Computadores. Ar-condicionado.
Burburinhos. Vai e vem de funcionários e estagiários. Chamadas ininterruptas de
telefone. Eis o cotidiano de trabalho do jovem Marcos no setor de recursos
humanos duma empresa privada.
Marcos se destacou na trajetória
escolar e acadêmica, por conseguinte, de imediato, foi absorvido pelo mercado
de trabalho. Na época da faculdade, começou a namorar com uma colega de curso, Tatiana,
que viria a ser sua esposa.
O casamento interrompera o desfrute
das delícias da vida de solteiro. Marcos não se sentia arrependido, pois
escolheu a opção do matrimônio. Vivia feliz com a honrada esposa, todavia, às
vezes, era espetado pelo vazio da existência.
Marcos trabalha no treinamento de
jovens estagiários. Ele gosta bastante de sua função e ainda não foi afetado
pelo tédio. Diariamente, demonstra disposição e comprometimento. Antes do
advento na empresa, o estagiário passa por uma concisa entrevista:
– Bom dia.
– Bom dia.
– Teu nome?
– Clara.
– Eu sou o Marcos. Seja bem-vinda a
nossa empresa.
– Obrigada!
– Qual é a tua perspectiva aqui?
– Desejo adquirir experiência e
qualificação para que eu tenha mais condições na conquista duma vaga no mercado
de trabalho.
– Muito bem!
– Mas, acima de tudo, desejo
aprender.
– O aprendizado é fundamental para
o ser humano em qualquer época e em qualquer lugar. É algo universal!
– Sem dúvida!
A entrevista se estendeu por alguns
minutos até Marcos sinalizar o encerramento:
– Clara, entrevista finalizada.
Grato pela atenção!
– Por nada! Eu que te agradeço.
– Até breve.
– Até!
Passaram-se uns dias.
Paulatinamente, Clara foi se aproximando cada vez mais de Marcos. Nos
intervalos, ela sempre o procurava. Marcos se sentia um pouco envergonhado,
afinal, estava no espaço de trabalho e Clara era uma jovem linda e
deslumbrante. Tamanha beleza usurpava olhares explícitos e discretos. Clara também
era mui charmosa, impecável na maquiagem e exalava carisma e humildade. Ela
principiou a disparar umas indiretas para Marcos:
– Teu perfume é maravilhoso!
– Obrigado – o semblante de Marcos
ficou visivelmente ruborizado.
– Tua presença é muito agradável.
Breve silêncio:
– Marcos, não fique sem graça. Só
falei a verdade.
– Com licença. Preciso falar com o
meu diretor.
– Vá. Não demore.
Intervalo da manhã:
– Fiquei com saudades – comenta
Clara.
– Tenho que ir.
Intervalo da tarde:
– Você está fugindo de mim?
– Não.
– Toda vez que venho falar
contigo, você apresenta uma desculpa.
– Coincidência.
– Você tem certeza?
Após um silêncio desconcertante,
Marcos responde sem convicção:
– Tenho.
– Marquinhos, você poderia me
passar o teu WhatsApp?
– Tchau – ele saiu tão
apressadamente que Clara nem pode responder.
Marcos estava desnorteado. Quando
Clara se aproximava, ele transpirava nervosismo. Ela percebia o quão Marcos se envergonhava.
Mais um intervalo:
– Não desistirei de você. Não
adianta fugir de mim.
Outro intervalo:
– Até no inferno irei atrás de
você.
Quarta-feira. Mais uma jornada de
trabalho concluída. A empresa se encontrava praticamente vazia. Marcos vinha
distraído no corredor quando foi surpreendido:
– Olá Marquinhos!
Ele ficou tão assustado que não
teve força para responder:
– Eu quero você. Não aguento mais!
Clara dava um passo para frente a
cada recuo de Marcos. Todavia, “no meio do caminho tinha uma” parede:
– Agora não tem como você fugir.
Clara o agarrou:
– Beije-me! Beije-me!
– Pare. Você está louca. Alguém
pode nos ver – Marcos a empurrou de forma abrupta.
– Qual o problema?
– Eu tenho um nome a zelar aqui na
empresa.
– Beije-me! Beije-me!
– Não.
– Só um selinho.
Marcos aproveitou um descuido de
Clara e correu desvairadamente. No dia posterior, ele não compareceu ao
trabalho.
Sexta-feira. Intervalo da manhã:
– Ontem, senti muito a tua
ausência.
Marcos não falou absolutamente
nada.
– Fale alguma coisa.
– Não.
– “Não” já é alguma coisa.
– Você vai me enlouquecer.
– Essa é a minha intenção.
– Você é louca.
– Sou sim. Louca por você.
– Você ainda assume.
– Claro! Estou louca para provar teus
beijos deliciosos.
Um “silêncio ensurdecedor” paira no
ar:
– Nunca.
– Uma resposta tão simples e você
demorou para responder.
– Pois é.
– Quero sentir os teus lábios
deslizando pelas curvas do meu corpo.
– Você está me infernizando.
– E vou infernizar muito mais.
– Você é um demônio.
– Não precisamente. Mas, sou a tua diabinha.
Marcos evadiu sem consumar a
conversa. Rumou para a sala do diretor. Expediente encerrado. No caminho para
casa, parou no bar e saboreou uma cerveja. Na sua memória, surgiu a lembrança
do episódio de quarta. Chegando em casa, foi logo tomar banho. Conversou um
pouco com a esposa. Jantou. Assistiu o jornal e foi dormir relativamente cedo.
Manhã de sábado. Marcos conferiu o WhatsApp. Discerniu a mensagem de um
número desconhecido. Visualizou emojis de diabinhos. Pensou: “não é possível!”.
Notificação de nova mensagem:
# Bom dia Marquinhos.
# Como você conseguiu o meu número?
# Eu dei um jeitinho. (Emojis de
risos)
# Apague.
# Nunca.
# Não tenho tempo para teclar
contigo.
# Marquinhos, arrume um tempinho
para tua Diabinha.
# Procure algo mais interessante
para fazer.
# Não há nada mais interessante
para mim do que você.
# Desista.
# Nunca. Ah! Cuidado para tua
esposa não ver a nossa íntima conversa. (Emojis de diabinhos e gargalhadas)
# Você é uma inconsequente.
# A minha única consequência é
você.
# Suma da minha vida. Eu te odeio.
# Jamais!
Umas horas se passaram:
# Marquinhos, conserve com tua
Diabinha.
Ele apenas visualizava. Doravante, essa
foi a tônica entre os dois:
# Por que você não bloqueia o meu
contato?
# Você visualiza minhas mensagens
quase de forma instantânea.
# Você gosta das minhas mensagens?
De agora em diante, você vai gostar muito mais.
# Veja esta foto. (Clara com uma
roupa bem colada no corpo)
# E esta. (Sutiã e short)
# Outra foto para você. (Sutiã e
calcinha)
# Bom dia Marquinhos. Venha
experimentar o meu corpo. (Sem sutiã e com calcinha)
# Boa noite Marquinhos. Tenho umas
fotos aqui para você. Estou completamente nua.
# Pare! Não faça isso!
# Enfim, você respondeu as minhas
mensagens. Você quer quantas fotos?
# Não envie. Amanhã, no trabalho,
eu te explico.
# Tudo bem.
# Até amanhã. (Emojis de beijos)
# Até amanhã Marquinhos. (Emojis de
beijos e diabinhos)
Intervalo matutino:
– Olá Clara. Bom dia. Tudo bem?
– Estou ótima! E você?
– Estou bem.
– Sim. Qual é a tua explicação
sobre as fotos?
– Não quero te ver nua através de
fotos.
– Por quê?
– Prefiro ver ao vivo.
– O quê?
– É isso mesmo que você ouviu.
– É claro que verá.
– Hoje, após o expediente,
espere-me neste endereço. Passo de carro para te buscar – Marcos entregou um
papel para Clara.
– Ótimo!
– Até logo Diabinha!
– Até Marquinhos!
Fim do expediente:
– Entre. Fique tranquila. Ninguém
irá nos ver.
– Iremos para onde?
– Aguarde. Surpresa!
– Estou curiosa. Adoro surpresas.
Cama redonda. Lençol vermelho.
Pétalas de rosa. Espelho no teto. Cheiro de incenso. Abajur rubro. Corpos
enlaçados...
– Esperei ansiosamente por este
momento! – brada o ofegante Marcos.
– Eu também!
– Você é muito gostosa! Vou te
matar de prazer!
– Além de ser muito gostosa, sou
tua Diabinha...
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