Há músicas que nascem fadadas à
eternidade, entre as quais, I Will Always
Love You interpretada por Whitney Houston, Wind Of Change do Scorpions e Thriller
de Michael Jackson. Obviamente, não deixaria de citar Contatinho de Léo Santana; confesso que fiquei inebriado quando
ouvir esta obra-prima pela primeira vez. A melodia tem uma complexidade
harmônica incomparável. A qualidade da letra despertaria inveja em Camões e
Castro Alves. Para interpretá-la, é necessário um cantor à altura, logo, o
“Gigante” Léo Santana fez jus ao hercúleo desafio. Não esqueçamos da
participação especialíssima de Anitta (diva da música mundial). Este dueto tem
o poder de transformar qualquer canção num “diamante rosa” da história da
música.
Digníssimo Leitor, farei uma
reflexão da letra, não obstante, analisarei versos específicos, senão
precisaria da eternidade para consumar tal proeza. Primeiros versos:
Alô
tudo bem? Ahn
Léo
Santana
Tá
pensando que eu sou o quê
Sempre
que eu quero tá disponível
Se
eu abrir minha agenda pra tu ver
Eu
tô com mina de A a Z.
O termo pensando traz um diálogo com a filosofia de René Descartes,
precisamente à famosa síntese do pensador francês: “Penso, logo existo”. A palavra tá
articula-se ao Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, nos concedendo uma
versão contraída da terceira pessoa do singular do verbo ESTAR. A parte Tu ver, eu tô com mina de A a Z,
demonstra perícia em conjugação verbal, além de salientar nas entrelinhas a
história do alfabeto.
Mais alguns versos:
Eu
gosto até dessa louca
Mas
tá brincando comigo
Ela
rebola gostoso
Só
que já deu pra você.
Eis uma analogia ao hedonismo, característica eminente do Renascimento. Poderíamos inferir que Contatinho é uma música atemporal, pois
tece um diálogo com diversos períodos históricos. Leitor, seja sensível,
perceba a grandiosidade desta “pérola” poética: “Ela rebola gostoso”. Nestes versos, temos uma incursão no mundo do
eu-lírico; a subjetividade do autor é
evidenciada, por conseguinte, é notório um nexo com o Romantismo. O indivíduo que escuta Contatinho é afetado nas profundezas do
âmago, sendo elevado ao estado de êxtase mental. Arrisco-me parafrasear Dorival
Caymmi: quem não gosta de Contatinho, bom
sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé.
Outros versos:
Tu
foi sentar em outro lugar
Senta,
senta, senta, senta
E
quem mandou você brincar?
Tu
foi sentar em outro lugar.
Leitor, de pureza d’alma, eu não
tenho conhecimento de causa para refletir sobre a estrofe acima; minha
capacidade intelectual está muito aquém de tão difícil empreitada. Apenas
gênios da humanidade como Albert Einstein, Leonardo da Vinci, William
Shakespeare, Machado de Assis etc., estariam aptos a realizar o exercício de
hermenêutica em questão. Apesar de minha limitação, atrevo-me efetivar um pobre
comentário acerca da riqueza vocabular supracitada: em míseros 4 versos, o
verbo SENTAR e sua conjugação na 3ª pessoa do singular aparecem 6 vezes.
Defrontamo-nos com a máxima criatividade que a inteligência humana pode
atingir.
Contatinho já tem um lugar cativo na
prateleira da história da arte; o inclemente tempo passará e daqui a 100 anos
as pessoas continuarão a cantá-la. Ademais, como diria no senso comum: “uma
música boa não morre nunca”. Nós, os privilegiados contemporâneos de Contatinho, no futuro, olharemos
saudosamente para esta época, afinal, momentos indeléveis das nossas vidas
foram embalados ao som deste clássico da música universal. Léo Santana foi
predestinado pelos céus como intérprete original de Contatinho; Anitta, por sua vez, deveria prestar graças a Apolo por
tal dádiva. E para encerrar este singelo artigo, é óbvio que citarei versos
sublimes de Contatinho. Cantemos e
façamos o L do “Gigante”:
Oi,
te liguei?
Deve
tá ocupadinha, tudo bem
Tá
com outro contatinho
Te
liguei?
Deve
tá ocupadinha, tudo bem
Tá
com outro contatinho
Quem
mandou você brincar?
(Tosta Neto, 21/03/2020)
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