O vencedor do Prêmio Nobel da Paz
de 2019 foi o primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed, responsável por um acordo de
paz da Etiópia com a Eritreia. O acordo encerrou um impasse militar de 20 anos,
que vinha desde uma guerra na fronteira que durou de 1998 a 2000.
Abiy Ahmed recebeu o prêmio por
seus esforços para "alcançar a paz e a cooperação internacional". Ele
foi nomeado como vencedor do 100º Nobel da Paz em Oslo, onde receberá em
dezembro o prêmio no valor de 9 milhões de coroas suecas, ou US$ 900 mil (o equivalente
a R$ 3,7 milhões).
Foram indicados 301 candidatos para
o prestigiado prêmio, incluindo 223 indivíduos e 78 organizações. Entre os
favoritos, estava o cacique brasileiro Raoni, líder do povo caiapó e
reconhecido como um dos maiores ativistas da causa indígena no mundo.
Depois de se tornar
primeiro-ministro, em abril de 2018, Abiy Ahmed promoveu grandes reformas
liberalizantes na Etiópia, que era um país fortemente controlado.
Ele libertou milhares de ativistas
da oposição da prisão e permitiu que dissidentes exilados voltassem para casa.
Mais importante ainda, ele assinou o acordo de paz com a Eritreia.
No entanto, suas reformas também
reforçaram as tensões étnicas da Etiópia e a violência resultante forçou cerca
de 2,5 milhões de pessoas a abandonarem suas casas.
Abiy Ahmed nasceu no sul da
Etiópia, em 1976, filho de mãe cristã e de pai muçulmano. Hoje ele é o mais
jovem chefe de governo da África.
Conflito com a Eritreia
Abiy foi premiado por sua
"iniciativa decisiva para resolver o conflito de fronteira com a vizinha
Eritreia", segundo o comitê responsável pelo prêmio.
"O prêmio também deve
reconhecer todas as partes interessadas que trabalham pela paz e reconciliação
na Etiópia e nas regiões leste e nordeste da África", disse o comitê.
"A paz não surge apenas das
ações de uma parte. Quando o primeiro-ministro Abiy estendeu a mão, o
presidente (eritreu Isaias) Afwerki aceitou e ajudou a formalizar o processo de
paz entre os dois países. O Comitê Nobel da Noruega espera que o acordo de paz
ajude a trazer mudanças positivas para toda a população da Etiópia e da
Eritreia."
O gabinete de Abiy disse que o
prêmio é um reconhecimento "dos ideais de unidade, cooperação e
convivência mútua que o primeiro-ministro defende".
A guerra de fronteira
Duas décadas se passaram desde que
dois dos países mais pobres da África começaram a guerra de fronteira mais
mortífera da história recente do continente.
O conflito entre a Eritreia e a
Etiópia deixou dezenas de milhares de mortos ou feridos em apenas dois anos.
Apesar de um armistício assinado em dezembro de 2000, os dois lados continuaram
em pé de guerra por muitos anos.
A guerra começou em 6 de maio de
1998, iniciada por uma batalha pelo controle da cidade fronteiriça de Badme. A
cidade não tinha petróleo nem diamantes, mas, mesmo assim, a Eritreia e a
Etiópia a disputavam.
Na época, a guerra era descrita
como "dois homens carecas brigando por um pente".
À medida que a guerra cresceu,
também aumentou o deslocamento em massa das comunidades, o que destruiu
famílias dos dois lados. Além disso, o impacto econômico também foi
significativo.
A guerra terminou em junho de 2000
e depois foi assinado um acordo de paz, estabelecendo a Comissão de Fronteira
Eritreia-Etiópia. No entanto, a decisão final, 18 meses depois, de conceder
Badme à Eritreia não foi aceita pela Etiópia sem as condições prévias ou novas
negociações. E a Eritreia, por sua vez, se recusava a conversar com Etiópia.
Em 2018, o então recém-eleito
primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, pediu uma resolução pacífica do impasse.
Ele suspendeu o estado de
emergência e desbloqueou centenas de sites e canais de TV que estavam sob
censura.
Abiy Ahmed também colocou fim ao
estado de guerra com a Eritreia, concordando em desistir da disputa pelo
território fronteiriço, durante o processo de normalizar as relações com o
inimigo de longa data.
Mas há oposição em relação ao ritmo
da mudança. Em junho de 2018, Abiy foi alvo de um ataque, com duas pessoas
mortas em uma explosão em um comício de apoio a ele. Também há oposição a ele
na Província de Tigray, que costumava dominar o país.
Abiy Ahmed se tornou
primeiro-ministro em 2 de abril de 2018, após a inesperada renúncia de
Hailemariam Desalegn. Em maio, liberou milhares de detidos políticos, incluindo
o líder da oposição Andargachew Tsege. Em junho, ele concordou em aceitar a
decisão que concede território de fronteira à Eritreia.
Ao lado do presidente da Eritreia,
ele declarou o fim da guerra entre os dois países em 9 de julho. Em setembro,
reabriu a fronteira terrestre com a Eritreia. Já em outubro, nomeou mulheres
para metade dos cargos ministeriais.
(Fonte: BBC News / *Edição OutroOlharInfo)
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