Ao
início do Campeonato Brasileiro de 2023, poucos analistas ou entusiastas
do futebol considerariam o Botafogo como um possível campeão. No entanto, ao
longo das rodadas, o clube construiu uma campanha impressionante e sólida, que
desmoronou de forma aparentemente inexplicável durante a segunda metade do
torneio.
Existe
uma cultura no futebol brasileiro de justificar a maioria das derrotas sem um
motivo óbvio como “falta de psicológico”. Embora haja, de fato, um impacto
desse fator na derrocada do clube carioca, seria injusto e simplista reduzir
tudo a um único aspecto.
Fatores
como a perda do treinador que havia iniciado o projeto para o presente ano
antecederam a queda alvinegra e, certamente, geraram um impacto psicológico no
grupo, mesmo que não tenha se refletido nos resultados dos primeiros jogos após
o ocorrido. Em campo, a queda de desempenho torna-se evidente com a chegada do
novo treinador efetivo, sendo esta também marcada pela piora do desempenho
físico nas etapas finais de cada partida, resultando em derrotas por viradas
duras e simbólicas após inícios dominantes.
Essa
piora no desempenho físico pode ser decorrente de vários fatores, como o
desgaste ao longo da temporada em um elenco ainda em construção, a mudança na
preparação física, mudanças no nível de exigência proporcionado por um novo
esquema de jogo ou pela relação entre esses e outros fatores.
O
fato é que também houve perda de pontos em contextos inacreditáveis e de forma
sequencial, o que, sem dúvidas, afeta a parte psicológica. Assim, o que tento
propor por meio desta reflexão é a não existência de uma causalidade entre “perder
o psicológico” (termo bem discutível) e o desandar da equipe, mas uma relação
entre impactos físicos, psicológicos, desempenho técnico e tático, e até mesmo
relacionado à falta de liderança, fruto da troca contínua de treinadores, além
de declarações que buscaram justificar os resultados negativos com fatores
conspiracionais extracampo, interferindo mutuamente no desempenho esportivo da
equipe.
Uma
boa preparação psicológica pode sim contribuir e auxiliar para um melhor
desempenho, mas ela não é a única justificativa para o sucesso de uma equipe,
da mesma forma que a falta de uma boa preparação não pode ser a única razão
para o fracasso em um ambiente tão complexo e multicausal como é o esporte de
alto rendimento.
Ademais,
gostaria de expressar os meus parabéns à equipe Bicampeã nacional, Sociedade
Esportiva Palmeiras. Destaco a resiliência demonstrada ao longo do ano e o
trabalho consistente liderado pelo treinador Abel Ferreira.
(Jorge
C. Santana / Psicólogo do Esporte - CRP 03/28298)
Salvador
- BA – 07/12/2023
Texto excelente! Acredito que por mais que não tenha sido o fator psicológico o único motivo da derrota do Botafogo, se a equipe contasse com um psicólogo na as coisas poderiam ter ido por um lado diferente. A análise criteriosa e estratégica de um profissional da psicologia seria de extrema importância diante de todos os acontecimentos que permearam a trajetória do time. Digo isso pela padrão de derrota dos últimos jogos, que acabava sempre com uma jogada decisiva e desfavorável nos últimos minutos em campo.
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