quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

A QUEDA LIVRE DO BOTAFOGO NÃO PODE SER EXPLICADA SOMENTE PELA PSICOLOGIA

Ao início do Campeonato Brasileiro de 2023, poucos analistas ou entusiastas do futebol considerariam o Botafogo como um possível campeão. No entanto, ao longo das rodadas, o clube construiu uma campanha impressionante e sólida, que desmoronou de forma aparentemente inexplicável durante a segunda metade do torneio.

Existe uma cultura no futebol brasileiro de justificar a maioria das derrotas sem um motivo óbvio como “falta de psicológico”. Embora haja, de fato, um impacto desse fator na derrocada do clube carioca, seria injusto e simplista reduzir tudo a um único aspecto.

Fatores como a perda do treinador que havia iniciado o projeto para o presente ano antecederam a queda alvinegra e, certamente, geraram um impacto psicológico no grupo, mesmo que não tenha se refletido nos resultados dos primeiros jogos após o ocorrido. Em campo, a queda de desempenho torna-se evidente com a chegada do novo treinador efetivo, sendo esta também marcada pela piora do desempenho físico nas etapas finais de cada partida, resultando em derrotas por viradas duras e simbólicas após inícios dominantes.

Essa piora no desempenho físico pode ser decorrente de vários fatores, como o desgaste ao longo da temporada em um elenco ainda em construção, a mudança na preparação física, mudanças no nível de exigência proporcionado por um novo esquema de jogo ou pela relação entre esses e outros fatores.

O fato é que também houve perda de pontos em contextos inacreditáveis e de forma sequencial, o que, sem dúvidas, afeta a parte psicológica. Assim, o que tento propor por meio desta reflexão é a não existência de uma causalidade entre “perder o psicológico” (termo bem discutível) e o desandar da equipe, mas uma relação entre impactos físicos, psicológicos, desempenho técnico e tático, e até mesmo relacionado à falta de liderança, fruto da troca contínua de treinadores, além de declarações que buscaram justificar os resultados negativos com fatores conspiracionais extracampo, interferindo mutuamente no desempenho esportivo da equipe.

Uma boa preparação psicológica pode sim contribuir e auxiliar para um melhor desempenho, mas ela não é a única justificativa para o sucesso de uma equipe, da mesma forma que a falta de uma boa preparação não pode ser a única razão para o fracasso em um ambiente tão complexo e multicausal como é o esporte de alto rendimento.

Ademais, gostaria de expressar os meus parabéns à equipe Bicampeã nacional, Sociedade Esportiva Palmeiras. Destaco a resiliência demonstrada ao longo do ano e o trabalho consistente liderado pelo treinador Abel Ferreira.

(Jorge C. Santana / Psicólogo do Esporte - CRP 03/28298)

Salvador - BA – 07/12/2023

 

Um comentário:

  1. Texto excelente! Acredito que por mais que não tenha sido o fator psicológico o único motivo da derrota do Botafogo, se a equipe contasse com um psicólogo na as coisas poderiam ter ido por um lado diferente. A análise criteriosa e estratégica de um profissional da psicologia seria de extrema importância diante de todos os acontecimentos que permearam a trajetória do time. Digo isso pela padrão de derrota dos últimos jogos, que acabava sempre com uma jogada decisiva e desfavorável nos últimos minutos em campo.

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