O especialista em período eleitoral participou do programa Direto ao Ponto e analisou as eleições municipais de 2020 e ainda projetou como serão as eleições de 2022, principalmente para a presidência da República
Entramos na última semana de campanha política de 2020. No próximo domingo, dia 29 de novembro, alguns eleitores voltam às urnas para decidir quem governará a prefeitura de seus municípios pelos próximos quatro anos. E para analisar o cenário do primeiro turno e projetar o que deve ocorrer no segundo turno, o cientista político Antonio Lavareda, um dos maiores especialistas em comportamento e marketing político, análise e pesquisa eleitoral, participou do programa Direto Ao Ponto, da Jovem Pan, nesta segunda-feira, 23. De acordo com ele, as eleições municipais de 2020 evidenciaram um protagonismo da centro-direita. “Essa eleição assinalou a vitória da direita. No conjunto dos partidos classificados como direita, eles ganharam 755 prefeituras. A esquerda e o centro perderam. Nas capitais, a esquerda tinha 9 em 2016 e agora deve ficar com 5. Os partidos do centro reduziram de 12 para 8 e os de direita, crescem de 5 para 12. Tivemos uma forte expansão da direita nas capitais, nos grandes municípios e na totalidade dos municípios. Nós tivemos uma eleição mantenedora, mas que trouxe diversas novidades, entre elas um grau de diversidade grande: mais mulheres, mais pardos, negros e mais pessoas do segmento LGBT+ nas Câmaras”, disse.
Apesar de apontar a vitória da direita, Lavareda apontou o crescimento da esquerda na corrida pela prefeitura de São Paulo, mas não acredita que ela vá se concretizar nas urnas. “Ocorreu uma substituição do PT pela candidatura do PSOL. Ao que parece, houve um equivoco do PT e de sua candidatura. Não houve uma grande reflexão a respeito e o partido foi ultrapassado por Guilherme Boulos. Essa ultrapassagem traz uma novidade e gera um apoio que está sendo evidenciado no segundo turno. O eleitorado de São Paulo está submetido a opções cruzadas. Há o elemento de apoio do governador João Doria à Bruno Covas, a longevidade do PSDB à frente do estado … Tudo isso combinado gera uma tensão, mas acho que a eleição tende a ser resolvida dentro desses limites = centro direita com 60% e a esquerda com 40%”, afirmou o cientista.
Questionado sobre o porquê alguns candidatos de esquerda não quiseram inserir Luís Inácio Lula da Silva em suas campanhas para prefeito, Lavareda enfatizou que o ex-presidente não tem mais a força que demonstrava anteriormente. “Não acredito na recuperação da força do Lula. É difícil ver a recuperação eleitoral de lideranças políticas. Acho que o ex-presidente continua a ser a grande figura do PT e da esquerda brasileira. O Lulismo é maior do que o Petismo. Mas Lula não é mais aquele personagem quase mítico e com o peso que tinha em 2010 e provavelmente não voltará a sê-lo. Ele continua sendo uma figura referencial, mas o PT e a esquerda, para assegurarem vitórias nas próximas eleições, precisarão se fixar em novos nomes. O período eleitoral do presidente Lula já passou”, ressaltou.
Projeções para as eleições presidenciais de 2022
Antonio Lavareda apontou que a ausência do discurso ideológico como vencedor dessas eleições pode ser um indicativo do que acontecerá nas eleições de 2022, principalmente no âmbito presidencial. “Todas as eleições municipais são eleições intermediárias, que refletem alguma coisa do pleito anterior e projetam tendências ou sinais do que pode ocorrer a diante. As eleições de 2018 foram eleições críticas. Podemos pensar, a eleição de 2022 será uma réplica das principais características de 2018? Ou vai ser uma eleição regressiva? Traços de 2018 não tiveram continuidade nesse ano. A posição ideológica foi menos utilizada, militares não tiveram muito sucesso, os partidos de centro-direita cresceram e o que sinaliza é que eles terão um peso maior em 2022. A televisão também voltou nesse pleito a ter sua importância reconhecida e constatada. Por isso, a eleição de 2022 pode ser contra desviante, mas não significa que exclui a chance de Jair Bolsonaro de reeleição. Em todos os casos, os presidentes candidatos a reeleição se saíram bem, então ele é um provável vitorioso, mas não significa um vitorioso concreto”, afirmou.
Perguntado sobre a confiabilidade da urna eletrônica, Lavareda reafirmou a segurança do processo, mas acredita que discussões sobre voto impresso ou voto duplo (papel e eletrônico) são válidas. “Desde 1996 não há nenhuma evidencia concreta ou plausível da violação da vontade dos eleitores nas urnas eletrônicas, mas isso não pode ser dogmático. A sociedade tem todo o direito de discutir o modelo de eleição e é uma discussão que deve ser encarada como normal”, disse. O cientista político, no entanto, deu seu parecer sobre a obrigatoriedade do voto. “Está na hora do Brasil dar um passo a diante e adotar o voto facultativo. Ele não deve continuar a ser obrigatório, é um ferrão nas costas do eleitor. O voto não pode ser compulsório. Está na hora de uma reforma política que inclua o voto facultativo”, finalizou.
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