O real saiu de março mais vigoroso do que entrou, com valorização de 8,5% na comparação com o dólar e se fortalecendo também perante outras moedas relevantes. Segundo especialistas, o mês de alta foi viabilizado por uma conjuntura cambial única, impactada pelas consequências da guerra Rússia-Ucrânia, pelo encarecimento das commodities e pela alta de juros.
Em março, com base em números oficiais do Banco Central brasileiro, o real conseguiu valorização de 9,9% com relação ao euro, 14,1% sobre o iene japonês, 8,9% sobre o Renminbi/CNY chinês, 10,1% sobre o rublo russo e 10,7% em comparação com a libra britânica.
A cotação da moeda americana no Brasil, em particular, mostra tendência de queda desde 21 de dezembro do ano passado, quando chegou ao valor de R$ 5,75. Na última quarta-feira, o dólar fechou o pregão nacional a R$ 4,71.
Juros convidativos
Denise Campos de Toledo
“A perspectiva de elevação dos juros é o fator mais importante. O Brasil voltou ao topo do ranking global e oferece uma vantagem muito grande para o investidor estrangeiro. Mesmo que os Estados Unidos cheguem à faixa de 3%, a sinalização no Brasil é que os juros cheguem a princípio a 12,75%. Mas muita gente acredita que a taxa Selic possa chegar a 13,25%. Então a gente mantém um referencial muito grande, que para o capital de curto prazo é muito importante.”
André Perfeito
“Nós temos a alta dos preços das commodities. Temos as commodities pressionadas, seja por conta da pandemia, seja por conta da guerra. O que gera um fluxo para o Brasil em dois canais. Por um lado, a balança comercial fica positiva, porque exporta commodity e a atividade econômica fraca tira a importação. Então o saldo fica bom. E também por causa do mercado de capitais. E, na medida que as commodities subirem, isso gera um processo inflacionário, que provoca a reação com o aumento na taxa de juros. Taxa de juros para cima também atrai dólar. Então é como se o Brasil estivesse exportando as duas coisas que o mundo mais gosta: commodities e taxa de juros.”
Alternativa à Rússia
Denise Campos de Toledo
“Os investidores que tradicionalmente investiam em papéis da Rússia, e é isso que buscam os investidores em países emergentes, eles destinaram investimentos para o Brasil. Nós entramos em um ambiente de incerteza por causa da guerra e mesmo assim o Brasil seguiu atraindo investimento. Inclusive, na própria semana (de começo da guerra). Era como se o mercado daqui estivesse ignorando as incertezas do mercado global.”
André Perfeito
“O bom do Brasil é que a gente está na América do Sul, longe dessa bagunça toda. Os emergentes europeus estão com a guerra em volta. Com relação à China, há dúvidas de que talvez essa questão esbarre neles, a questão da guerra. E na América do Sul também temos países com confusão. No Chile entrou um cara como se fosse o Guilherme Boulos (presidente Gabriel Boric). Na Argentina, a situação econômica é bastante difícil, para dizer o mínimo. Então o Brasil acaba atraindo, seja pela taxa de juros, ou por situações geopolíticas menos graves.”
Patamares pré-pandemia
André Perfeito
“Só que tem um outro motivo mais técnico para explicar essa queda tão forte do dólar. A gente viu ao longo de 2020, quando começou a pandemia. O dólar bateu em R$ 6, voltou em R$ 5, mas ficou lá em cima. Então agora a R$ 5, ele foi buscar os patamares da pré-pandemia. Que patamar é esse? R$ 4,50, R$ 4,60, é o patamar que está agora. Então parte dessa queda é uma correção técnica.”
Efeito eleições e teto de R$ 5
Denise Campos de Toledo
“Você tem essa polarização em relação a Bolsonaro e Lula. Eu acho que o fator Lula não mexeria tanto, mexeria se houvesse uma sinalização de uma transição que não fosse pacífica, de algum questionamento de resultado de urna. A incerteza é que traz mais preocupação para o mercado financeiro. O mercado financeiro endossaria uma terceira via, acompanha bem o Bolsonaro e lidaria bem com o Lula, que na época do governo dele não foi ruim para o mercado. Mais do que nomes, acho que o mercado vai estar muito atento a sinalizações sobre política fiscal, seja quem esteja na frente, que restabelece organização da economia para o ano que vem.”
“A gente tem uma revisão de previsão e quase ninguém conta com o dólar acima de R$ 5 no final do ano. Mesmo num ambiente com incerteza externa e interna, temos essa previsão em razão da taxa de juros.”
André Perfeito
“Está se encaminhando para um cenário em que não devemos ter uma terceira via forte. Isso implica dizer que vai estar bem polarizado. A tensão vai ser bem grande, não vai ter uma válvula de escape. É nesse sentido que minha projeção para o final do ano é R$ 5. Vai voltar para aquele patamar.”
*REVISTA OESTE
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