
A palavra Páscoa remete ao hebraico antigo, do termo Pessach que significa “passagem”. Este
singelo artigo realizará uma reflexão sobre a Páscoa tendo como horizonte o Evangelho segundo Mateus. Na tradição
judaica, a Páscoa celebra a libertação dos hebreus do cativeiro no Egito; na
tradição cristã, delineia a morte e a ressurreição de Cristo, simbolizando a
passagem da morte para a vida eterna. Jesus, o Filho de Deus, representa a vitória da vida sobre a morte, logo, este
triunfo é um pilar fundamental no Cristianismo. Jesus é contundente ao afirmar
que sua morte é o cumprimento da
vontade divina expressa nas escrituras: “Como,
pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que aconteça?”
(Mt 26:54).
Jesus é o Próprio Deus, por
conseguinte, já intuía a sua morte na sexta-feira de Páscoa. Notoriamente, no
Calvário de Cristo, há um traidor, Judas Iscariotes, que em troca do perdão de
dívidas, denunciara o Cordeiro de Deus
às autoridades políticas e religiosas de Jerusalém. Judas foi “premiado” com 30
moedas de prata, o preço de um escravo nos primórdios da história cristã.
Continuemos e ouçamos o evangelista: “E os
discípulos fizeram como Jesus lhes ordenara, e prepararam a páscoa. E, chegada
a tarde, assentou-se à mesa com os doze” (Mt 26:19-20). A Santa Ceia traz a repartição do pão que
simboliza o corpo de Cristo (Eucaristia); ademais, o compartilhamento do vinho
representa o sangue de Jesus, que marca a remissão dos pecados e a aliança
entre Deus e a humanidade.
Judas e a multidão foram até Jesus
e o levaram até o sumo sacerdote Caifás, onde os doutores da lei estavam
reunidos. Nas entrelinhas dos Evangelhos, percebe-se que a mensagem de Cristo
incomodara as autoridades religiosas e políticas. A nascente crença que seria
um dos alicerces do mundo ocidental, impactara as religiões que dominavam o status quo. Voltemos ao Evangelho: “Ora, os príncipes dos sacerdotes, e os
anciãos, e todo o conselho, buscavam falso testemunho contra Jesus, para poderem
dar-lhe a morte;” (Mt 26:59).
Os doutores da lei tentavam
incessantemente incriminar Jesus, até emergir a acusação de blasfêmia quando ele
se autodenominou o Filho de Deus.
Depois, Cristo foi levado até Pôncio Pilatos, governante da província romana da
Judeia, que interrogou: “Tu és o Rei dos Judeus?”. Seguindo a tradição pascoal,
cujos governantes soltavam um criminoso, Pilatos mandou chamar Barrabás. A
multidão cega e ensandecida clamava por Barrabás e esbravejava contra Jesus.
Pilatos lavou as mãos e proferiu a sentença: “Então soltou-lhes Barrabás e, tendo mandado açoitar Jesus, entregou-o
para ser crucificado” (Mt 27:26).
O Calvário de Cristo é a passagem
religiosa mais reverenciada do Ocidente, festejada com fervor todos os anos
pelos cristãos. A tradição atesta que o Filho
Unigênito fora crucificado ao lado de dois ladrões, até emitir o último
suspiro: “E Jesus, clamando outra vez com
grande voz, rendeu o espírito” (Mt 27:50). A terra tremeu, as pedras estalaram
e o véu do templo se rasgou em dois. O rico José de Arimatéia procurou Pilatos
para pedir o corpo de Jesus; com a devida autorização do governador da Judeia,
José o enterrou no túmulo que havia sido talhado na rocha, e uma grande pedra
foi colocada na entrada do sepulcro sob a vigilância ininterrupta de guardas
romanos. No fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria
Madalena e Maria (mãe de Tiago e Salomé) foram ver a sepultura. Houve um forte
terremoto, o anjo do Senhor desceu do céu e removeu a pedra. Perplexas, as
Marias viram que o corpo de Jesus não estava lá, até que o Filho do Pai ressurgiu: “Então
Jesus disse-lhes: não temais; ide dizer a meus irmãos que vão à Galileia, e lá
me verão” (Mt 28:10). Jesus vive! Jesus ressuscitou! A promessa da
ressurreição no terceiro dia foi cumprida.
Conforme o anúncio do Cordeiro de Deus, os onze discípulos
partiram para a Galileia. Esta cena bíblica será imprescindível nos primeiros
passos da expansão do Cristianismo. Jesus apareceu aos discípulos, alguns
chegaram a duvidar, não obstante, ouviram atentamente as ordens do Senhor: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt
28:19). Mateus é didático e claro na exposição da Paixão
de Cristo, além de trazer um estilo
narrativo fluido e envolvente. A ressurreição do Filho de Deus estabeleceu outro significado à morte, que para os
mais céticos, era e é vista como o fim de tudo. O medo da morte fora
substituído pela alegria da vida. A morte não é apenas a morte, é uma
transição, o caminho para uma vida melhor. Jesus Cristo trouxe esperança à
humanidade, para que a mesma enfrente o mistério da morte com fé, altivez e
perseverança. A Páscoa é vida, fé e esperança, é a passagem da morte física
para a eternidade espiritual ao lado do Senhor. Celebremos à Páscoa!
(Tosta Neto, 12/04/2020)
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