O excesso de picardia de um dos caciques do MDB na Bahia expôs que a base aliada do governo Jerônimo Rodrigues (PT) não consegue ajustar os ponteiros sobre a candidatura do grupo em Salvador. Em uma postagem cuja interpretação possível é a desistência de apresentar o nome de Geraldo Jr. para concorrer à prefeitura, Geddel Vieira Lima jogou água na virtual candidatura do vice-governador, apesar da expectativa de ter adicionado gasolina em fogo.
Geddel sugeriu que o nome de Antônio Brito (PSD) fosse escolhido pelo grupo, usando uma entrevista de Otto Alencar (PSD). Com ironia, disse que "se esse é o caminho para acabar essa novela e a base de Jerônimo subir a colina unida na festa do Bonfim, o MDB retira a legítima pretensão do vice-governador Geraldo Jr. e declara imediato apoio a Tony Brito". Após a publicação do ex-ministro - que ainda cumpre pena em liberdade -, houve um esforço para uma operação abafa.
Antes, no entanto, é necessário perceber que o petardo de Geddel tinha um destino: Jerônimo. Nos bastidores, é sabido que a campanha de Geraldo Jr. estaria pronta, aguardando apenas o anúncio oficial do governador. Porém ele vem empurrando com a barriga qualquer decisão e isso irrita profundamente os aliados, especialmente aqueles que são danos colaterais de uma eleição recente. O MDB se enquadra nesse papel e Geddel - apesar de fingir não ter ascendência interna - é uma das figuras a participar dos debates e colocar cartas na mesa. Agora, lançou a carta do prazo da Lavagem do Bonfim como uma espécie de ultimato.
Para evitar um prejuízo maior, o próprio Geraldo Jr. foi a público assegurar que ainda segue como pré-candidato. Depois de muita apanhar por dar com a língua nos dentes, o vice-governador aprendeu que submergir quando o assunto é a candidatura a prefeito mais o favorece do que prejudica. Ele reafirmou que mantém o próprio nome, mas, convenhamos, essa batalha interna no MDB explicita que o bate-cabeças do grupo governista não está mais restrito às salas fechadas e agora ganha contornos de lavagem de roupa suja em praça pública.
Quem também se esforçou para quase que “desdizer” o que Geddel disse foi o outro cacique do MDB, Lúcio Vieira Lima, que também já chegou a simular não ter ascendência sobre a sigla e chutou o pau da barraca para evitar que a disputa fraticida encerre o esforço para ter Geraldo Jr. nas urnas e como representante único do governo Jerônimo na capital baiana. O estrago da postagem de Geddel, todavia, pode reacender o desejo de não ter o MDB representando a esquerda em Salvador, algo que há algum tempo lideranças do entorno do governador têm tentado demover, especialmente no PT.
Aceitar ser pressionado por Geddel coloca Jerônimo em uma situação delicada frente a outros partidos da base. Essa disputa interna que se torna pública constrange os aliados e deveria, em tese, retrair a perspectiva de que Geraldo Jr. seja anunciado no futuro próximo como candidato único da base governista em Salvador. Por mais que o próprio vice e até Lúcio tenham entrado no circuito para tentar conter os danos, o estrago pode causar uma ferida mais difícil de ser cicatrizada rapidamente. Ou então o PT e esquerda - e Jerônimo - vão engolir a seco o fato de catapultar Geddel ao protagonismo político na Bahia mais uma vez.
*Bahia Notícias
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