Era uma vez um
pequenino reino localizado numa ilha do Oceano Pacífico. Há tempos, em Ratolândia, o trono era ocupado pelo
monarca Tibério Cabral. Diferentemente da monarquia tradicional, o rei era
escolhido e mantido pelos ratos mais nobres e ricos. Lá, a economia não era
pujante, logo, os ratos pobres necessitavam dos cargos no aparato
administrativo real; aqueles que não eram admitidos, dependiam das migalhas que
caíam da mesa farta da corte. A intenção do soberano e seus asseclas era manter
um nível de exacerbada dependência do povo em relação à burocracia real. Diante
de tanta miséria, Tibério Cabral e a nobreza demonstravam uma crua indiferença.
No Reino dos
Ratos, a carga tributária era extremamente abusiva, cuja constituição isentava
a nobreza de tal ônus. Em Ratolândia,
empreender configurava-se como um ato de heroísmo, onde uma parte significativa
da riqueza se deslocava para o erário real. A propósito, Tibério Cabral
enfurecia-se com as medidas de empreendedorismo, pois na visão dele, poderiam
diminuir a dependência dos súditos no tocante ao poder real. Os ratos pobres se
sentiam sufocados pelos impostos; é válido ressaltar que os tributos não
regressavam à população na forma de serviços públicos de qualidade. O setor
público de Ratolândia era precário e
inepto; absolutamente nada funcionava, exceto a agilidade da máquina real na
arrecadação de impostos. O povo estava condenado a ser refém do rei: triste
povo de Ratolândia!
Tibério Cabral
deveria ser cúmplice e condescendente com os atos de corrupção da nobreza. Lá
no fundo, ele sabia que não podia desagradar os nobres, porque o seu poder se
alicerçava nos caprichos desta oligarquia. O apetite dos ratos nobres pelo
dinheiro público era insaciável. A merenda dos alunos, o transporte escolar, a
reforma do hospital, enfim, nada escapava dos tentáculos da nobreza; qualquer
obra pública era passível de roubo dos recursos do tesouro real. Até os ratos
que não compunham a corte, não desperdiçavam a oportunidade para rapinar e
levar vantagem. Ratolândia poderia
ser chamada de “Reino do Peculato”. Conforme determinada realidade, Tibério
Cabral se locupletava em meio a farra do dinheiro público.
Historicamente,
os governantes se preocuparam com a própria imagem; é óbvio que tal lei atingiu
Tibério Cabral. Na propaganda estatal, o rei era retratado como um defensor
contumaz do povo. Por sinal, o Departamento
Real de Propaganda adotava nas peças publicitárias uma linguagem simples e
repetitiva. Nas ruas centrais e mais iluminadas de Ratolândia, outdoors esbanjavam fotografias artificiais e
apelativas do rei liderando os ratos pobres. Quando discursava em público,
Tibério Cabral utilizava uma oratória padronizada: tom emotivo de voz,
repetição de números falsos sobre supostas medidas governamentais e promessas
de incontáveis obras. Ademais, o Rei dos Ratos intentava transmitir a mensagem de
político amado, portanto, vivia cercado por bajuladores sustentados pelo
erário. Prezado Leitor, pasme! Em Ratolândia,
bajulador é uma profissão.
Na Monarquia dos
Ratos, havia eleições para certas magistraturas, assim, era do interesse do
soberano que os eleitos fossem ratos de sua confiança. Para não correr riscos,
o rei implementava estratégias escusas: os funcionários contratados votavam
compulsoriamente no candidato real; recursos públicos eram desviados de forma
deslavada para comprar votos; o Departamento
Real de Propaganda disseminava um turbilhão de fake news; cédulas que continham votos de opositores eram
extraviadas. Entrementes a corrida eleitoral, Tibério Cabral promovia lutas
entre ratos, distribuía queijo e organizava festas de cunho carnavalesco. Logicamente,
as ações supracitadas objetivavam distrair o povo perante os problemas sociais
e econômicos. Eis a famosíssima e antiga política
do pão e circo. O tempo passava e nada de novo sob o sol acontecia no Reino
dos Ratos; um movimento cíclico que não trazia os ventos da mudança. Enfim, em Ratolândia, o rei e a corte enriqueceram
absurdamente, em contrapartida, os ratos pobres viveram infelizes para sempre.
(Tosta Neto, 27/11/2021)
0 comments: