Uma data importante para a
comunidade astronômica está prestes a completar um quarto de século. Aconteceu
25 anos atrás, entre 16 e 22 de julho de 1994: um grande cometa despedaçado
colidiu com Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Os impactos criaram
manchas escuras que permanecerem durante meses na atmosfera do gigante gasoso.
Foi a primeira vez que astrônomos
tiveram a chance de acompanhar, em tempo real, a colisão de um cometa com um
planeta.
Além de ter fornecido aos
cientistas dados inéditos, o evento também soou a sirene para o fato de que o
Sistema Solar não é tão estático quanto parece. Grandes colisões não eram coisa
do passado distante – e se Júpiter estava vulnerável, a Terra também podia
estar.
Caso tivesse atingido nosso
planeta, o resultado provavelmente teria sido uma catástrofe parecida com a que
dizimou os dinossauros, há 66 milhões de anos. “O Shoemaker-Levy 9 foi meio que
um soco no estômago”, disse em comunicado da NASA a astrônoma Heidi Hammel, que
coordenou estudos importantes ao longo do acontecimento.
“Ele realmente reforçou nosso
entendimento do quão importante é monitorar nossa vizinhança local, e entender
qual é o potencial para impactos na Terra no futuro”, explica a pesquisadora,
líder das observações realizadas com o Hubble.
Cometas são bolas congeladas de gás
e poeira que orbitam o Sol e formam uma das classes de objetos que podem causar
imensos estragos quando acertam planetas. Os outros são asteroides, restos
agregados do material rochoso que formou o Sistema Solar.
O Shoemaker-Levy 9 havia sido
descoberto só um ano antes, em 1993. Logo ficou claro que ele estava em rota de
colisão com Júpiter. Ao investigar com mais atenção, os cientistas descobriram
que ele havia sido capturado pela gravidade joviana em algum momento nos anos
60 ou 70, e que permaneceu orbitando o gigante gasoso até julho de 1992, quando
foi fragmentado pelas intensas forças gravitacionais.
Ao todo, 21 pedaços do SL9 caíram
em Júpiter durante aqueles seis dias de 1994. O tamanho desses fragmentos
variava bastante: alguns tinham centenas de metros de diâmetro, enquanto o
maior media enormes dois quilômetros.
Ele caiu no dia 18 e formou na
atmosfera uma “cicatriz” de 12 mil quilômetros de diâmetro – a Terra caberia
ali dentro.
Graças à antecedência da descoberta
da colisão, os cientistas puderam planejar com calma uma verdadeira
força-tarefa global de observações dessa oportunidade única. “Esses impactos
juntaram pesquisadores de cometas, especialistas na atmosfera de Júpiter e
astrônomos, que se uniram para discutir como iriam observar o evento”, disse
Kelly Fast, gerente do Programa de Observações de Objetos Próximos à Terra, da
NASA. Além do Hubble, o telescópio IRTF no Havaí e a sonda Galileo, que estava
viajando rumo à Júpiter, registraram o impacto.
A principal contribuição do evento
foi o entendimento do que acontece a um planeta após sofrer um impacto tão
violento. Com isso, o próprio conceito de “defesa planetária” foi inventado.
As informações fornecidas pelo
Hubble sensibilizaram os congressistas americanos para investir mais em
levantamentos para detectar asteroides. Em 1998, a NASA foi direcionada a
detectar 90% dos objetos maiores que um quilômetro nas redondezas terrestres,
meta batida em 2010.
Agora, a nova meta é identificar a
mesma quantidade de corpos menores, entre 140 metros e um quilômetro, que
também causariam danos no caso de um impacto.
Hoje em dia, o assunto é levado
muito a sério: existem escalas para quantificar o risco de colisões e
protocolos a serem seguidos no caso de uma confirmação. E é essencial que essas
pesquisas sigam em relevância – um dia, pode ser a nossa sobrevivência em jogo.
(Fonte: Superinteressante / *Edição OutroOlharInfo)
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