Antes
da explanação temática, precisa-se delimitar o horizonte teórico do termo esquerda. Prezado Leitor, não efetuarei
uma reflexão sobre tal conceito, pois não é o objetivo deste artigo.
Historicamente, a divisão partidária entre direita
e esquerda remete à Revolução
Francesa. Entendamos a esquerda como
uma linha ideológico-partidária ligada ao pensamento socialista e progressista,
cujo marxismo é o principal alicerce.
De forma inequívoca, a maioria das pessoas, sobretudo os mais jovens, tendem a
ter uma simpatia natural pelos preceitos da Ideologia
de Esquerda. O indivíduo nem precisa ler O Manifesto Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels para se intitular
como militante. Ademais, os mecanismos de influência do pensamento, haja vista
o meio acadêmico e a grande imprensa, têm o predomínio da Ideologia de Esquerda. Aqui no Brasil, até pouco tempo, era um
sacrilégio contestar o status quo do
pensamento esquerdista; o indivíduo tinha pejo e constrangimento ao flertar com
a direita.
O
adepto da esquerda se sente ungido
por um senso de superioridade moral, ou seja, ele sempre tem as melhores
intenções na defesa de todos os oprimidos. Apenas o esquerdista está apto para
lutar em prol dos anseios das minorias e dos mais pobres, além de ter uma visão
altaneira e libertária acerca do curso da história humana. O militante em
questão também traz consigo uma moralidade circunstancial: se um membro do clã
ideológico tiver uma atitude reprovável, suscita-se um silêncio seletivo. Eis o
modus operandi da esquerda: não importa o que é falado e
praticado, mas quem falou e praticou. Para o esquerdista tudo é permitido:
mentir, esbravejar, agredir, cuspir, xingar, etc. O senso de superioridade moral
chancela sua verborreia e seus atos, afinal, existe um sentido nobre que
legitima tudo: o “bem ao próximo” e a
“luta pela causa coletiva”.
Categoricamente,
o esquerdista ostenta uma aura salvacionista, porquanto parte do pressuposto
que o mundo só será salvo quando sua ideologia for implantada. O salvacionismo
supracitado baseia-se numa teoria sedutora e simplória. Sem esforços
hermenêuticos, o noviço já domina a miscelânea de jargões esquerdistas: “o
burguês opressor”, “a elite machista, branca e racista”, “o imperialismo
americano”, “a mídia golpista”, “Lula livre”, entre outros. A intelligentsia repete incessantemente
esses clichês até serem absorvidos pelos asseclas. O recém-militante aprende a
ideologia por osmose, relegando uma análise mais robusta e meticulosa. Não é
preciso um longo itinerário existencial para aderir ao pensamento de esquerda.
Quase que num passe de mágica, o fulano se autodenomina militante esquerdista;
não é à toa, que os mais jovens têm uma predisposição maior em abraçar a causa
socialista.
Se
não bastasse o senso de superioridade moral e o dom da salvação, o esquerdista
se acha mais inteligente que os meros mortais que ainda não aderiram os
mandamentos da bolha ideológica. Além disso, não há a necessidade de um estudo
criterioso para assimilar o paradigma esquerdista, basta repetir mecanicamente
os bordões vomitados pela intelligentsia.
A leitura dos clássicos do pensamento socialista não tem a mínima relevância. É
válido enfatizar que, quando um locutário critica um governo alinhado ao
socialismo ou exalta o progresso tecnológico potencializado pela Revolução
Industrial, ouve a previsível resposta: “você é um alienado; vá estudar
história”. O esquerdista se coloca como supremo detentor da intelectualidade:
só ele está certo e os demais, todos errados. Os ensinamentos da cartilha
esquerdista estão acima de Deus, da Pátria e da Família e jamais devem ser
retrucados, por conseguinte, é uma profanação fazê-lo.
O
fato é que o esquerdista tem um apego exacerbado à ideologia e não pondera a
retumbante discrepância entre teoria e prática. É notório que na aplicação de
um sistema teórico no campo da práxis, há deturpações e adaptações.
Curiosamente, Marx e Engels, na obra A
Ideologia Alemã, fizeram uma crítica devastadora à ideologia,
considerando-a uma falsa consciência:
“desse modo, os fantasmas que se formam
nos cérebros humanos são, necessariamente, sublimações de seu processo de vida
material, que é verificável empiricamente e fundado em premissas materiais.
Portanto, a moralidade, a religião, a metafísica, assim como todo o resto das
ideologias e suas formas correspondentes de consciência, não conservam mais o
seu semblante de independência”.
Indubitavelmente,
o marxismo critica a ideologia, não
obstante, os esquerdistas se jactam em defender um sistema ideológico que
revolucionará a história. Por sinal, a história nos mostra que algumas experiências
socialistas no século XX, converteram-se em ditaduras genocidas, entre as
quais, a Rússia de Stalin, a China de Mao Tsé-Tung e o Camboja de Pol Pot. Apesar
dos pesares, é conveniente ao ideário de esquerda o esquecimento desses regimes
totalitários (mais um exemplo de silêncio seletivo). Enfim, a máscara humanista
e circunstancial da Ideologia de Esquerda
continuará seduzindo a mentalidade de certas pessoas que almejam atingir o
status de heróis que salvarão a humanidade de todo o terror engendrado pelo
“malvado” capitalismo.
(Tosta Neto, 08/12/2020)
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