A religião é uma temática que
suscita várias reflexões, das mais abissais até aquelas imiscuídas de opiniões
do senso comum. O componente religioso é imprescindível para compreender a
humanidade na sua plenitude. É na religiosidade que cada povo se autodetermina,
desde a cosmogonia ao enigma do pós-morte. Quiçá a religião seja a principal
identidade de um povo. A religiosidade é o “porto seguro” que amaina as
angústias do vazio da existência e objetiva conceder sentido à vida.
Quase que de forma natural, quando
a palavra religião é proferida, de
imediato vem à tona a figura de deus
ou deuses. Religião e divindades são
faces da mesma moeda, porém, o Budismo
evade desta regra. Como é possível uma religião sem seres divinos? Responde-se a
supracitada pergunta com o devido conhecimento dos preceitos de Buda. O leitor
desavisado, talvez ache que o Budismo
tenha nascido na China, no Japão ou na Coreia. Esta religião milenar nasceu na
Índia, fundada pelo príncipe hindu Sidarta Gautama. O Budismo é uma extensão do Hinduísmo,
outra religião fascinante e rebuscada de simbolismos.
Sidarta Gautama nasceu numa corte
ao sul do atual Nepal. Cercado de todo luxo, o jovem príncipe não conhecia a
realidade do povo; sua percepção de mundo se resumia às imediações internas do
palácio real. Certa vez, afetado pela ausência de espiritualidade, Sidarta
abandonou tudo e saiu pela Índia para apreender de fato a essência das coisas.
Obviamente, influenciado pelos preceitos hindus, o jovem príncipe vislumbrou na
transcendência espiritual um meio para atingir o significado da existência. Ao
não cultuar os deuses, guarnecer o poder da meditação e buscar o sentido da
vida no próprio âmago, Sidarta Gautama fundou uma nova religião.
Após inúmeras peregrinações e êxtase
transcendental, Sidarta atingiu o Nirvana,
que no Budismo é o estado supremo de
paz espiritual. Sidarta recebeu o título de “Buda”, que em sânscrito (língua
sagrada da Índia) quer dizer “Iluminado”. Portanto, os budistas não cultuam
Buda, que é tão somente uma referência espiritual; no Budismo, o Panteão dos Deuses está vazio. Indubitavelmente, Buda
fizera uma das maiores revoluções espirituais da história da humanidade.
Quem não conhece o Budismo pode achar inconcebível a
existência duma religião desprovida de deuses. Buda provou que é possível e nos
legou o dharma (conjunto das verdades
nobres que conduz o ser humano ao Nirvana).
Embora o autor que vos escreve reconhece a grandiosidade das religiões teístas.
Vale salientar que alguns aventureiros do pensamento bradam nos quatro cantos a
necessidade de aniquilação da religião. A questão não é tão simplória; a
religião é o mito fundador da humanidade e estabelece regras que zelam pela paz
e ordem social. Não entremos em discussões ocas e oportunistas que definem a
religião como a pior invenção da humanidade. Nossa vida é um emaranhado de
tormentas, por conseguinte, precisamos do apoio das religiões para completar a perigosa
e apaixonante travessia da existência.
Tosta Neto, 24/01/2019
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