A História
atesta a incomensurável sedução que o poder exerce na humanidade. A priori, devo mencionar o clássico 1984,
cujo olhar panorâmico do Big Brother,
o Estado, é tão poderoso que devassa até a vida privada do indivíduo. Quiçá o
aparato estatal da obra de George Orwell não tenha o alcance das Big Techs. Por
ora, não abordaremos o poder das gigantes de tecnologia, outrossim, efetuaremos
uma concisa reflexão sobre um dos conceitos mais pesados na filosofia política:
o Estado. O poder do Estado-Nação
gerado e ratificado na Europa Absolutista, foi remodelado no contexto da Revolução Francesa e da 2ª fase da Revolução Industrial, ademais, houve a
ampliação deste nas experiências totalitárias do século XX, haja vista o
socialismo, o fascismo e o nazismo.
Apesar dos
pesares, é difícil conceber o meio social sem a máquina estatal, a qual detém o
controle jurídico e o monopólio da violência; estas condições, se forem
intensificadas de forma exagerada, transformarão o Estado em um Frankenstein que assassinará o seu próprio
criador. Por sinal, simpatizantes e escravos do totalitarismo veem o Estado
como o “salvador da Pátria” e o paladino da justiça social. A propósito, no
nosso fagueiro e triste Brasil, impera a mentalidade estatista, onde qualquer
proposta de diminuição do tamanho do Estado é vista como um sacrilégio. Nas terras brasilis, a privatização é uma
espécie de oitavo pecado capital.
No século XXI, o
Estado continua forte, todavia atrevo-me a sinalizar que o mesmo não tem a
envergadura das Big Techs; ei-las: Google, Facebook, Apple, Amazon e Microsoft.
Subsequente ao impacto dos e-mails, presenciou-se a expansão do Orkut e do MSN,
porém nada comparável à abrangência do Facebook, WhatsApp e Instagram. Não
esqueçamos da grandiosa influência da Google, proprietária do popular sistema
operacional Android e do “universal” YouTube. Além disso, quando se fala em
consulta sobre qualquer assunto em site de pesquisa, o nome que suscita na
mente é o Google. Nestes tempos hodiernos, as Big Techs ocupam um papel quase
onipresente na sociedade, logo não é prudente pensar as relações humanas sem
tais mecanismos.
Prezado
Internauta, discutamos também o acúmulo de poder destas gigantes, veja o
exemplo de Mark Zuckerberg, que é dono do Facebook, WhatsApp e Instagram. Eis
um monopólio de poder econômico que pode ser tranquilamente estendido ao plano
ideológico. A História nos mostra o quão é execrável e nefasta a concentração
de poder. Agora, analisaremos a questão econômica. Basta uma simples pesquisa
no navegador acerca de determinado produto para que o story e o feed do
Instagram sejam inundados de anúncios de empresas-parceiras. Esta é mais uma
fortíssima evidência do quão somos mapeados por algoritmos que nos induzem a
comprar cada vez mais, recrudescendo o poder econômico das Big Techs.
Presentemente, a
nossa sociedade tem o ciberespaço como
uma dimensão deveras importante. Às vezes, para alguns internautas fervorosos,
o mundo virtual suplanta o mundo real, os quais criam um alterego que objetiva exibir a imagem heroica de humanista devotado
à defesa enfática de todos os “oprimidos” do Universo. Inclusive, no âmbito
virtual, há um padrão ideológico dominante que é apresentado como o único
caminho a ser seguido; aquele que se atrever a transgredi-lo será cancelado e
perseguido pelo Tribunal das Redes
Sociais. É insofismável que o debate público dá-se nas redes sociais,
fenômeno que tirou o monopólio de opinião e informação da televisão. No geral,
a audiência dos canais de TV está caindo, pois as pessoas ficam mais tempo no
celular do que na televisão. Para mitigar tal efeito negativo, os canais em
questão estão a adentrar o mundo das redes e das plataformas de streaming.
Por fim,
regressemos ao título deste singelo artigo: Poder, Estado e Big Techs. Ilustre Leitor, faremos uma reflexão
enveredada para uma condição hipotética: e se o poder do Estado se atrelasse às
Big Techs? Claro que tal situação não foi consumada pelo fato das gigantes de
tecnologia serem empresas privadas, embora já testemunhamos os tentáculos
estatais atingindo-as de forma pontual. Citemos alguns exemplos oportunos: a
censura do Estado aos internautas que apresentam opiniões dissonantes que
desafiam o status quo ideológico,
fator que fere o princípio sagrado da liberdade
de expressão; na pandemia, a Google foi obrigada a enviar ao Estado a
geolocalização de cidadãos em função da incumbência obtusa de guarnecer o
isolamento social. Talvez a união supracitada não seja uma mera especulação. Se
houver o fortalecimento do elo entre o Estado e as Big Techs, observaremos o
surgimento de um aparato estatal mais poderoso que o Leviatã de Thomas Hobbes. Aguardemos o tempo histórico para engendrar
uma avaliação mais robusta. Oxalá que o Estado não se beneficie da riquíssima
gama de informações privilegiadas das Big Techs.
(Tosta Neto, 30/10/2021)
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