Em setembro de 2018, aqui na SUPER,
você conheceu um simpático fóssil em forma de biscoito chamado Dickinsonia – descoberto pelo estudante
de doutorado russo Ilya Bobrovskiy em uma encosta íngreme na fronteira da
Finlândia com a Rússia. Com 558 milhões de anos de idade, ele se tornou o
animal mais antigo conhecido.
Até agora. Um fóssil de
carambola-do-mar de 600 milhões de anos acaba de ser encontrado na formação
geológica de Doushantuo, no sul da China. Zhenbing She, o pesquisador
responsável, anunciou a descoberta durante uma reunião da Sociedade Geológica
de Londres realizada nesta semana. Doushantuo é um lugar promissor para a
paleontologia: em agosto de 2016, fósseis microscópicos misteriosos
provenientes de suas rochas, que podem ser resquício de algas unicelulares ou
embriões de animais primitivos, foram datados em 631 milhões de anos. O
conjunto desses fósseis é conhecido como biota
de Weng’an.
Carambolas-do-mar tem consistência
gelatinosa – seu corpo consiste essencialmente em um saco de um tecido
transparente chamado mesoglea –, e podem alcançar um metro e meio. Se locomovem
usando conjuntos de cílios que, vistos de longe, lembram um pente.
Superficialmente, se parecem muito com águas-vivas, embora do ponto de vista
taxonômico pertençam a um filo próprio, o dos ctenóforos (as águas-vivas são
cnidários. Parecido, mas não igual).
As carambolas-do-mar são a prova de
que menos é mais. Elas mantêm essencialmente a mesma aparência desde a origem
da vida multicelular na Terra – o que as torna excelentes janelas para o
passado. Segundo Zhenbing She, a carambola fossilizada recém-descoberta é muito
parecida com a de um tipo de carambola contemporânea pertencente ao gênero Pleurobrachia (conhecida pelos
cientistas como groselha-do-mar. As analogias com frutas, aparentemente, são
populares).
Por muito tempo, o marco zero da
vida animal na Terra foi um evento chamado explosão do Cambriano, ocorrido há
541 milhões de anos. Uma famosa formação geológica chamada Burgess Shale,
descoberta por Charles Walcott em 1909 na província canadense de Columbia
Britânica, contém fósseis de criaturas com anatomias extremamente variadas –
algumas das quais não tem equivalentes na fauna contemporânea. Esse aumento
repentino de biodiversidade (até aquele ponto, a vida na Terra era total ou
majoritariamente unicelular) é muito importante para a história natural.
Por volta da década de 1960, graças
a uma série de fósseis engavetados (o mais antigo deles coletado ainda do
século 19), paleontólogos começaram a perceber que havia um conjunto de
bichinhos anteriores à explosão do Cambriano, batizados coletivamente de Biota Ediacarana. O Dickinsonia, antigo detentor do título de animal mais antigo
conhecido, pertencia à esta biota.
A carambola-do-mar chinesa, porém,
é ainda mais antiga – e, portanto, ainda mais especial. A biota de Weng’an ainda está cercada de dúvidas. Mas, se continuar
rendendo fósseis nesse ritmo, pode se tornar um dos sítios mais importantes da
paleontologia.
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