terça-feira, 7 de março de 2023

PREÇO DO OVO EM SALVADOR SOFRE AUMENTO DE ATÉ 30% EM UM MÊS

Proteína indicada para substituir a carne vermelha ou o frango quando esses itens pesam no orçamento, agora é o ovo de galinha que vai precisar de substituto. Isso porque o produto teve um aumento de até 30% em Salvador, conforme levantamento da reportagem em estabelecimentos comerciais. Nesta segunda-feira, 06, no Centro de Abastecimento da Bahia – Ceasa, o preço da caixa com 30 dúzias de ovos brancos em tamanho médio custava R$ 195,00, um aumento de 28% em relação ao preço de fevereiro, R$ 150,00.

Além disso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, mostra que o alimento na Região Metropolitana de Salvador (RMS) sofreu uma inflação de quase 18% em um ano. 

No varejo, a partir de um levantamento feito pela reportagem, foi constatado que o preço do variava de R$ 18,99 a R$ 19,99 em três diferentes supermercados na capital e de R$ 14 a R$ 20 na Feira de São Joaquim, a depender do tamanho do produto. 

Nem o Carro do Ovo, que inclusive anda sumido das ruas da cidade, o preço alivia. Nesta Segunda, na Cidade Baixa, o veículo anunciava 20 ovos por R$ 12,00, fazendo muita gente ter saudades dos tempos em que a placa com 30 custava R$ 10. Ainda assim, a versão reduzida à venda no Carro do Ovo pode ser opção para quem não tem condições de sustentar o valor atual da placa inteira. 

Pesquisa de preço

A fartura a baixo custo de outrora deixou saudades na confeiteira Nicole Sena, 29 anos, que precisa dos ovos para a realização de seu trabalho. “Você comprava na Kombizinha, na porta de casa, 30 ovos por 10 reais. Foi passando para 12, 15... O último eu comprei de R$ 18,50 e já está em R$ 19,50. Tá ficando insustentável”, lamentou. 

A placa por R$ 19,50 Nicole encontrou no Atakarejo. No Mercantil Rodrigues, o preço estava um pouco menor: R$ 18,99. Já no Hiperideal, chegava a R$ 19,99. Na Feira de São Joaquim, a placa com 30 ovos podia ser encontrada por 14, 18 e até 20 reais, a depender do tamanho, R$ 1 mais caro em comparação com os preços praticados há 10 dias. Para não ficar sem o alimento em casa, o jeito é comprar o menor, como fez a autônoma Cris Sacramento, 45. 

“Eu comprava a placa por 15 reais”, conta. “Como é que faz para se alimentar com ovo agora?! Tá ficando caro. O porquê ninguém sabe”, acrescentou.

Fatores para o aumento

Segundo Joilson Barreto, 42 anos, gerente de granja, a explicação para o aumento está na lei da oferta e da procura acionada pela proximidade da Quaresma. “Faz com que a pessoa ‘guarde’ a quarentena. Uma vez guardada, ninguém pode comer carne; só peixes e ovos, então, nesse período, os preços sobem muito. O consumo é absurdo”.

Responsável pelo boletim da Ceasa, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico – SDE afirmou que não tem uma explicação para a elevação do preço do produto. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) foi contatada, mas não deu retorno até o fechamento da edição, às 23h 

O economista Antonio Carvalho acrescenta que o aumento dos preços se dá por dois motivos ‘clássicos’: a inflação de oferta ou de custos, que ocorre quando os insumos para produzir ficam mais caros, obrigando o produtor a repassar esse custo para o consumidor final.  E a inflação de demanda, que é quando o produtor ou comerciante aumentam o preço do produto e a demanda continua alta.

“Nos últimos meses, os produtos agrícolas, entre eles o milho e a soja, bases da ração animal, sofreram aumentos, o que provocou elevação do custo de produção do ovo”, explicou Carvalho.

Variação de peso e tamanho 

Outros pontos que têm chamado a atenção da população são as diferenças existentes entre os pesos e os tamanhos dos ovos. Em fevereiro, o Ministério da Agricultura e Pecuária aprovou a uniformização da nomenclatura dos ovos em natureza e dos produtos de ovos não submetidos a tratamento térmico. 

Assim, quanto aos tamanhos, os ovos passaram a ser classificados como pequeno (menos de 47,99 gramas); grande (de 48 g a 57,99 g), extra (de 58 g a 67,99 g); e jumbo (acima de 68 g). O tipo ‘médio’ foi extinto. Agora, os estabelecimentos registrados no órgão dispõem de um prazo de um ano para se adequar às condições previstas pela medida. 

Essas variações, de acordo com a Associação Paranaense de Avicultura (Apavi), estão relacionadas com a genética e, principalmente, a idade da ave. Além disso, os ovos produzidos recebem influência do tipo de alimentação fornecida ao animal. 

Frango, peixe, carne suína e soja são alternativas, diz nutricionista 

Justamente por sempre ter sido mais em conta e, também, por ser um alimento de fácil preparação, o ovo é parte fundamental da rotina nutricional. “Ele é fonte dos principais aminoácidos que o nosso corpo necessita e pode ser utilizado em dietas tanto para a hipertrofia, como para o emagrecimento”, explica o nutricionista Lucas Mesquita. 

O concurseiro Felipe Borges, 27, por exemplo, costuma comer seis ovos por dia, mas já chegou a consumir nove, em substituição a outras fontes de proteína. “O preço das outras proteínas faz com que a gente coma mais ovo”, enfatizou. “Saudade de quando 30 ovos eram 10 reais. Agora, você não pode mais nem ser ‘maromba’”, brincou o jovem. 

Na verdade, dá, sim. Conforme Mesquita, como exemplos de alimentos que podem substituir o ovo, tem-se: frango, peixes, carne suína e soja, além de queijo e leite. “Inclusive, a carne suína e a soja são exemplos de proteínas de baixo custo atualmente”, observou o nutricionista, que ainda fez um alerta. “É de extrema importância o consumo adequado de proteínas na dieta, pois elas são responsáveis por inúmeros processos indispensáveis que acontecem no nosso organismo”.

Para a cozinheira Márcia Santos, 44, o preço do ovo está tão elevado que ela precisou tomar uma medida radical: deixar de comprar o alimento. “Ultimamente, eu não compro, porque na minha infância comer ovo era saudável e barato. Tipo: ‘Oba! Chegou na casa de uma pessoa humilde, tem ovo’. Hoje em dia, é: ‘Vamo ver se compra ovo ou frango?!’”, ilustrou. 


Quem não gostou nada da notícia foi o filho de Márcia, que é atleta. “Meu filho é fã de ovo, mas eu digo a ele: ‘Pode deixar para outro dia? Você começa a trabalhar e compra”, acrescentou a cozinheira, com mais uma pitada de humor. “Brincadeiras à parte, tá caro demais.”

*CORREIO

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