Fernandinho, 25
anos, nasceu e foi criado numa pacata cidade do interior. Teve uma autêntica
infância, a qual, desperta profunda saudade no seu coração. Após a conclusão do
Ensino Médio, passou a trabalhar no mercadinho da família.
Entrementes à
labuta diária, Fernandinho pensava na sua vizinha, a bela e atraente Marilene.
A proximidade entre os dois vinha dos tempos de infância; muitas e muitas vezes
brincaram de esconde-esconde e
assistiram seriados japoneses na TV
Manchete. A amizade de Marilene e Fernandinho era admirável e estendeu-se à
estadia colegial. O tempo e as circunstâncias da vida não foram capazes de
quebrar o elo que os unia. Todavia, Prezado Leitor, um fato arranhou tal elo,
porém não irei revelá-lo agora, pois esta singela crônica precisa ter o seu
devido desenvolvimento antes do ato final.
Certo dia, no
trabalho, Fernandinho foi surpreendido:
– Qual foi o total
da compra?
– 27,50.
– Está bem.
– Mais alguma
coisa?
– Sim.
Fernandinho, há tempos não conversamos.
– Estou muito
atarefado aqui no trabalho.
– Sei. Mas, tuas
noites estão livres.
– Estou dormindo
cedo – treplica Fernandinho.
– Você me
esqueceu?
– Marilene,
claro que não!
– Fico feliz.
– Impossível te
esquecer. Já te falei várias vezes e repito: você é a mulher da minha vida.
– Estou sem
palavras – as bochechas da jovem ficaram ruborizadas.
– Eu entendi e
respeitei a tua decisão.
– Grata pela
compreensão!
– Por nada.
– Fernandinho,
eu não te esqueci.
– Sério?
– Sério!
– Estou surpreso!
– Já vou, pois
um cliente já está vindo aqui para o caixa.
– Vá.
– Tchau!
– Tchau!
Depois de ouvir
a revelação de Marilene, Fernandinho mergulhou em reflexões e o lado esquerdo
do seu peito sorriu. Tentou dissipar o estado absorto com a ocupação do
trabalho. Antes de dormir, pensou: “a
vida é surpreendente. Eu acreditava que ela tinha me esquecido de vez. Marilene
é uma mulher maravilhosa. Ela foi o meu primeiro e único amor. Jamais irei
esquecê-la”.
Mais uma
alvorada se consumou. A neblina ofuscava a paisagem. Uma chuva fina “beijava” as
folhas. O frio arrepiava as entranhas. O sol titubeava a sair e lá ia
Fernandinho à labuta. Chegou mais disposto que os derradeiros dias; quiçá, por
causa da inesperada revelação de Marilene. Uma vez mais, Fernandinho é
questionado por Marilene:
– Hoje à noite,
eu desejaria conversar contigo. Você está disponível?
– Claro! Onde?
– No mesmo lugar
que nós costumávamos nos encontrar. Tenho algo muito importante para te falar.
– Vamos
conversar sobre o que mesmo?
– Pessoalmente,
eu te conto – resposta a misteriosa Marilene.
– Tudo bem.
– Às 7h30.
– Combinado!
Fernandinho nem
teve tempo para se recuperar e foi surpreendido novamente por Marilene. Durante
boa parte do dia, uma pergunta pairava na sua mente: “o que será?”. Vencido pela ausência de resposta, evitou incidir em
conjecturas: “não vou ficar pensando nisso.
Seja o que Deus quiser”. Chegando em casa, caprichou no banho, assistiu um
pouco de futebol e tomou café. Fernandinho não tirava o olho do relógio: “a hora não passa. Estou ansioso. Coração e
pernas tremem cada vez mais. Vou logo me arrumar. Vestirei a minha melhor
roupa”. Enfim, ele chegou pontualmente no local marcado. Marilene já o
esperava:
– Que bom que
você veio!
– Claro que eu
não iria faltar.
– Nós nos
encontramos aqui várias vezes. Perdi as contas – comenta a saudosa Marilene.
– Realmente. Aqui,
vivemos momentos inesquecíveis. Tenho saudades daquela época.
– Eu também.
– Marilene, o
nosso elo é forte. Somos vizinhos e fomos criados praticamente juntos.
– Você se lembra
daquela cidadezinha de barro que construímos no quintal da tua casa?
– Lembro sim.
– A adolescência
chegou e continuamos unidos.
– E acabamos nos
apaixonando. Por incrível que pareça, ninguém descobriu a existência da nossa
“amizade colorida” – risos.
– Nossos pais
eram severos; não iriam nos compreender – argumenta Marilene.
– Juntos,
descobrimos os prazeres do sexo.
– Sim. E foi
justamente aqui que perdermos a virgindade.
– A nossa
química sexual era fortíssima. Perto de você, eu explodia de tesão.
– Não explode
mais?
– Você acha o
quê?
– Sei lá.
– Claro que sim!
– exclama Fernandinho em alto e bom tom.
– Eu adorava
quando você me pegava de jeito e olhava profundamente nos meus olhos.
– Eu também
adorava. Nossa! Você era muito gostosa.
– Era?! Não sou
mais?
– Você ainda
pergunta?
– Pois é.
– Esta conversa
não está dando certo.
– Por quê?
– Eu já estou
excitado.
– Nossa!
Subsequente ao “silêncio
ensurdecedor”, espelhando tensão na face, Fernandinho indaga:
– É bom reviver
o passado?
– Por que não?
Venha! Venha! Não percamos tempo. Beije-me! Beije-me todinha!
Após a repetição
do pretérito, Fernandinho propõe:
– Largue tudo.
Fique comigo!
– Não posso.
– Termine o
noivado com Michel.
– Não é tão
simples.
– Eu sei que
você não o ama.
– Talvez eu não
sinta amor, mas eu gosto dele. Michel é um rapaz legal e bem-sucedido na vida
profissional, além de ter o apoio total dos meus pais.
– Depois dele,
você me abandonou.
– Amor, não
poderíamos continuar juntos, apesar do nosso romance ter sido às escondidas –
em tom de lamúria, argumenta Marilene.
– E por que você
traiu Michel nesta noite?
– Eu queria me
despedir de você. Digamos: uma “despedida de solteira”. A chama sexual que
tinha por você não se apagou. Eu estava louca para transar contigo novamente.
Você é o único homem que conhece todos os meus pontos fracos. Definitivamente,
você conhece os meus caminhos até o ápice do prazer.
– Uau! Minha
Gostosa, fico feliz com teu reconhecimento.
– Meu Macho, só
falei a verdade.
– Sinceramente,
apesar das futuras dificuldades, desejo te ver outra vez.
– Só o tempo
dirá. Como falam por aí: “a esperança é a última que morre”.
– Cultivarei tal
esperança dentro de mim – afirma o ainda ofegante Fernandinho.
– Muito bem!
– Você vai casar
mesmo? Tem certeza?
– Já te disse:
vou sim.
– Ele é bom na
cama como eu?
– Prefiro não
comentar – Marilene emite um sorriso meio envergonhado.
– Tudo bem. Ah! Afinal,
o que você iria falar para mim de tão importante?
– Eu desejaria
te fazer um convite.
– Faça! –
exclama Fernandinho retratando curiosidade no semblante.
– Quero que você
seja o meu padrinho de casamento.
– Padrinho de
casamento?
– Sim!
– Fico
lisonjeado.
– Você aceita?
– Preciso de um
tempo para pensar.
– Está bem. Fico
no aguardo.
Enfim, o dia do
casamento de Marilene e Michel chegou. Igreja ornamentada. Familiares e
convidados felizes. Os recém-casados cumprimentam os presentes. Michel se
dirige a Fernandinho:
– Te agradeço por
aceitar o convite para ser o padrinho de casamento de Marilene. Saiba que ela
fala muito bem de você.
– Por nada.
Felicidades para vocês.
Marilene
intervém no breve diálogo e abraça Fernandinho de forma bem efusiva:
– Meu padrinho
de casamento, grata pela presença! Você não poderia faltar!
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