quinta-feira, 7 de novembro de 2019

"A MINHA PRIMA PREDILETA" POR TOSTA NETO


    Osvaldo, 15 anos, estudante do Ensino Médio e morador duma pequeníssima cidade do interior da Bahia. Filho de família tradicional e conservadora, Osvaldo tinha uma vida devotada à religiosidade: orações, estudo diário da Bíblia e missas dominicais. O jovem cristão não apresentava uma vida convencional de adolescente. Os pais sonhavam com o advento de Osvaldo no seminário.
    O metódico estilo de vida não impossibilitou Osvaldo da companhia de bons amigos, aos quais, desabafava sobre dúvidas e angústias existenciais. Osvaldo, às vezes, até queria ter uma vida normal de adolescente, porém a rígida educação familiar tolhia o seu afã. Ao amigo Davi, Osvaldo não guardava segredos, dialogava sobre quaisquer assuntos. Apesar dos pesares, o garoto adotou uma postura estoica, logo não se sentia sufocado com o cotidiano que o cercava...
    – Como está a tua reta final de ano letivo?
    – Tranquila. Creio que passe direto.
    ­– Eu já estou aprovado.
    – Você é fera! – exclama Davi.
    – Obrigado!
    – Qualquer dia, apareça no baba na Quadra do Bosque.
    – Impossível! Minha mãe não vai deixar.
    – Saia escondido.
    – De jeito nenhum. Você está doido. Uma surra na certa ­– Osvaldo encerra a frase com uma boa risada.
    – Tente. Não vai acontecer nada.
    – Vou criar coragem.
    Mais um ano letivo foi consumado. Osvaldo obteve médias excelentes. Como nos anos anteriores, ele não iria viajar. Uma vez mais, as férias seriam inundadas pela previsibilidade da rotina...
    – Maria e Osvaldo, vamos receber visita nestas férias. Vossa prima, Bruninha, passará uns dias aqui conosco.
    – Está bem Mãe – responde Maria, irmã de Osvaldo.
    – Das nossas primas, ela é a única que ainda não veio aqui – comenta Osvaldo.
    – Irmão, ela é gente boa. Você se lembra que no ano passado passei as férias com Bruninha lá em Salvador.
    – Lembro sim Irmã.
    A primavera murcha. O verão floresce. A temperatura elevada tortura os seres vivos. A natureza é cíclica; precisa-se aceitar os ditames das leis naturais. Osvaldo não morre de amores pelo verão: o calor dificulta sua concentração na rotina de estudos. A estação mais quente do ano trouxe Bruninha para o lar do jovem católico...
    – Primo, prazer em conhecê-lo.
    – Bruninha, o prazer é todo meu.
    – E os teus estudos?
    – Tudo bem. Acabei de concluir o 1º Ano.
    – Eu estou no 2º semestre de Engenharia.
    – Eu nem sei se farei faculdade.
    – Por quê?
    – Meus pais querem que eu entre no seminário.
    – Sério?
    – Muito sério!
    – Que chato.
    – Pois é.
    Alta madrugada. Osvaldo desperta. Estava com sede. Envereda-se à cozinha. No caminho, um fato o surpreendeu: Bruninha. A jovem de 20 anos estava saindo do banheiro de calcinha. Osvaldo tomou um susto. Não esperava tal cena. Tentou desviar o olhar. Não quis cair em tentação, porém acabou olhando o corpo moreno e esbelto da prima...
    – Ontem à noite, aconteceu algo surpreendente.
    – Foi o quê?
    – Davi, não lembro se já te contei. Lá em casa, temos uma visita.
    – Quem?
    – Bruninha. Uma prima minha de Salvador.
    – O que aconteceu mesmo?
    – Encontrei Bruninha de calcinha saindo do banheiro.
    – Uau!
    – Fiquei sem graça.
    – Na próxima vez, me chame.
    – É sério. Foi uma cena constrangedora.
    – Que nada Osvaldo! Se ela estivesse nua seria sim constrangedor.
    – Eu não esperava por isso. Nunca vi uma mulher de calcinha.
    – E nua? – Davi dispara uma gargalhada.
    – Claro que não!
    Dia quente. Calor insuportável. Fim de tarde. Nuvens cinzentas no horizonte. Aves inquietas cortam o dossel. Presságio de trovoada. A lua cheia e as estrelas não apareceram. Uma chuva torrencial despenca na pequeníssima cidade do interior da Bahia. Falta de energia elétrica. Breu absoluto. Na casa do jovem cristão, todos já estão dormindo. A chuva ameniza. A porta do quarto de Osvaldo é aberta e, em seguida, é trancada por dentro. O garoto ainda dorme. A luz lunar adentra o espaço. Um vulto senta na cama. Osvaldo desperta e distingue um corpo. Um gesto de silêncio é disparado no indefeso garoto. Eis Bruninha totalmente despida. Osvaldo fica pasmo...
    – Davi, Davi, Osvaldo está te chamando. Ele parece estar apressado.
    – Já estou indo Mãe.
    Breves segundos se arrastam para Osvaldo...
    – Davi, preciso muito conversar contigo.
    – Fique à vontade.
    – Não poderá ser aqui.
    – Então, iremos para um lugar discreto.
    – Com certeza. Alguma sugestão?
    Bar do Osmar.
    – Ótimo!
    Céu estrelado. Noite típica de verão...
    – Estou perplexo.
    – Pois é Meu Caro. Ela invadiu o meu quarto e me possuiu completamente. Não tive reação. Fui dominado por uma força arrebatadora – comenta Osvaldo.
    – Você gostou?
    – Gostei muito. Uma sensação indescritível. Simplesmente, surreal.
    – E agora Osvaldo?
    – Não sei. Só sei que estou apaixonado por ela. Bruninha foi a primeira mulher de minha vida.
    – Você está falando a verdade?
    – Claro! Bruninha me apresentou aos prazeres da carne. Bruninha me desvirginou. Só penso em Bruninha.
    – Meu Amigo, eu te entendo perfeitamente.
    – Não penso mais no seminário. Só quero Bruninha. Só quero sentir aquela mulher quente me possuindo de corpo e alma.
    – Boa sorte!
    – Obrigado Amigo! Depois disso tudo, só tenho algo a dizer sobre Bruninha: a minha prima predileta.

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