sábado, 27 de novembro de 2021

O REINO DOS RATOS (TOSTA NETO)

Siga no Instagram @amargosaoutroolhar

Era uma vez um pequenino reino localizado numa ilha do Oceano Pacífico. Há tempos, em Ratolândia, o trono era ocupado pelo monarca Tibério Cabral. Diferentemente da monarquia tradicional, o rei era escolhido e mantido pelos ratos mais nobres e ricos. Lá, a economia não era pujante, logo, os ratos pobres necessitavam dos cargos no aparato administrativo real; aqueles que não eram admitidos, dependiam das migalhas que caíam da mesa farta da corte. A intenção do soberano e seus asseclas era manter um nível de exacerbada dependência do povo em relação à burocracia real. Diante de tanta miséria, Tibério Cabral e a nobreza demonstravam uma crua indiferença.

No Reino dos Ratos, a carga tributária era extremamente abusiva, cuja constituição isentava a nobreza de tal ônus. Em Ratolândia, empreender configurava-se como um ato de heroísmo, onde uma parte significativa da riqueza se deslocava para o erário real. A propósito, Tibério Cabral enfurecia-se com as medidas de empreendedorismo, pois na visão dele, poderiam diminuir a dependência dos súditos no tocante ao poder real. Os ratos pobres se sentiam sufocados pelos impostos; é válido ressaltar que os tributos não regressavam à população na forma de serviços públicos de qualidade. O setor público de Ratolândia era precário e inepto; absolutamente nada funcionava, exceto a agilidade da máquina real na arrecadação de impostos. O povo estava condenado a ser refém do rei: triste povo de Ratolândia!

Tibério Cabral deveria ser cúmplice e condescendente com os atos de corrupção da nobreza. Lá no fundo, ele sabia que não podia desagradar os nobres, porque o seu poder se alicerçava nos caprichos desta oligarquia. O apetite dos ratos nobres pelo dinheiro público era insaciável. A merenda dos alunos, o transporte escolar, a reforma do hospital, enfim, nada escapava dos tentáculos da nobreza; qualquer obra pública era passível de roubo dos recursos do tesouro real. Até os ratos que não compunham a corte, não desperdiçavam a oportunidade para rapinar e levar vantagem. Ratolândia poderia ser chamada de “Reino do Peculato”. Conforme determinada realidade, Tibério Cabral se locupletava em meio a farra do dinheiro público.

Historicamente, os governantes se preocuparam com a própria imagem; é óbvio que tal lei atingiu Tibério Cabral. Na propaganda estatal, o rei era retratado como um defensor contumaz do povo. Por sinal, o Departamento Real de Propaganda adotava nas peças publicitárias uma linguagem simples e repetitiva. Nas ruas centrais e mais iluminadas de Ratolândia, outdoors esbanjavam fotografias artificiais e apelativas do rei liderando os ratos pobres. Quando discursava em público, Tibério Cabral utilizava uma oratória padronizada: tom emotivo de voz, repetição de números falsos sobre supostas medidas governamentais e promessas de incontáveis obras. Ademais, o Rei dos Ratos intentava transmitir a mensagem de político amado, portanto, vivia cercado por bajuladores sustentados pelo erário. Prezado Leitor, pasme! Em Ratolândia, bajulador é uma profissão.

Na Monarquia dos Ratos, havia eleições para certas magistraturas, assim, era do interesse do soberano que os eleitos fossem ratos de sua confiança. Para não correr riscos, o rei implementava estratégias escusas: os funcionários contratados votavam compulsoriamente no candidato real; recursos públicos eram desviados de forma deslavada para comprar votos; o Departamento Real de Propaganda disseminava um turbilhão de fake news; cédulas que continham votos de opositores eram extraviadas. Entrementes a corrida eleitoral, Tibério Cabral promovia lutas entre ratos, distribuía queijo e organizava festas de cunho carnavalesco. Logicamente, as ações supracitadas objetivavam distrair o povo perante os problemas sociais e econômicos. Eis a famosíssima e antiga política do pão e circo. O tempo passava e nada de novo sob o sol acontecia no Reino dos Ratos; um movimento cíclico que não trazia os ventos da mudança. Enfim, em Ratolândia, o rei e a corte enriqueceram absurdamente, em contrapartida, os ratos pobres viveram infelizes para sempre.

(Tosta Neto, 27/11/2021) 

 

0 comments:

CURTA!