“Os dois monstros
gêmeos, o comunismo e o nazismo, têm vocação genocida. Naquele, o genocídio de
classe; neste, o genocídio de raça.” (Roberto Campos)
Era
uma entrevista, frente a frente o jornalista e apresentador Pedro Bial ao lado
do chamado “guru” do atual governo, especialmente do seu segmento mais radical
e reacionário, Olavo de Carvalho. Segundo o, filósofo para uns, astrólogo para
outros, “os governos de direita não mataram 10% do que assassinaram os governos
de esquerda”. O entrevistador global concordou. Apesar do emissor da fala ser
um tanto suspeito, não se pode dizer que o seu enunciado não esteja carregado
de uma boa dose de verdade.
Existe
um consenso por parte dos historiadores mais sérios de que os sistemas
totalitários de esquerda, especialmente o Comunismo, exterminaram muito mais
seres humanos do que o próprio Nazismo. A maior obra sobre o tema, “O Livro
Negro do Comunismo”, composta por uma equipe de historiadores e universitários
de vários países, estimam que na China ocorreram 65 milhões de assassinatos, na
antiga União Soviética 20 milhões, na Coreia do Norte 2 milhões, no Camboja 2
milhões, 1,5 milhão no Afeganistão, 1 milhão na Europa Oriental, 150 mil na América
Latina e tantos homicídios em múltiplas nações. Boa parte de fome e inanição.
Diante de tanto flagelo, por que esse arquétipo de sociedade construída em
gabinete ainda é tratado de maneira tão condescendente por tantas pessoas,
inclusive intelectuais, em diversos países, inclusive o Brasil? A resposta mais
provável: porque esse sistema representa um dos cinquentas tons da esquerda, ou
o socialismo real para uns ou deturpado para outros, mas, ainda assim, um
produto da esquerda. E tudo que for de esquerda é “bom” ou não tão mal. O monopólio
do bem é canhoto, justificado pelo seu viés supostamente humanista, coletivista,
filosoficamente belo e altruísta, embora na prática esteja carregado, em tantas
oportunidades, de ódio de classe de viés autoritário.
A
narrativa básica da esquerda diz ser contra as desigualdades, uma parte defende
o fim da propriedade privada, sinônimo da assimetria social, concorda com o
controle dos meios de produção e comunga do paradigma do Estado grande,
interventor e protetor da vida alheia. Nas últimas décadas, para compensar a
perda do discurso econômico depois da Guerra Fria, assumiu para si a defesa das
chamadas minorias (negros, mulheres, índios e gays principalmente). Qualquer um
que não seja de esquerda é estigmatizado com a pecha de ser contra essas pautas
e, evidentemente, ninguém quer isso, até pelo fato de não ser verdade. A
ignorância ou mesmo preconceito sobre o Liberalismo ou Conservadorismo só
fortalecem essa visão. Pouco importa se os militantes de esquerda apoiem países
que fomentam a pobreza (exemplos de Venezuela, Cuba e Coreia do Norte), que são
culturalmente homofóbicos (Rússia, Cuba e vários países do Oriente Médio), que
discriminam as mulheres (todas as nações citadas anteriormente e outras), além
de antidemocráticos. O importante e fundamental é que sejam antiamericanos. Pouco
importa se negros, mulheres ou gays de direita não sejam igualmente defendidos.
A hipocrisia é o lugar comum. No debate público, pelo menos para a maioria, o
discurso é tudo.
A
doutrina do filósofo italiano Antonio Gramsci de fomentar os ideários
marxistas, assaltando corações e mentes por meio das instituições humanas, dos
centros de formação de pensamento (universidades, escolas, mídia, etc.) deu
muito certo e, não por acaso, professores, artistas e jornalistas, em grande
parcela, são de esquerda. Teses, trabalhos acadêmicos anticomunistas em
universidades são algo raro e não bem-vistos. Estudar as reflexões de Ludwig
Von Mises, Stuart Mill, Edmund Burke, Roger Scruton e Michael Oakeshott é tido
como ação perigosa e deve ser evitada. Personagens
históricos como Winston Churchill, Ronald Reagan, Charles De Gaulle ou Margaret
Thatcher são esquecidos ou demonizados. Quem discorda dos paradigmas, dos
métodos vermelhos é taxado de fascista, nazista ou qualquer “ista” que vier à
boca (menos comunista evidentemente, algo maravilhoso). As categorias políticas
são rasteiramente banalizadas. A ideia é espalhar ignorância a tudo aquilo que
não se enquadre na visão de mundo da esquerda e de obscurecer os crimes
cometidos em nome de um projeto utópico de sociedade. A hegemonia no campo do
pensamento por parte da esquerda está sendo usada, de alguma maneira, para o
apagamento de uma parcela importante da história.
Importante
salientar que a trajetória dos ideários de Marx não é feita apenas de pontos
negativos, representado principalmente pelo Comunismo, muito pelo contrário.
Ela contribuiu e contribui para a conquista de diversos direitos, para a
diminuição de diversas formas de desigualdade e outras reflexões sobre a
existência humana em seus diversos campos. Pensamentos diferentes devem coexistir,
pois sem eles não existe democracia verdadeiramente. Isso posto, nem as
“melhores” das intenções devem justificar as piores atrocidades contra seres
humanos. Assim como é necessário se fazer justiça aos milhões de mortos pelo Nazismo,
aos infindáveis homens negros escravizados e às diversas vítimas de genocídio, os
homens, mulheres e crianças exterminados pelo comunismo não devem ser apagados
da história. Os fins não justificam os meios. Nenhum arquétipo de sociedade
deve estar acima do direito inalienável da existência humana: a liberdade e a
vida.
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