quinta-feira, 4 de julho de 2019

"SONSA E CHANTAGISTA" POR TOSTA NETO


Paulinho, filho caçula, estudante do Ensino Médio, extrovertido, vivia intensamente os arroubos da adolescência: paqueras, gracejos, conversas vazias com os amigos e babas no fim da tarde. A angústia da existência ainda não havia atingido o âmago do garoto.
    Nos últimos dias, seu querido irmão, recém-casado, voltou a morar na sua cidade, regresso que alegrou o coração de Paulinho. Sem delongas, foi visitar o irmão. A alegria do garoto era contagiante:
    – Meu irmão, quanto tempo!
    – Realmente Paulinho. Venha aqui me abraçar!
    – Fiquei com muita saudade de você.
    – Eu também. E os estudos?
    – Mais ou menos.
    – Como diria um ex-professor meu: “mais pra mais ou mais pra menos?”
    – Pra menos – risos.
    – Você precisa estudar. E o futebol?
    – Estou bem demais. Fui convocado para seleção daqui da cidade.
    – Messi ou Cristiano?
    – Messi, claro!
    – Ah, preciso te apresentar minha esposa. Ritinha, venha aqui conhecer o Paulinho.
    Ritinha, estatura baixa, tez branca, cabelos pretos, olhos prateados e corpo esbelto. Sorriso acanhado, tímida e econômica nas palavras. Na flor da idade, resolveu casar.
    Paulinho morava com os pais. Seu pai era mais ausente por causa da rotina de trabalho. D. Zilda era a autêntica mãe coruja, marcava o filho de perto, preocupada ao extremo quando Paulinho não estava em casa e era uma progenitora sábia, carinhosa e exigente. À noite, receberam a visita do filho mais velho e de Ritinha. Foi uma grande alegria na família.
    Passaram-se uns dias e Paulinho foi na casa do irmão. Ritinha abriu a porta:
    – Ritinha, meu irmão está?
    – Não. Ele saiu e vai demorar.
    – Certo. Depois passo aqui.
    – Entre! Vamos tomar um suco.
    Meio desconcertado, Paulinho responde:
    – Deixa pra outro dia.
    – E se não houver outro dia?
    – Tudo bem. Vou entrar, mas não posso demorar.
    – Ótimo! Entre, entre. Fique à vontade. Espere aqui na sala.
    – Tudo bem.
    – Vou fazer o suco e volto.
    Paulinho senta no sofá e fica pensativo, esquecendo o mundo exterior. Fala consigo: “não entendo. Ela foi fazer o suco e entrou no quarto.” A abstração do garoto é cortada com a volta de Ritinha:
    – O suco vai ficar para próxima. Podemos fazer outras coisas – Ritinha se aproxima e fixa um olhar sedutor e vertical.
    O garoto fica sem reação. Olhos paralisados em Ritinha. Semblante exala incredulidade. Coração acelera. As palavras sumiram. O cérebro não consegue organizar o raciocínio. Após um minuto tão longo quanto a eternidade, a única ideia de Paulinho foi: “vou fugir.” Ele saiu correndo da casa do irmão e parou na pracinha para “pegar um ar”. Subsequente ao estado de alvoroço, Paulinho conseguiu processar o pensamento: “Nossa Senhora! O que foi aquilo? Que apelação! Ela teve a ousadia de vestir uma lingerie e me provocar daquele jeito. Ela é minha cunhada. Que menina maluca! Mas, ela tem um corpinho em cima. Nossa! Que curvas! Deus me perdoe, mas por uns segundos, tive um desejo louco por ela.”
    Após este fato inesperado, Paulinho não parava de pensar em Ritinha. Toda noite, sonhava com a cunhadinha de corpo esbelto. Paulinho tentava, contudo não conseguia tirar Ritinha da cabeça. Por outro lado, estava triste e com peso na consciência, afinal ela é esposa do seu querido irmão. Paulinho estava afogado num mar de dúvidas e emoções.
    Paulinho enfrentava uma crise moral, acorrentado na incessante guerra entre a razão e a emoção. Ritinha se transformou em obsessão e pesadelo. O caos mental era tamanho, que ele abdicou de ir na casa do irmão, só assim, não veria a estonteante Ritinha. Por enquanto, Paulinho estava livre das garras da cunhadinha.
    Todavia, a carta da imprevisibilidade sempre está na mesa...
    – Paulinho, vá na casa do teu irmão e deixe esta encomenda.
    – Mãezinha, agora não vou poder.
    – Por quê?
    – Estou ocupado.
    – Com o que mesmo?
    – Mais tarde, o pai leva lá.
    – Não! Deve ser agora. Leve e não reclame.
    – Está bem.
    O trajeto até a casa do irmão voou. Paulinho só queria a Joia do Tempo para adiar esse momento. Ele estava visivelmente nervoso. Coração a mil. Pernas trêmulas. Energia baixa. Enfim, Paulinho conseguiu bater na porta...
    – Vim entregar esta encomenda.
    Num gesto brusco, Ritinha puxa Paulinho pelo braço e tranca a porta.
    – Hoje você não me escapa. Se você não fizer o que eu mandar, vou gritar para toda vizinhança ouvir e dizer que você está tentando me estuprar.
    Depois de “um silêncio ensurdecedor”, Paulinho abre a boca:
    – Pelo visto, não tenho escolha – voz desfalecida.
    – Não! – brada Ritinha.
    – Quero ir embora.
    – Não e não. Agora, você é o meu escravo.
    Ritinha pega Paulinho e o arremessa no sofá. Senta nas pernas do garoto e o beija de forma animalesca. Paulinho resiste bravamente, mas a emoção vence a batalha. O jovem reage e beija Ritinha, depois deita por cima dela e impõe:
    – Não serei teu escravo. Vou te acabar. Vou te dominar.
    – Isso! Adoro! Quero muito!
    – Vou te matar de prazer sua safada.
    – Mate-me! Mate-me...

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