Recentemente, assisti a série O Justiceiro na Netflix. Quase que de
forma instantânea, identifiquei-me com o personagem principal Frank Castle e
tive o insight para escrever este
artigo. Com a explosão do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM) e a
popularização da internet, os heróis das revistas em quadrinhos voltaram a ter
o protagonismo de outrora na cultura pop. Eu poderia escrever uma reflexão
sobre o Justiceiro, porém ainda não
tenho condições para tal empreitada; preciso de mais tempo para entender a psique do querido e enigmático Frank.
Tentarei refletir sobre o fascínio que os anti-heróis exercem nos fãs.
O mundo dos quadrinhos está repleto
de heróis, anti-heróis e vilões. Prezado Leitor, a priori, utilizarei alguns personagens para ilustrar as minhas
modestas explanações; estas escolhas têm somente um critério: carinho.
Notoriamente, no UCM o Capitão América
é um personagem central, quiçá a melhor personificação do herói. Steve Rogers é
dotado de virtudes: patriota, justo, altruísta, prestimoso e fraterno.
Procuramos um defeito nele e não encontramos. Rogers é o típico modelo de
soldado patriota dos Estados Unidos. Sem dúvida, é um personagem querido, embora
alguns fãs não gostam dele, pois o acham “muito certinho”. Sabe-se que qualquer
personagem não traz consigo a unanimidade; é obvio que o Capitão América não fugiria desta máxima.
Em contraposição ao herói emerge a
figura do vilão. Vale salientar, que o vilão clássico normalmente é cruel e
desumano, despertando ojeriza por causa da ausência do mínimo senso de
humanidade. Mas, nos derradeiros anos, sobretudo no filme Guerra Infinita, o vilão vem sendo humanizado. Thanos, apesar de
ter aniquilado a metade dos seres vivos do universo, traz consigo algumas
características que o humanizam, como a crença que estava a fazer a coisa certa
(para que houvesse disponibilidade de recursos) e o sacrifício pessoal para
conseguir as Joias do Infinito.
Ademais, o “Titã Louco” chorou diante da morte de Gamora e demonstrou piedade à
Feiticeira Escarlate antes do nefasto
estalo de dedos. Apesar dos pesares, há inúmeros fãs que apresentam apreço
pelos vilões.
Na transição entre o herói e o
vilão, encontra-se o anti-herói. Como o título do artigo sinaliza, os
anti-heróis são muito amados. Alguém tem dúvida que entre os X-Men, Wolverine é o mais querido? Mesmo compondo
um grupo seleto de heróis, Logan entra na categoria dos anti-heróis: explosivo,
individualista, pouco simpático ao sentimentalismo e inclemente com os
adversários. Não posso furtar-me de citar o Justiceiro,
um genuíno anti-herói: perito em armas, mestre em luta corporal, descrente das
instituições e individualista. Frank Castle não hesita na aplicação da tortura
para extrair informações dos bandidos. O Justiceiro
tem um forte senso de justiça, autêntico defensor dos inocentes e não tem
piedade dos criminosos. Perante a ineficiência do Estado, Castle apresenta uma
sede insaciável de fazer justiça com as próprias mãos; quem nunca teve vontade
de efetuar tal ato?
Eis a questão: por que nos
identificamos tanto com os anti-heróis? É muito simples: os anti-heróis e nós,
seres humanos, temos defeitos e sofremos com as mazelas da existência. O
anti-herói traz uma projeção das dores da humanidade e, como qualquer ser
humano em sã consciência, demonstra complacência com os indefesos e
insatisfação no tocante as injustiças na sociedade. Os seres humanos não são
infalíveis, em contraposição, os heróis tradicionais são quase deuses e
coadunados ao ideal de perfeição, por conseguinte, nos identificamos àqueles
que são semelhantes a nós, isto é, a própria figura do anti-herói.
O ser humano é um amálgama de
sentimentos confusos e ações dúbias a transitar por mundos antípodas, destinado
a carregar o peso de suas escolhas. Enfim, o ser humano está na interseção
entre o bem e o mal. Para corroborar o raciocínio em questão, apelo a Friedrich
Nietzsche, que afirmara em sua obra-prima Assim
falou Zaratustra: “o homem é uma corda estendida entre o animal e o
super-homem – uma corda sobre o abismo.” Parafraseando o grande filósofo
alemão, concluo com o seguinte aforismo: o
anti-herói, isto é, o ser humano, é uma corda estendida entre o herói e o
vilão, uma ponte entre o bem e o mal, o elo entre as forças antagônicas do
universo.
Tosta Neto, 15/03/2019
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