Você já levou choque de uma cerca
elétrica? De acordo com Ken Catania, pesquisador da Universidade Vanderbilt,
nos Estados Unidos, ser eletrocutado por uma enguia causa uma sensação
parecida. A afirmação é bem embasada, já que Catania testou os efeitos do
choque em seu próprio braço. Acredita-se que, no caso de enguias maiores,
porém, a tensão elétrica gerada possa chegar aos 800 volts. Aí, o buraco é bem
mais embaixo. A não ser que você um dia mergulhe junto a esses peixes, não há
perigo – já que a eletricidade das enguias se propaga somente pela água. Mesmo
com essa limitação, um grupo de funcionários do Aquário Tennessee, na cidade de
Chattanooga, EUA, conseguiu usar a habilidade eletrizante delas em um
experimento pra lá de peculiar: controlar o brilho das luzinhas de uma árvore
de natal. O responsável por regular a iluminação natalina do Aquário é ninguém
menos que Miguel Wattson – enguia que vive em um tanque da exposição “Rios do
Mundo”.
Antes de tudo, vale um adendo: não
é exatamente a eletricidade gerada por Miguel Wattson que alimenta o circuito
das luzinhas. Um sistema especial de sensores localizado no interior do aquário
primeiro capta os pequenos choques da enguia. A intensidade desses choques,
então, é que regula a iluminação da árvore. Se o peixe descarrega mais energia,
o brilho é maior; se ele eletriza a água por mais tempo, as lâmpadas piscam com
maior duração. Na prática, é como se a enguia controlasse o show de luzes de
dentro do aquário. “Sempre que Miguel descarrega eletricidade, sensores na água
transmitem essa carga para um conjunto de alto-falantes”, explica Joey
Turnipseed, produtor audiovisual do Aquário de Tennessee em um comunicado. “Os
alto-falantes convertem a descarga elétrica no som que você ouve, e faz as
luzinhas de natal piscarem”. O som, na verdade, serve meramente para chamar a
atenção dos transeuntes à performance da enguia. No mesmo texto à imprensa, uma
funcionária do Aquário de Tennessee explica que o piscar rápido das luzes é
resultado de pequenos “espasmos” elétricos que o peixe libera quando está
tentando encontrar comida. A tensão gerada pela enguia quando está “calma”, que
normalmente serve como forma de comunicação, costuma ficar na casa dos 10
volts.
Já os flashes mais intensos são uma
resposta aos choques mais fortes que Miguel emite, principalmente quando está
se alimentando ou animado com algo. Essa habilidade única das enguias existe
graças aos eletrócitos, células especiais em formato de disco que funcionam
como uma bateria elétrica.
Made in Brazil
Enquanto não está atuando como
gerador para a decoração natalina, Wattson leva sua vida como uma verdadeira
celebridade – do tipo que tem conta verificada e mais de 38 mil seguidores no
Twitter. Em vários momentos, a enguia twitteira se limita a atualizar seu
microblog com sons de choque: SKA-DOOOOOSH!!!!!!”, “ZING”, “ZOPT”,
“BUZZZZZZZ!!!!!!”. O perfil da enguia no Twitter está sincronizado aos picos de
liberação de eletricidade da enguia – e solta uma onomatopeia do tipo sempre
que Wattson descarrega grande quantidade de energia na água. A parte mais legal
de toda a história é que, apesar do nome de gringo, Wattson é natural da
Amazônia Brasileira. Sua origem sul-americana é revelada com humor em postagens
como a seguir – essas, feitas pela equipe do Aquário, é claro.
“Na Amazônia, onde você normalmente
me encontra, os rios têm grande quantidade de sedimentos; então a água nem
sempre é cristalina. Felizmente, eu consigo “enxergar” liberando uma pequena
quantidade de eletricidade. O português do Brasil tem um ditado que define
nossa situação com maestria: “Não ver um palmo diante do nariz.” Bom trabalho,
Wattson. E se algum dia resolver retornar à sua terra natal, dê um alô. Árvores
natalinas para iluminar, por aqui, não faltam.
(Fonte: Superinteressante / *Edição OutroOlharInfo)
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