Em
Ratolândia, Tibério Cabral reinava envolto nos louros da estabilidade.
Neste pacato reino localizado numa ilha do Pacífico, praticamente não havia
oposição. Qualquer voz dissonante era calada com benesses advindas do Tesouro
Real; se tal voz não aceitasse o silêncio, o rei utilizava o monopólio da
força policial para aniquilá-la. Munido de uma natureza egocêntrica, Tibério
Cabral não tolerava a presença oposicionista, pois acreditava que o seu governo
era perfeito e imune a qualquer crítica. É válido salientar, que essa percepção
doentia de déspota era corroborada no dia a dia por inúmeros bajuladores mantidos
pela máquina estatal.
Apesar
do poder grandioso da engrenagem real, de quando em vez, suscitava um lobo, ou
melhor, um rato solitário opositor. Neste meandro, de forma paulatina, Ernesto
Silva foi angariando visibilidade; jovem de família ilustre, achava-se
predestinado a dissipar as desigualdades sociais no Reino dos Ratos. Seu
sermão tinha como mote a revolução popular, a qual, levaria Ratolândia ao
status de reino pautado no igualitarismo entre todos os ratos. Nas mesas de bar
e sobretudo nas redes sociais, Ernesto Silva usava um discurso simplório,
repetitivo e cheio de clichês, cujo teor foi rejeitado pelo povo e teve eco
apenas entre alguns jovens de linhagem mais nobre.
Ernesto
Silva acreditava piamente na ideologia que foi derrotada de maneira fragorosa
na Guerra Fria. As ideias em questão eram sedutoras, porque estavam alicerçadas
na defesa romântica da igualdade. Normalmente, para se promover, o ser humano
se coloca como bastião dos oprimidos para angariar capital social, logo, com
Ernesto Silva, essa máxima não seria diferente. O seu sonho era transformar Ratolândia
numa ilha idílica do comunismo; eis um mero devaneio, afinal, as experiências
socialistas desembocaram em regimes cruéis, opressores e fracassados. Todavia,
a elite acadêmica e a grande mídia ignoram os horrores cometidos pelos
ditadores comunistas no século XX.
As
falácias de Ernesto Silva chegaram aos ouvidos de Tibério Cabral. O rei dos
ratos sabia que tal ideologia não teria efeito prático, mas era imprescindível
extirpar qualquer ideário paradoxal. Certo dia, Tibério Cabral intimou o jovem
comunista para um diálogo no gabinete real e apresentou uma proposta de
trabalho no Tesouro Real. Não obstante o afeto pela ideologia, Ernesto
Silva tinha lá os seus sonhos materialistas, encarando o convite como um ensejo
para crescer no âmbito financeiro. Sem delongas, aceitou sem ressalvas a
proposta do rei; doravante, Ernesto Silva faria parte da corte real.
Repentinamente, aquele jovem comunista olvidou toda a sua ideologia,
transformando-se em um autêntico bajulador de Tibério Cabral.
Em
Ratolândia, ninguém mais ouvia falar de igualdade social e muitos se
perguntavam: onde está o Ernesto? Simplesmente, Ernesto Silva se locupletava no
cargo burocrático de fiscal do Tesouro Real, por conseguinte, o embrião
revolucionário foi ceifado pelas manobras de Tibério Cabral. Como membro da
realeza, o ex-revolucionário negou a ideologia socialista de outrora; Ernesto
Silva alegou que era adolescente e tinha sido seduzido por um ideário oco e sem
aplicação prática. É perceptível que a utopia comunista morreu no coração de
Ernesto Silva, portanto, ele não tinha mais a mínima dúvida sobre o seguinte
questionamento: ser ou não ser um revolucionário?
(Tosta
Neto, 20/01/2023)
Crítica sensacional!
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