santos supracitados, até pelo meu nome advindo do meu avô, tenho um carinho
muito grande por São João Batista, sentimento que não consigo explicar numa
óptica racional. Certa vez, quando tive a honra de desfrutar a fase joanina em
Mucugê, ouvi o hino de São João Batista de Mucugê e determinados versos afetaram
o meu interior e fizeram despontar lágrimas nas pálpebras: “Entre aqueles
nascidos de mulher, surgiu ninguém maior que João Batista”.
Conforme
o parágrafo anterior, dificilmente o autor não dá vazão à subjetividade; o ato
de escrever é pessoal, portanto, o escritor não consegue ficar imune ao seu
âmago. Este que vos escreve, tem um elo afetivo e transcendental com o São
João, condição que é percebida em maior ou menor grau em muitas pessoas na
nossa resiliente região Nordeste. Afirmamos que o nosso vínculo com os festejos
juninos é uma celebração rebuscada de hierofania, cuja sentimentalidade não
pode ser mensurada de forma empírica e racional. Enfim, façamos o seguinte
questionamento: como não amar o São João?!
(Tosta
Neto, 21/06/2024)
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