Com o final da Segunda Guerra
Mundial, centenas de milhares de prisioneiros dos campos de extermínio nazistas
foram libertados. Eram na maior parte judeus, sôfregos não apenas por contar
casos de torturas e execuções, como sair ao encalço de seus algozes. Para
satisfazer às vítimas e, ao mesmo tempo, encerrar o assunto em nome da
reconstrução da Europa, as nações vencedoras promoveram três julgamentos
exemplares de líderes nazistas: Nuremberg, Dachau e Auschwitz, de 1945 a 1947.
Mas não foi o suficiente.
À margem do Estado indiferente,
cidadãos comuns conhecidos como caçadores de nazistas passaram a fazer justiça
por conta própria. Mas a sanha vingativa deu origem a processos que, pouco a
pouco, tiveram sucesso em localizar e julgar os culpados pelas atrocidades. O
que era desforra se transformou em Justiça.
O período de perseguições, capturas
e julgamentos se estendeu de 1946 a 2011. “Agora que a temporada de caça de 65
anos acabou, chegou a hora de narrar a história e analisar os fatos”, afirma à
ISTOÉ o jornalista americano Andrew Nagorski, autor do livro.
“Caçadores de nazistas”, lançamento
da editora Intrínseca. Ele trabalhou
como correspondente da revista Newsweek na
Europa, o que lhe permitiu entrevistar centenas de envolvidos, além de ter tido
acesso a documentos em arquivos locais. “Eu me senti qualificado para redigir o
capítulo final da Segunda Guerra.”
Tudo começou nas ruínas do Reich,
quando um jovem arquiteto escravizado em vários campos de concentração assistiu
ao extermínio da família. Chamava-se Simon Wiesenthal. Livre, jurou aniquilar
cada um dos criminosos nazistas. Ao lado dos EUA, reuniu documentos de oficiais
e cúmplices genocidas. Rompeu com os americanos por achá-los crédulos às
mentiras dos belos e arianos oficiais alemães, que “confundiam com astros de
Hollywood”.
Em 1947, fundou o Centro Simon
Wiesenthal na Áustria. A instituição coordenou ações de buscas aos nazistas, o
que culminou com a captura, em 1960, em Buenos Aires, do tenente-coronel Adolf
Eichmann pelo Mossad, serviço secreto israelense. Mesmo assim, Wiesenthal foi
acusado de encobrir nazistas, como o secretário-geral da ONU e presidente
austríaco Kurt Waldheim.
Os impunes
“Criminosos foram julgados e presos,
assim como inocentes foram executados’, afirma Nagorski. “Além disso, outros
tantos restaram impunes.” É o caso do médico Josef Mengele, o “Anjo da Morte”,
que “burlou o Mossad e morreu incógnito no Brasil”. Para seguir as pegadas
esmaecidas de Mengele e entender como ele escapou, o jornalista francês Olivier
Guez viajou pela Argentina e Brasil.
O resultado é o romance de não
ficção “O desaparecimento de Josef Mengele”, também lançado pela Intrínseca. Segundo Guez, muitos
técnicos nazistas foram aproveitados nas ditaduras sul-americanas. “Mengele se
beneficiou da Operação Odessa, uma rede de proteção de refugiados hitleristas”,
afirma Guez à ISTOÉ. “Teve sorte de evitar a prisão.” Mas não evitou julgamento
da História: seus restos foram exumados em 1985 e recebeu a sentença post mortem proferida por Wiesenthal.
O legado dos caçadores de nazistas,
diz Nagorski, foi ter elaborado um sistema legal internacional não controlado
por governos: “Eles provaram ser mais eficazes que o Tribunal Internacional de
Justiça, sediado em Haia, que se mostrou inócuo”. A experiência em lidar com
criminosos nazistas, para ele, lançou métodos eficazes para julgar casos
futuros de crimes de guerra.
(Fonte: IstoÉ
/ *Edição OutroOlharInfo)
0 comments: