–
Hoje não posso. Estou muito ocupado!
–
Pode ser amanhã?
–
Qual horário?
–
Às 17h.
–
Perfeito. Combinado!
–
Espero que o guarda-roupa seja bom.
–
A marca é a mesma do armário?
–
Sim.
–
Fique tranquilo. Marca de qualidade.
–
Está bem, Sandro. Te vejo amanhã. Valeu!
–
Valeu! Até amanhã.
Sandro
trabalhava numa casa comercial no interior e, nas horas vagas, ganhava “uns
trocados” montando móveis. Ele morava na casa dos pais, localizada numa
comunidade rural. Acordava sempre cedo, limpava as gaiolas dos passarinhos e
rumava para a cidade na companhia de sua moto. Às vezes, no final da tarde,
jogava futebol com os amigos no campinho de terra que ficava próximo de sua
casa. Sandro vivia em paz e não se preocupava com questões existenciais. Mas,
como “ninguém é de ferro”, de vez em quando, o jovem se via submerso numa
sensação de vazio.
Prezado
Leitor, já estamos em outro dia, logo, voltemos à montagem do móvel. Próximo do
horário marcado, Sandro enviou uma mensagem para o cliente:
#
Olá, Alex. Já estou indo.
#
Olá! Venha.
#
Valeu! (Emojis de mãos apertadas)
#
Valeu!
Durante
a montagem do guarda-roupa, Sandro e Alex teciam um diálogo bastante amistoso:
–
Você está animado para o São João?
–
Estou sim – responde Alex.
–
Espero que venha muitas gatas.
–
Amém!
–
Meu Caro, preciso dar uma arrumada no meu cabelo. Não posso ficar de qualquer
jeito para o São João.
–
É isso aí!
–
Você poderia indicar alguém? Não estou satisfeito com o meu atual cabeleireiro.
–
Hum. Tenho um nome em mente.
–
Quem? – movido por curiosidade, Sandro indaga.
–
Silvana. Apesar da pouca experiência, ela trabalha muito bem.
–
Onde fica o salão dela?
–
Ela não tem salão. Trabalha na própria casa dela com horário marcado. Anote o WhatsApp
de Silvana.
–
Número salvo. Obrigado!
–
Por nada!
Sem
delongas, Sandro reservou um horário com Silvana:
–
Seja bem-vindo!
–
Obrigado.
–
Sente aqui.
Inicialmente,
Sandro ficou em silêncio; sentia um certo nervosismo. O seu coração batia
levemente acelerado. O jovem não conseguia entender o porquê de tamanha
aflição. Por outro lado, é óbvio, Silvana estava bem à vontade; com o passar do
tempo, percebeu um ar de tensão na face de seu cliente. A profissional rompeu o
tom silente:
–
Sandro, fique à vontade para dialogar comigo. Você é meu cliente, logo, desejo
que se sinta bem – afirmou a mulher, irradiando simpatia e confiança.
–
Está bem.
–
Você mora aqui na cidade?
–
Não. Moro na zona rural.
–
Joia! Você costuma passar o fim de semana por aqui?
–
Às vezes.
–
Gosto de me divertir, mas dificilmente saio.
–
Entendi.
–
Eu me sinto tão sozinha!
Sandro
respondeu com o silêncio e pensou: “Como ela se sente só? Uma gata dessa tem
o homem que quiser. Olha só que vestido bem coladinho. Aí não tem quem aguente.
Se ela quiser ‘matar’ a solidão, eu moro aqui com ela”.
–
Sandro, como você quer o pé do cabelo?
–
Até aqui.
De
forma discreta, aparentemente, Silvana acariciou o semblante do jovem, contudo,
Sandro não deixou passar tal gesto de forma desapercebida. O jovem sentiu que o
nervosismo se extinguiu. Pairava no ar, uma energia mais descontraída entre
Sandro e Silvana:
–
Show! O corte ficou top.
–
Fico feliz que você tenha gostado.
–
Posso pagar com PIX?
–
Claro! O meu PIX é o número do WhatsApp.
–
Pagamento feito.
–
A notificação chegou aqui.
–
Obrigado!
–
Por nada. Apareça mais vezes!
–
Irei aparecer sim.
Doravante,
Sandro não parava de pensar em Silvana. No Instagram, contemplava
fervorosamente as fotos da beldade, sobretudo as de biquíni. Apesar do furor de
desejo, não se atrevia a “puxar conversa” no WhatsApp, afinal, as redes
sociais sugeriam que Silvana tinha namorado. Algumas vezes, após a labuta
diária, passava defronte a casa dela movido pela esperança de vê-la, porém,
todas as tentativas foram frustradas. Diariamente, Sandro “conversava” com o
espelho: “Meu cabelo já está grande. Vou agendar um horário com Silvana”.
O tempo passava paulatinamente e Silvana se transformou numa musa erotizada
para Sandro. Sempre, antes de dormir, numa espécie de ritual, contemplava as
fotos da cabeleireira. Enfim, com a evidência inequívoca da necessidade, Sandro
enviou uma mensagem para Silvana:
#
Olá, Silvana! Bom dia. Amanhã, eu desejaria cortar o meu cabelo.
#
Bom dia, Sandro! Desde já, tenho um horário disponível.
#
Ótimo!
#
Há tempos, você não aparece.
#
É a correria do trabalho.
#
Bem que você poderia ter mandado uma mensagem.
#
Você é muito ocupada. Não queria te incomodar.
#
Você não iria me incomodar.
#
Sinceramente, vária vezes, pensei em mandar. (Emojis envergonhados)
#
Seria muito agradável teclar contigo.
#
(Emojis de coração)
#
Ah! O horário do corte: às 22h.
#
É isso mesmo: 10h da noite?
#
Exatamente.
#
Para mim, fica complicado.
#
Então, vou desmarcar.
Sandro
concluiu: “Esse horário está péssimo; talvez ela não tenha outro horário ao
longo da semana. Também, estou doido para vê-la. Não posso perder a
oportunidade de ver a minha cabeleireira particular.”
#
Não. De jeito nenhum. Nesse horário mesmo.
#
Combinado. Não atrase um minuto.
#
Está bem.
#
Saiba que vou caprichar ainda mais no corte.
#
Sei disso. Você é uma profissional muito competente.
#
Grata pelo reconhecimento!
#
Só falei a verdade.
Ilustre
Leitor, dispensemos qualquer narração sobre o dia do jovem Sandro; de antemão,
sabemos que ele foi acometido por uma abissal ansiedade. De imediato, vamos ao
horário agendado:
–
Boa noite, Sandro! Parabéns pela pontualidade!
–
Boa noite, Silvana! Não poderia me atrasar.
–
Entre. Entre. Sente-se! Aguarde um pouco. Irei aqui no banheiro e volto.
Silvana
deixou a porta entreaberta, permitindo a passagem do vapor do chuveiro. Sandro
ficou a imaginar o corpo nu de sua cabeleireira particular. Depois de alguns
minutos, ela retornou. Sandro ficou um pouco desconcertado, pois Silvana estava
apenas de toalha.
–
Como na vez anterior, sente aqui – enquanto falava, a toalha caia.
Para
a perplexidade do jovem, a cabeleireira estava completamente nua.
–
Sandro, como você quer o corte?
–
Igual a outra vez.
–
Ótimo! Antes do corte, vou te distrair um pouco...
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