A
priori, tenho como prática a produção de artigos que contêm
singelas reflexões sobre o esporte mais popular do planeta. Após a morte de
Edson Arantes do Nascimento, o corpo que abrigou o espírito de Pelé, fui
persuadido a escrever tal texto. Prezado Leitor, aparentemente, é muito fácil
falar do Rei do Futebol, mas a tarefa em questão é deveras árdua, pois
há uma vasta bibliografia direcionada à temática em evidência. Ainda bem, que
em vida, o mais ilustre filho de Três Corações foi reverenciado com toda
justiça. Nesta análise, eu poderia salientar as incontáveis conquistas de Pelé,
todavia, tentarei seguir uma linha mais original. Indubitavelmente, este que
vos escreve, encontra-se diante de uma incomensurável responsabilidade.
O
título deste artigo não tem complemento, porque o nome Pelé traz em si
uma carga de simbolismo. Poderíamos afirmar que o termo Pelé é um
substantivo que não necessita de predicado; a palavra substantivada detém uma
série de significados que remete ao mais alto grau de grandiosidade. Mesmo
sendo um substantivo, Pelé é também um adjetivo rebuscado de virtudes.
Às vezes, de forma natural, acabamos falando que fulano é o Pelé disso, e
sicrano é o Pelé daquilo: Michael Jordan é o Pelé do basquete; Kelly Slater é o
Pelé do surf; Anderson Silva é o Pelé do MMA etc. Quiçá um dia, Pelé venha
a fazer parte do vernáculo oficial da Língua Portuguesa. O fato é que a
pronúncia de Pelé tem um peso que envereda a tudo que é nobre e
apoteótico, termo que por si só está revestido de realeza.
Por
tudo que alcançou no futebol, o Rei se transformou em parâmetro, isto é,
a baliza de comparação. Neste parágrafo, não citarei outros jogadores,
justamente para não serem equiparados ao maior de todos os tempos. É
válido salientar que Pelé é uma entidade sagrada no futebol, logo, ninguém deve
ser comparado a ele. O Atleta do Século é atemporal e universal, cujo
legado sempre será lembrado em qualquer análise tática e racional sobre a
evolução do futebol; a propósito, a alcunha anterior foi concedida ao Rei pelo
COI (Comitê Olímpico Internacional), apesar de Pelé jamais ter disputado
os Jogos Olímpicos. Voltemos ao objeto reflexivo deste parágrafo. Tal
jogador tem mais títulos que Pelé; aquele jogador disputou mais finais de Copas
do Mundo que Pelé... Enfim, Pelé é uma referência para mensurar e comparar
diversas estáticas que permeiam o futebol.
Antes
de seguirmos no nosso itinerário, façamos um adendo que será assertivo para
compreender este parágrafo. Ilustre Leitor, qualquer civilização precisa de um mito
fundador que conceda um sentido e uma explicação sobre a gênese de sua
existência; citemos dois exemplos pontuais: Abraão para os judeus e Zeus para
os gregos. Não obstante o legado valioso de craques como Leônidas da Silva (Diamante
Negro) e Zizinho, o futebol brasileiro é “fundado” em 1958, quando aquele
jovem de 17 anos teve um papel imprescindível na conquista do nosso primeiro
título mundial na Suécia. Até hoje Pelé é o atleta mais jovem a marcar um gol numa
final de Copa do Mundo. Subsequente a tal triunfo, aqui no Brasil, o maior
cronista futebolístico, Nelson Rodrigues, entronizou Pelé como o Rei do
Futebol. Aproveitando o ensejo, eis uma icônica frase de Nelson: “E Pelé
leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: a de se sentir rei,
da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem
enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento”.
Em
28 de dezembro de 2022, a despeito do estado crítico de saúde, ficamos perplexos
perante a notícia da partida de Pelé. Por mais que a morte seja algo natural,
não estamos preparados para assimilar esse terrível fenômeno. No corpo físico
de Edson Arantes do Nascimento cessou a energia vital, em contrapartida, o
espírito de Pelé está vivo na memória e nos corações dos amantes e não-amantes
do futebol. É inconteste que o futebol adquiriu tamanha envergadura por causa
da herança única de Pelé. No “Grande Livro do Futebol”, o capítulo sobre Pelé
foi, é e sempre será o mais importante. Pelé reinventou, ressignificou e popularizou
o futebol; como diria o amigo Geisson Peixoto: o futebol deve ser dividido
entre antes de Pelé (a.P.) e depois de Pelé (d.P.). Se
existirem os Campos Elísios do futebol, o trono estava vago aguardando o
advento de Pelé, o qual, protegido por Didi, Garrincha, Nilton Santos, Carlos
Alberto Torres, Eusébio, Maradona, Cruyff... Obrigado, Pelé! És Eterno!
(Tosta
Neto, 02/01/2023)
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