Nos tempos hodiernos, o cotidiano é
dinamizado pelos smartphones, desde as coisas mais triviais até a resolução de
questões de trabalho, portanto, para compreender o século XXI, a internet é um elemento
imprescindível. Traçando um paralelo com a história, após a desagregação da
União Soviética em 1991, a Globalização explodiu,
fenômeno impulsionado pela propagação da internet que derrubou as barreiras do
espaço e interligou cada vez mais as pessoas. Deve-se exaltar o recrudescimento
do elo entre povos e países, porém há fatores deletérios que surgem no bojo da Globalização.
Na China, o advento de Deng
Xiaoping no poder em 1978, integrou o país mais populoso da Terra ao mercado
global, conjuntura econômica que resultara na queda do custo mundial da
produção, viabilizando nas duas últimas décadas a disseminação dos celulares. A
consequência foi a ampliação do alcance dos mais pobres aos bens
industrializados. É inconteste que o dia a dia da sociedade foi literalmente
impactado pela maior circulação de smartphones. Além da facilidade
de comunicação e do acesso à informação, suscita-se um fator negativo: o uso
desenfreado do celular. Algumas pessoas não conseguem viver longe do
smartphone, encarando-o como uma extensão do próprio corpo. A distância gera
ansiedade, pois o internauta supõe que receberá a melhor mensagem do mundo.
O internauta subjugado pelo vício
virtual, sente a necessidade ininterrupta de conexão. Estar off-line é o fim dos tempos, é ficar
apartado do mundo. Inegavelmente, as relações humanas estão a passar por um
processo de artificialização, cujo contato virtual desguarneceu um pouco o tête-à-tête. O viciado em questão
olvidou o plano real e vive homiziado na bolha virtual; este indivíduo habita
numa “sociedade alternativa” desprovida de concretude. O mundo virtual irradia
uma certa perfeição, marcada pela inexistência da infelicidade, onde o internauta
posta fotos de momentos alegres e vitoriosos com legendas clichês que ilustram
a ocasião. Até a Alice do País das
Maravilhas ficaria com inveja da aura de perfeição que emana do mundo
virtual.
Doravante, realizaremos uma
analogia com o narcisismo. A priori,
é mister falar um pouco sobre o Mito de
Narciso. Na Mitologia Grega, Narciso era um belo jovem que despertava a
paixão das ninfas, mas ele as desprezava. Certo dia, quando bebia água num
lago, Narciso ficou encantado com o semblante projetado no espelho d´água;
apaixonara-se pela própria imagem e ficara ali até morrer de inanição. Vale
salientar, que o narcisismo é uma metáfora sobre a vaidade humana. Normalmente,
pessoas vaidosas ficam horas a fio contemplando-se no espelho. Todavia, a
vaidade não deve ser vista como uma característica desprezível; o problema é
atingir o status do exagero.
O narcisismo foi potencializado
pelas redes sociais. Internautas pontuais, logicamente aqueles que esqueceram o
mundo real, efetuam postagens que detalham as suas rotinas. As fotos postadas
seguem um padrão: efeitos de aplicativos, correções no photoshop (ou qualquer programa semelhante) e risos desprovidos de
espontaneidade. Há a sensação que nas redes sociais todos são lindos e felizes;
e a tal da selfie é a personificação
do narcisismo. O culto ao ego é deveras nocivo à humanidade, drenando toda a
energia da alteridade, questão apontada por Krishna no Bhagavad Gita. Enfim, o internauta narcisista deve falar
diariamente para si: celular, celular
meu, existe alguém mais belo do que eu?
(Tosta Neto, 02/01/2020)
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