A morte do chefe da Guarda
Revolucionária do Irã, general Qasem Soleimani, em um ataque autorizado pelos
Estados Unidos no Iraque nesta quinta-feira (2) gera uma situação imprevisível
no Oriente Médio. Soleimani era um dos homens mais poderosos do país. Apesar da
escalada de tensões que a morte provoca, evocar a possibilidade de uma
“terceira guerra mundial parece um tanto exagerado”, na opinião do professor de
Relações Internacionais da Universidade Anhembi Morumbi Jorge Mortean,
especializado no Irã.
“O problema que se gera ali é
totalmente regional”, frisa o consultor em Oriente Médio. “Estados Unidos e Irã
já devem estar conversando desde o ataque e acho que não haverá uma solução
militar nesse caso. O Irã não tem essa potência toda que clama em termos
militares. E a Guarda Revolucionaria até entraria em um combate, mas seria mais
num viés de defesa, e não de ataque.”
Apesar do grande contingente das
forças armadas de Teerã, os equipamentos militares do país se encontram
defasados por conta das sanções internacionais. As restrições incluem impedir a
compra de armamentos de boa parte do mundo, desde a Revolução Islâmica, em
1979.
“Traição” de americanos
Ele lembra que Soleimani foi um
general que, nos bastidores, ajudou os Estados Unidos na reconstrução do Iraque
pós-Saddam Hussein. “Apesar de não terem relações diplomáticas desde 1980,
interesses regionais de americanos e iranianos levaram a essa cooperação.
Agora, Washington rompe essa aliança de background e matam principal líder de
forças especiais de atuação em conflitos”, observa o especialista.
Mortean morou três anos no Irã,
onde concluiu um mestrado. Ele avalia que a prioridade agora para Teerã é
determinar como os americanos conseguiram concretizar esse bombardeio, em pleno
aeroporto internacional de Bagdá. “Eles costumam dizer que ‘resistir’ é um
verbo iraniano. É um país que, nos seus 4 mil anos de história, foi invadido 88
vezes, se adaptou a isso e conseguiu expulsar todos os invasores.”
Brasil ganha mais se ficar calado
Para o especialista, o histórico de
conflitos iranianos indica que o contra-ataque do país deve se dar pela
tentativa de gerar prejuízos a parceiros econômicos norte-americanos no Oriente
Médio. Neste contexto, pode ser arriscado para o Brasil adotar uma postura
clara no conflito – que tenderia a ser pró-Washington.
“O Irã é um país superimportante na
nossa história diplomática. Apesar de todas as reviravoltas políticas que
tivemos aqui e lá, a nossa relação com os iranianos sempre foi pacífica”,
destaca. “É um dos nossos grandes parceiros econômicos internacionais e um dos
poucos do Oriente Médio que nos dá superávit comercial, graças às nossas
exportações de frango, carne bovina, açúcar, milho, autopeças e outros
produtos.”
(Fonte: RFI / *Edição OutroOlharInfo)
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