Vai e vem de pessoas apressadas.
Bagagens nas esteiras. Semblantes pensativos e fatigados. A todo momento, uma
voz mecânica anuncia a próxima conexão aérea. Terminal de voos internacionais.
Voo 717: São Paulo – Paris...
“Ainda bem que fiquei na janela. Poderei
contemplar o Atlântico. Meu coração pulsa de ansiedade. Desejo muito conhecer a
capital francesa. Tentarei cochilar, mas sei que a decolagem atrapalhará meus
planos. Mesmo assim, continuarei de olhos fechados...”
“Sabia que não conseguiria cochilar. Só me
resta observar a imensidão do oceano. [Pausa longa do pensamento]. Essa energia
é familiar, mas não a conheço. O perfume dela é maravilhoso. Poderia puxar
conversar. Melhor não. Ela está ocupada na leitura. Sinto um leve toque no meu
ombro...”
– Bom dia. Perdão pelo incômodo. Você tem um carregador de celular
disponível?
– Tenho sim. Um minuto.
– Está bem.
– Aqui.
– Obrigada!
– Por nada! Poderia dar uma olhadinha nesse livro?
– Claro. É um livro de contos.
– Gosto muito deste tipo de leitura. O meu contista preferido é Machado
de Assis.
– O meu também.
“A voz e o jeito de
falar são familiares. Tenho a leve sensação que a conheço. Sinto uma conexão entre nós
dois. É algo difícil de explicar racionalmente...”
– Você já conhece Paris?
– Não. E você?
– Também não. Estou ansioso.
– Onde você vai se hospedar?
– Ainda não sei. Não fiz reserva.
– Eu também não fiz. Você poderia me ajudar?
– Claro! Encontraremos juntos a nossa hospedagem.
– Sim! Juntos!
“Não
é coisa de minha cabeça, mas os olhos dela brilharam quando falei ‘juntos’. A
presença dela é muito agradável. Literalmente, esta viagem vai passar
voando...”
“Poucos minutos se passaram: ela cochilou e
pousou o rosto no meu ombro. Estou um pouco nervoso e indeciso. Que vontade de
fazer cafuné. É melhor não incomodá-la. Ela é fofinha. Pensando bem: farei
cafuné sim. Eu ficaria assim eternamente...”
– Oi. Oi. Já estamos chegando.
– Nem percebi. Acabei dormindo.
“Quando o avião estava aterrissando, ela
pegou na minha mão e apertou bem forte. Que ótima energia! Até parece que já
senti este toque. Sei lá. Aparentemente conheço-a de outras vidas...”
– Vamos. Vamos. Como está o teu francês?
– Razoável. E o teu?
– Abaixo do razoável.
– Se o francês falhar, apelaremos à mímica.
– Concordo plenamente contigo Mulher.
“Ainda bem que, em pouco tempo, encontramos
a hospedagem. Ficamos no mesmo quarto. Sugeri a ela que ficasse em outro
quarto; ela discordou, logo não me opus à tal objeção...”
– Querido, estou caindo de sono. Vou dormir. Tenha uma ótima noite.
– Uma ótima noite para você também.
“Apesar da longa viagem, não estou
cansado. Na verdade estou, porém a presença dela mexeu comigo. Não consigo
dormir. A noite avança. Já estou sonolento...”
“Perfume agradabilíssimo ecoa pelo ar.
Corpo quebra a madrugada. Surpresa estonteante acomete a mente masculina.
Beijos suaves no pescoço. A excitação explode. A camisola despenca do corpo
esbelto, revelando a lingerie azul. O coração dispara. Os lábios trocam saliva.
As línguas quentes se entrecruzam. A respiração fica mais ofegante. A língua
desliza ao longo do pescoço. Sutiã ao chão. Seios pontiagudos e deliciosos. Barriga
apetitosa. Parte inferior da lingerie encharcada. Língua desce e sobe, circula
levemente até explorar o ponto máximo do prazer. Gemidos ressoam no espaço. Os
pontos máximos do prazer são experimentados no mesmo instante. Beijos e mais beijos.
Corpo masculino em cima. Breve pausa. Olhares profundos. Entra 25%. Sai.
Novamente 25%. Sai... Entra 50%. Sai. Novamente 50%. Sai... Entra 100%. Gemido
agudo. Sai. Novamente 100% com toda força. Movimentos bem lentos. A velocidade
aumenta paulatinamente. Explosão! Intensidade! Máxima velocidade! Movimentos circulares.
Gritos de prazer. Olhos fechados. Palavras provocantes ao ouvido repetidas como
um mantra. O calor aumenta. Corpos transpiram. Os suores se unem. A mente
esquece a existência, o passado e o futuro. O que existe é somente o instante.
Não há reflexão nem racionalidade. O instinto selvagem impera. Dois seres: o
macho e a fêmea. Equilíbrio perfeito entre os princípios masculino e feminino.
O corpo estremece de prazer. Variação nos movimentos e nas posições. Gotas de
suor pingam no lençol azul. Quarto à meia-luz. Lâmpadas apagadas. Abajur aceso.
Ar-condicionado ligado. Respiração profunda. Corações a mil. Doce frio. Pernas
trêmulas. Gozo. Satisfação. Prazer...”
– Mulher. O que aconteceu?
– Difícil explicar.
– Estou em êxtase.
– Nossa química é surreal.
– Sem dúvida.
– Temos muita sintonia.
– É verdade.
– Até parece que nos conhecemos há tempos.
– Mulher, quando te vi ao meu lado no avião, tive a impressão que já te
conhecia.
– Eu também.
– Talvez tenhamos nos conhecido em outras vidas.
– É a única explicação plausível.
– Será preciso nos apresentarmos?
– É óbvio que não, afinal já nos conhecemos de outras vidas.
–
Minha Mulher, não percamos tempo. Beije-me! Beije-me!
– Faço o mesmo pedido para você Meu Homem. Beije-me! Beije-me!
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