Inverno. Neblina.
Silêncio quebrado pelo vento. Alta madrugada. Enquanto isso, num rincão da
Bahia...
“Não consigo dormir. Estou tão triste e carente.
Ainda não superei o término do namoro. É compreensível, afinal, só tem dois
meses que Mirela terminou comigo. Vou distrair um pouco nas redes sociais.
Aproveitarei e apagarei as conversas antigas do Facebook. E esta mensagem aqui: ainda não respondi.
Nossa! Faz três anos que foi enviada. Eu deveria ter respondido, mas
infelizmente não vi. Antes tarde do que nunca.”
# Olá, Roberta. (“Ela já visualizou e está digitando.”)
# Olá, Fabinho.
Quanto tempo?!
# Realmente. Já
tem uns dez anos que não te vejo.
# Vim para
Salvador cursar Odontologia e estabeleci vínculos profissionais por aqui.
# Neste longo
intervalo, não tivemos contato presencial nem virtual.
# Sim.
# Não imaginei
que você responderia a mensagem em plena madrugada.
# Ultimamente,
venho tendo insônia.
# Eu também,
Roberta.
# Problemas
pessoais estão afetando a minha paz espiritual.
# Somos dois.
(Emojis de tristeza)
# Fabinho, o que
aconteceu?
# Término de
namoro.
# Lamento muito.
Você é um rapaz bonito! Logo, logo, encontrará alguém.
# Obrigado!
(Emojis de vergonha)
# E você?
Trabalhando? Estudando?
# Como você sabe
muito bem, desde a época do Ensino Médio, eu não levava muito jeito para os
estudos. Fiz um curso técnico de eletrônica e trabalho como autônomo.
# Claro que
lembro! Fomos colegas de sala nos três anos do Ensino Médio.
# Exato.
# Saudades
daquela época. (Emojis de coração)
# Eu daria tudo
para revivê-la. Como falam por aí: “eu era feliz e não sabia”.
# Eu também.
Infelizmente, não podemos voltar no tempo. (Emojis de choro)
# O tempo é
cruel! Passa sem piedade.
# Vivíamos sem
preocupações. Que tempo bom! Eu adorava os seminários. Você “matava” aula para
jogar futebol.
# Bem lembrado.
(Emojis de coração e bola de futebol)
# Havia muita
paquera.
# A melhor
parte. (Emojis de risos)
# Nós paqueramos
muito.
# Sim! Porém, no
3º ano, você passou a namorar George, e eu “fui jogado para o escanteio”.
# Fabinho, nem
sei o que te dizer. (Emojis de tristeza)
# Fique
tranquila. Já passou. Éramos apenas adolescentes.
# Eu me
apaixonei por ele. Namoramos e logo depois casamos.
# Eu acompanhava
tudo. Via as fotos de vocês no Facebook.
Passou muito tempo, mas não te esqueci.
# Estou aqui sem
palavras.
# Pois é. Vou
ficando por aqui. Depois conversamos mais.
# Não vá! Fique
um pouco mais.
# Roberta, já
são quatro da manhã.
# Está bem. Você
poderia me passar o teu WhatsApp?
# Claro. Amanhã,
envio para você.
# Joia.
# Tenha uma
ótima noite! Foi um imenso prazer teclar contigo.
# Boa noite! O
prazer foi todo meu. Até! (Emojis de beijos)
# Até! (Emojis
de beijos)
Antes de dormir,
Fabinho mergulhou no mar das reflexões...
“A conversa foi agradável. Em questão de pouco
tempo, ela solicitou o meu WhatsApp.
Roberta foi a grande paixão da minha adolescência. Não namoramos sério, porém
tivemos muitos e muitos encontros. Jamais a esqueci, afinal ela me batizou nos
prazeres do sexo. Eu gostava muito dela, mas não existia uma recíproca
sentimental. A atração física entre nós era bastante forte. A nossa química na
cama era surreal. Creio que ela me via como um objeto sexual; eu não me
importava com tal condição. O prazer que ela me proporcionava superava tudo.
Toda vez que falava de namoro sério, Roberta se esquivava, porém quando
marcávamos para transar, ela não colocava dificuldade. Estas lembranças estão
muito vivas na minha memória; até parece que foi ontem. Na cama, Roberta era
uma leoa. Eu era dominado por completo. Após um tempinho, equilibrei as forças.
Ela ficava louca quando eu a colocava numa posição mais submissa. Tantas e
tantas vezes sonhei com Roberta consumindo o meu corpo. As transas que tive com
outras mulheres foram marcadas por aparições de Roberta na minha mente...”
Os raios solares
das dez da manhã rompem o vidro da janela e atingem o semblante de Fabinho, todavia,
não foram capazes de acordá-lo. Tal sono só foi interrompido pelo despertador
do celular. Antes de levantar, sem delongas, enviou o número do WhatsApp para Roberta. Tomou banho,
almoçou e foi atender os clientes. Fabinho morava sozinho. A casa de seus pais
localizava-se na mesma rua. Nos finais de semana, jogava futebol e pescava no
sítio do avô paterno. Subsequente a labuta vespertina, saboreou uma cerveja no Bar do Osmar. Chegando em casa,
consultou as notificações do celular: “número
desconhecido no meu WhatsApp; será
que é Roberta? – Movimento rápido nos dedos e ansiedade transparecendo no
olhar – É sim! Vou aproveitar que ela
está on-line e responderei de imediato:
# Olá, Roberta!
Só vi tua mensagem agora.
# Está bem. Sem
problema.
# Como foi o teu
dia?
# Muito
trabalho. E o teu?
# Tranquilo.
# Joia.
# Vou aqui tomar
banho.
# Nem me chama.
# ?????? (Emojis
pensativos)
# Traduzindo:
não vai me convidar para tomar banho contigo? (Emojis de diabinho)
# Venha. Estou
te esperando. Será maravilhoso.
# Irei no final
de semana. Pode ser?
# Você está
falando sério?
# Claro que sim!
Chegarei no sábado, às 14h00.
# Roberta, onde
iremos nos ver?
# Na hora,
decidimos. Passo na tua casa para te pegar.
# Combinado! Eu
moro na rua Nelson Rodrigues.
# Qual é o
número da tua casa?
# 7.
# Vá. Sobre o
banho: deixemos para o sábado.
# Está bem. Até
mais. Beijos.
# Beijos
molhados e calorosos. (Emojis de beijo e fogo)
Temperatura
invernal. Chuva fina e ininterrupta. Reflexões fluem durante o banho: “será que ela vem mesmo? Estou aqui
incrédulo. Ela tem muitas ocupações em Salvador. Se ela vier, ficaremos apenas
no bate-papo? Creio que ela não venha”.
A semana passou
relativamente rápido. Na sexta à noite, Roberta entrou em contato com Fabinho:
# Boa noite,
Fabinho! Tudo certo para amanhã.
# Boa noite,
Roberta! Combinado.
O mundo mental
de Fabinho é dominado por uma mistura de dúvida e ansiedade: “continuo acreditando que Roberta não virá.
Por outro lado, se ela não viesse, não confirmaria comigo. Não vejo a hora de
rever a minha maior paixão adolescente. Só de pensar, meu coração fica
acelerado. Estou muito ansioso. A noite vai demorar de passar. Preciso pensar
em outras coisas: futebol, trabalho, pescaria... Meu Deus, ajude-me...”.
Desta vez, os
raios solares foram capazes de interromper o sono de Fabinho: “vou consultar o celular. Nossa! Já são dez
da manhã. Mensagem de Roberta: ‘#Bom dia! Já estou saindo de Salvador.’ Contrariando
a lógica da ansiedade, eu dormi bastante. Obrigado, Meu Deus! Vou fazer umas
coisas aqui para tentar acelerar o tempo”.
Os afazeres
foram findados. Fabinho andava para lá e para cá. Frequentemente, observava o
relógio de parede da cozinha. São 13h30. Pensou: “esses 30 minutos serão eternos”. A cada segundo consumado, a
ansiedade aumentava e o coração batia mais forte. Às 14h07, três toques na
porta:
– Fabinho!
Fabinho!
– Olá, Roberta!
Entre. Entre. Fique à vontade.
– Obrigada.
– Nem acredito
que você está aqui.
O diálogo fluiu
até ser desvanecido pela corporificação das memórias da adolescência.
– Nossa! Você
ainda é aquela Roberta de antigamente, porém melhorada pelo tempo. Você
continua sendo aquela leoa na cama.
– O tempo
passou, mas a nossa química sexual continua fortíssima. Você me deixa sem
fôlego. Quando estávamos transando, doces e quentes lembranças vieram na minha
mente. Há tempos, não tenho uma transa tão gostosa.
– Roberta, vamos
resumir tudo neste encontro?
– Claro que não!
Virei aqui outras vezes.
– E George?
– Não entremos
nessa questão de moralidade. Já que você trouxe à tona, precisarei esclarecer.
– Certo.
– Meu casamento
está em crise. George caiu na zona de conforto. Não me surpreende mais em nada.
Tudo muito previsível. Um marasmo total! Estou cansada desta rotina entediante.
Quero viver! Quero sentir o sangue quente do prazer correndo nas minhas veias.
Quero sentir meu coração palpitar antes e durante o sexo. Quero sentir o suor
frio após o gozo.
– Estou aqui
para te satisfazer. Serei teu escravo sexual.
– Ótimo!
Continuarei sendo a tua leoa na cama.
– Que maravilha!
– Teremos muitas
aventuras.
– Roberta, estou
feliz, afinal, a nossa paixão adolescente renasceu.
– Gostei do
termo: “paixão adolescente”. Não percamos tempo. Beije-me! Beije-me! Ainda não
estou saciada...
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