A morte e a
ressurreição de Jesus Cristo têm uma importância incomensurável, pois é o
divisor de águas na história do Ocidente. Inestimável Leitor, convido-te para
efetuar uma reflexão sobre a Páscoa
tendo como horizonte o Evangelho de
Marcos. Explicitamente, o evangelista se propõe a responder a seguinte
questão: quem é Jesus? A resposta será encontrada no relato das ações de
Cristo. Na leitura de Marcos, os atos que compuseram a vida do Filho de Deus revelarão a resposta da
indagação supracitada, consagrando Jesus como a concretização da vinda do Reino de Deus.
Na sua passagem
na Terra, o Cordeiro de Deus entrou
em conflito com as autoridades religiosas e os privilegiados que comercializavam
no Templo. Sabe-se que o termo “cordeiro”, no senso comum, tem uma conotação de
passividade, contudo essa categoria não se aplica a Cristo. Voltemos ao
Evangelho. Os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei passaram a conjecturar
um meio para matar Jesus, suscitando a conspiração com um dos seus apóstolos: “Judas Iscariotes, um dos doze discípulos,
foi ter com os chefes dos sacerdotes, para entregar Jesus. Eles ficaram muito
contentes quando ouviram isso, e prometeram dar dinheiro a Judas. Então Judas
começou a procurar uma boa oportunidade para entregar Jesus” (Mc 14:10-11).
No status de Pai e detentor da
onisciência, Cristo sabia que seria traído por Judas. Ao longo da história ocidental,
Judas se transformou no ícone-mor da traição. É válido enfatizar, que o próprio
Jesus condenara o traidor: “O Filho do
Homem vai morrer, conforme diz a Escritura sobre ele. Contudo, ai daquele que
trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido” (Mc 14:21).
Anteriormente à via-crúcis, Cristo e os discípulos
fizeram a ceia, cujo ato representa a instituição da Eucaristia. Na iminência
da traição, Cristo é acometido por uma crise existencial, emergindo no seu
âmago uma sensação melancólica e temente, condição retratada por Marcos: “Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, e
começou a ficar com medo e angústia” (Mc 14:33). Apesar da estirpe divina,
a crise enfrentada por Cristo desvela a angústia da humanidade perante a morte.
Logo depois, de certa forma, Jesus assumiu uma postura estoica, porque a
vontade do Senhor seria feita e as
Escrituras seriam cumpridas. Por ora, escutemos o evangelista sobre o advento
de Judas: “Logo mais, enquanto Jesus
ainda falava, chegou Judas, um dos Doze, com uma multidão armada de espadas e
paus. Iam da parte dos chefes dos sacerdotes, dos doutores da Lei e dos anciãos
do povo” (Mc 14:43). Judas combinou com os conspiradores um sinal de
identificação: “Jesus é aquele que eu
beijar”. Tal gesto se converteu num ato pérfido que habita o inconsciente coletivo.
Após a prisão,
Jesus fora levado à casa do sumo sacerdote, onde se reuniram os chefes dos
sacerdotes, os anciãos e os doutores da Lei. As autoridades religiosas
objetivavam imputar um crime a Cristo, e o torpedearam com uma série de
questionamentos. Na maior parte do tempo, Jesus se manteve silente, mas acabou
quebrando o silêncio: “Jesus respondeu:
‘Eu sou. E vocês verão o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso, e
vindo sobre as nuvens do céu’” (Mc 14:62). A corja mencionada acima
decretou a pena de morte ao Filho de Deus,
entregando-o ao governador romano Pôncio Pilatos. Nesta época de domínio do
Império Romano na Terra Santa, o
Sinédrio estabelecia as penas, todavia, a aplicação era de incumbência da
autoridade governamental de Roma. Entrementes, Jesus foi humilhado com cusparadas
e bofetadas, atos que demonstram o escárnio com o sofrimento do outro. Na
passagem em questão do Evangelho, surge a famosa negação de Pedro a Jesus
Cristo: “Nesse instante, o galo cantou
pela segunda vez. Pedro se lembrou de que Jesus lhe havia dito: ‘Antes que o
galo cante duas vezes, você me negará três vezes.’ Então Pedro começou a
chorar” (Mc 14:72).
Prezado Leitor,
é notório que a Páscoa é marcante no
Judaísmo, tão marcante que o governador romano soltava um prisioneiro, normalmente
judeu, tendo como intento suavizar as tensões sociais. Pilatos se esforçou para
compreender os supostos crimes atribuídos a Cristo. Seguindo a tradição, o prisioneiro
Barrabás fora chamado e Pilatos propusera: Jesus ou Barrabás? Ouçamos o
evangelista: “Pilatos bem sabia que os
chefes dos sacerdotes haviam entregado Jesus por inveja. Porém os chefes dos
sacerdotes atiçaram a multidão para que Pilatos soltasse Barrabás” (Mc
15:10-11). É lógico que os chefes dos sacerdotes instigaram a multidão a escolher Barrabás pelo fato de Jesus ser mais
perigoso ao status quo, por
conseguinte, Pilatos soltou o prisioneiro e ordenou que Jesus fosse crucificado.
No caminho do calvário, os escarnecedores cuspiam, xingavam e agrediam Cristo.
Segundo Marcos, o Filho de Deus foi
crucificado na sexta-feira, às nove horas da manhã, acontecimento que marcaria
de forma abissal o Ocidente.
Ulterior as atribulações,
Jesus expirou e a cortina do santuário rasgou-se. O soldado romano que
testemunhou o derradeiro suspiro, reconheceu que Cristo era o Filho de Deus: eis o reconhecimento que
sinaliza que muitos pagãos absorveriam a mensagem cristã. Seguidamente, o rico
comerciante José de Arimatéia solicitou o corpo de Jesus a Pilatos para fazer
um sepultamento digno. Uma vez mais, recorramos ao evangelista: “José comprou um lençol de linho, desceu o
corpo da cruz, e o enrolou no lençol. Em seguida, colocou Jesus num túmulo, que
tinha sido cavado na rocha, e rolou uma pedra para fechar a entrada do túmulo. Maria
Madalena e Maria, mãe de Joset, ficaram olhando onde Jesus tinha sido colocado”
(Mc 15:46-47).
No domingo, bem
cedo, Maria Madalena, Maria (mãe de Tiago) e Salomé compraram perfumes para
ungir o corpo de Jesus. Quando chegaram no túmulo, perceberam que a pedra tinha
sido retirada e ficaram estupefatas, não obstante, o anjo do Senhor lhes disse:
“‘Não fiquem assustadas. Vocês estão
procurando Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou! Não está
aqui! Vejam o lugar onde o puseram’” (Mc 16:6). A ressurreição de Jesus
Cristo provou a sua divindade e cunhou uma nova era na história. Doravante,
caberia aos discípulos propagarem as boas-novas
pelos quatro cantos do mundo. A Palavra de Cristo continua viva e vigorosa,
orientando o itinerário existencial de inúmeros fiéis e admiradores. Os
ensinamentos de Jesus Cristo têm alicerces atemporais e universais, cujo princípio
de fé permanecerá sendo o norte para uma parcela significativa da humanidade.
(Tosta Neto, 04/04/2021)
0 comments: