domingo, 12 de julho de 2020

DEMOCRACIA BRASILEIRA: PERSONALISMO E DECADÊNCIA DOS PARTIDOS (TOSTA NETO)

A democracia brasileira: um eterno embrião – Clique Diário

Nos últimos tempos, a democracia jamais fora tão exaltada; virou “modinha” nas redes sociais ser um defensor da democracia. Este regime político surgira no século V a.C., em Atenas, no reverenciado período clássico da história grega. Clístenes, considerado o “pai da democracia”, empreendera uma grande reforma política, incluindo no corpo de cidadãos alguns estrangeiros e ex-escravos, dividindo-o em agrupamentos administrativos, os chamados demos, termo que adquiriu o significado de “povo” ou “maioria”. Cracia vem de Cratos, que quer dizer “poder”. Teoricamente, eis o governo do povo, o poder da maioria. A reforma de Clístenes aumentara a representação social na Assembleia Ateniense. No mundo grego, os políticos deveriam zelar pela democracia, além da primazia do bem comum, por conseguinte, o político é aquele que encara a coisa pública como algo sagrado. O bem comum é a bússola dos verdadeiros políticos (autênticos democratas).
Recentemente, os meios de comunicação noticiaram várias matérias sobre movimentos favoráveis à democracia. Os entusiastas do fascismo imaginário se colocaram como baluartes na luta pelo movimento democrático. Não nego que foi comovente testemunhar o empenho de algumas torcidas organizadas na defesa da democracia. Desejaria presenciar, em dia de clássico, um torcedor com a camisa do time do coração no meio de uma torcida rival. Eis a questão: será que o espírito fraternal e democrático afetaria esses torcedores? Ademais, assistimos o recrudescimento dos ANTIFA, estes também se autodenominaram os paladinos da democracia. Curiosamente, em Londres, asseclas do movimento supracitado picharam a estátua de Winston Churchill. Quem conhece minimamente a história do século XX, sabe o quão Churchill fora um ferrenho opositor do nazifascismo e um bastião contumaz da democracia.
Doravante, centralizaremos a nossa singela reflexão na conjuntura política do Brasil. Há tempos, no nosso país, o termo político angariara uma série de adjetivos negativos no léxico do imaginário popular: corrupto, ladrão, incompetente, oportunista, etc. Ser político é o símbolo daquilo que há de mais sórdido na sociedade. As adjetivações elencadas foram guarnecidas pelos incontáveis casos de corrupção, haja vista o Mensalão e o Petrolão. Certos militantes esbravejam por aí que estes últimos não existiram: “é tudo invenção da mídia golpista”. É válido enfatizar que o alcance das redes sociais potencializou a identificação e a notoriedade de políticos corruptos. Recordemos que a Operação Lava-Jato devassou e expurgou a classe política corrupta, abrindo fraturas descomunais que enfraqueceram os partidos.
Insofismavelmente, o povo não se sente mais amparado pelos partidos, porquanto os mesmos privilegiaram os anseios de filiados e sectários. Os partidos perderam de vez a mínima representação popular que ostentavam num pretérito recente. A conjuntura de descrença partidária engendrou um vácuo de poder, espaço que está sendo ocupado pelo personalismo. Recorramos ao dicionário Caldas Aulete: “personalismo (per.so.na.lis.mo) sm. 1 Qualidade do que é pessoal. 2 Tendência a impor os critérios ou as vontades pessoais”. O sistema partidário do Brasil é caro e ineficiente, uma miscelânea caótica superior a 30 partidos que apresentam poucas diferenças entre si e consumem bilhões de reais oriundos do fundo partidário. Se não bastasse a elevadíssima, abusiva e sufocante carga tributária, o povo ainda fica com o ônus de sustentar essa horda de partidos abjetos.
O vazio deixado pelos partidos foi preenchido pelos políticos. Eu poderia listar várias raposas políticas, não obstante, limitar-me-ei a citar os nomes mais expressivos. Comecemos, obviamente, com o Presidente Jair Bolsonaro (sem partido), candidato pelo desconhecido PSL, que atingira uma projeção tão somente pela onda bolsonarista na derradeira eleição (2018). O PT, não tem mais a força de outrora, pois transformou-se num títere dos caprichos e embustes de Lula. O histórico PDT de Leonel Brizola, ofuscado pela figura dúbia do eterno candidato a presidente Ciro Gomes. O DEM, antigo PFL, é apenas a sigla partidária de ACM Neto, Maia e Alcolumbre. Hodiernamente, a democracia solapou-se ainda mais pelo tóxico personalismo, cuja parte expressiva do eleitorado tem como parâmetro a falácia do líder político.
O eleitor não prioriza o projeto propositivo da candidatura, outrossim, suscita a identificação pessoal com o candidato. O presente estágio da nossa democracia abre uma brecha ao nocivo populismo, fenômeno político tão recorrente na América Latina, vide o peronismo na Argentina e o getulismo no Brasil. É oportuno relembrar que o descrédito dos partidos deve-se também aos sucessivos escândalos de corrupção. Nem a maldita pandemia do Coronavírus conseguiu defenestrar, pelo menos temporariamente, a praga da corrupção, por sinal, já assistimos o advento de mais um escândalo de desvio e ingerência de recursos públicos: o Covidão. É nítida e grave a doença que acomete a democracia brasileira, cujo personalismo está entre os seus sintomas mais icônicos e deletérios.

(Tosta Neto, 12/07/2020)

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