Segunda-feira, 15 de abril de 2019,
a humanidade estupefata testemunha o incêndio na Catedral de Notre-Dame. Em
Paris, os transeuntes relutavam a acreditar no fogo infernal que consumia um diamante rosa da arquitetura gótica
medieval. Notre-Dame, patrimônio da humanidade, um dos pontos turísticos mais
visitados da Europa, ostenta o título de maior símbolo do catolicismo na França.
Homenagem a Virgem Maria, construção
iniciada em 1163 e finalizada em 1345, é um legado da magnífica arte
arquitetônica dos tempos medievais. O inconfundível estilo gótico encanta a
todos diante de tamanha imponência.
Concebida na Baixa Idade Média, Notre-Dame atravessou os séculos. O esplendor
arquitetônico da icônica catedral demonstra o quão a Idade Média foi um período fascinante da história da humanidade.
Não repitamos o erro grosseiro que a Idade
Média foi a “Idade das Trevas”; sabe-se que houve produção filosófica,
científica, literária e arquitetônica. Na Baixa
Idade Média ocorrera o fortalecimento do comércio, ocasionando o acúmulo
expressivo de recursos, status que teve reflexo na proliferação de igrejas
góticas no período histórico em questão. O estilo gótico é arrojado nos
detalhes, além da proeminência de torres que aparentemente invadem o
firmamento.
Notre-Dame foi o palco da coroação
de muitos reis franceses, porém a mais emblemática aconteceu no século XIX. Em
1804, Napoleão Bonaparte toma a coroa do Papa Pio VII e autoproclama-se
Imperador da França. Este gesto simbólico limitou a interferência da Igreja
Católica nos assuntos políticos, corroborando com o ideal de laicização do
Estado preconizado pelos filósofos iluministas e revolucionários franceses.
Outro episódio inexorável em Notre-Dame foi a cerimônia de beatificação de
Joana d’Arc, heroína na Guerra dos Cem
Anos que fora elevada ao posto excelso de Padroeira da França.
Estimado Leitor, não posso
finalizar este artigo sem citar o clássico O
Corcunda de Notre-Dame de Victor Hugo, romance publicado em 1831, cujo
personagem principal o coxo e corcunda Quasímodo, guardião dos sinos de
Notre-Dame, apaixona-se pela cigana Esmeralda, esta por sua vez, enamora-se
pelo capitão Phoebus de Châteaupers. O
Corcunda de Notre-Dame é uma obra-prima da literatura francesa do século
XIX. Assim como inspirou Victor Hugo, Notre-Dame continuará a inspirar muitas
gerações. O nefasto incêndio não será capaz de aniquilar a suntuosidade de uma
“Joia da Coroa” da arquitetura universal.
No século XX, Notre-Dame passou
incólume na Primeira Guerra Mundial e na ocupação nazista da França na Segunda
Guerra. Este incêndio já é uma das principais chagas dos tempos contemporâneos.
Antes mesmo do fogo ser controlado pelos intrépidos bombeiros, alguns
bilionários ofertaram quantias vultosas à reconstrução da catedral. A projeção
mais otimista estima que o trabalho será efetuado em 5 anos. O espanto, a
grandiosidade e a admiração que cercam Notre-Dame serão molas propulsoras no
processo de reconstrução. Aguardemos a mente engenhosa e a fé inesgotável da
humanidade colocarem “as mãos na massa”. Tal qual a Fênix, Notre-Dame renascerá
literalmente das cinzas. Enfim, caberá ao século XXI o nobre papel de
reconstruir uma das grandes maravilhas geradas pela sapiência humana.
(Tosta Neto, 20/04/2019)
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