Da mesma forma que uma vela depende de uma certa quantia de oxigênio para manter sua chama, as células precisam se adaptar ao oxigênio disponível no ambiente. Já se conhece há séculos o papel fundamental do oxigênio para animais, que necessitam dele para transformar comida em energia a partir da ação das mitocôndrias, contudo pouco se sabia sobre como as células se adaptam às mudanças nas concentrações de oxigênio no ambiente.
Os pesquisadores conseguiram desvendar o maquinário molecular que regula a atividade de genes dependendo dos níveis de oxigênio, afetando o metabolismo celular e o funcionamento fisiológico. As pesquisas sobre como o oxigênio é sentido pelas células permitiram novas estratégias de tratamento contra a anemia e câncer.
Segundo Randall S. Johnson, pesquisador da Universidade de Cambridge na área de fisiologia molecular que comentou a láurea, as descobertas dos três pesquisadores são fundamentais no entendimento de como as células funcionam, o tipo de conhecimento que estará nos livros escolares.
Os vencedores, anunciados na manhã desta segunda-feira (7), no Instituto Karolinska, na Suécia, dividirão o prêmio de 9 milhões de coroas suecas, o equivalente a cerca de R$ 3,7 milhões, e cada um receberá medalha com a inscrição "É benéfico ter melhorado a vida humana pelas artes descobertas" (frase presente no livro "Eneida", poema de Virgílio) e um diploma. O dinheiro é derivado de um fundo de 4 bilhões de coroas suecas --cerca de R$ 1,6 bilhão.
A láurea é destinada a pesquisadores que fizeram as descobertas mais importantes no campo da fisiologia ou medicina, segundo o testamento de Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite. Entre as láureas científicas, o Nobel de Medicina é o que mais premiou mulheres até agora --foram 12 entre 216 laureados. Considerando todos os prêmios, o da Paz foi o que mais premiou mulheres, com 17 ganhadoras entre 133 laureados.
O Nobel de Medicina é entregue desde 1901 e, desde então, não foi destinado a nenhum pesquisador em nove ocasiões entre os anos de 1915 e 1942. Durante a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, menos láureas foram distribuídas. No ano passado, o Nobel de Medicina ficou com o americano James P. Allison e com o japonês Tasuku Honjo pelas descobertas ligadas ao combate do câncer com imunoterapia --com drogas que potencializam o sistema imune contra as doenças.
Basicamente, a imunoterapia consegue tirar o "disfarce" do tumor para o corpo luta contra o problema. Trata-se de uma arma a mais no combate ao câncer, junto com quimioterapia, cirurgia e radioterapia. Em 2017, três americanos, Jeffrey C. Hall, Michael Rosbash e Michael W Young, foram premiados pelas descobertas dos mecanismos moleculares por trás dos ritmos circadianos.
Para chegar aos nomeados à láurea, o Comitê do Nobel envia mais de 3.000 cartas confidenciais para pessoas competentes e qualificadas, como membros da Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska, pesquisadores da área médica e biológica da Academia Real Sueca de Ciências e ganhadores anteriores do prêmio, para indicar os candidatos ao Nobel. Autoindicações não são consideradas.
Após as indicações serem avaliadas por especialistas, o Comitê do Nobel faz recomendações e, por votação, os 50 membros da Assembleia do Nobel no Instituto Karolinska escolhem os vencedores. Na história, já foram premiadas com o Nobel de Medicina as descobertas da estrutura do DNA por James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins (1962), da penicilina por Fleming e outros (1945), a da estrutura do sistema nervoso por Camillo Golgi e Santiago Ramón y Cajal (1906), da insulina (1932), da relação entre HPV e câncer (2008), e da fertilização in vitro (2010).
*Kleber Passo, com informações do Folha S.P.
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