terça-feira, 29 de janeiro de 2019

“A LINGERIE VERMELHA” POR TOSTA NETO


     – E tua nova vizinha? 
    – Ainda não tive contato. Ela é feia demais! Usa óculos fundo de garrafa e só anda com um saião; parece um bumba-boi – responde Serginho em tom sarcástico.
    – Não julgue a menina pelas vestimentas.
    – Que nada Paulo!
    – Ela costuma sair com frequência?
    – Nem isso! Só sai de casa acompanhada dos pais para o culto na igreja do nosso bairro.
    – Ela não vai à escola?
    – Não.
    – Ela já deve ter concluído o Ensino Médio. Quanto a nós, chegamos na derradeira etapa.
    – Graças a Deus! Não aguento mais aquele colégio.
    Após o encerramento do turno de aulas, os amigos Serginho e Paulo conversam despreocupadamente no Bar do Osmar. Os diálogos eram corriqueiros; debatiam sobre futebol e carros, mas as mulheres sempre eram a principal temática.
    Serginho tinha 17 anos. Era desleixado nos estudos, todavia demonstrava muito apreço pelo trabalho. No turno oposto ao colégio, labutava com afinco na oficina do pai. À noite, dava uma volta de bicicleta pela cidade. Costumava dormir cedo. Diferentemente dos seus colegas, não era tão assíduo nas redes sociais. O garoto nem prestava atenção em Rute, a nova vizinha citada por Paulo. Porém, certo dia, tudo mudou...
    O dia estava ensolarado. Serginho foi ao quintal pegar a toalha. Um pormenor usurpou a atenção do garoto...
“Uau! E essa lingerie vermelha no varal? Não é da velha. Só pode ser de Rute” – Serginho comenta consigo.
    O pobre garoto não conseguia tirar a lingerie vermelha da cabeça. Na escola, no trabalho, nos bate-papos com Paulo, nos passeios noturnos de bike, só surgia uma imagem mental: a lingerie vermelha. Certa vez, Serginho confessara a Paulo que tinha fetiche por mulher com lingerie vermelha.
    Serginho esqueceu os óculos fundo de garrafa e o saião de Rute. Não a via mais como um bumba-boi. Somente a via trajada com a lingerie vermelha. O garoto passou a observá-la de forma mais atenta; toda a rotina da vizinha foi mapeada. Serginho até sonhou com a bendita lingerie vermelha.
    O pobre garoto passou a dormir mais tarde depois da lingerie vermelha. Ficava a conjecturar mil e um planos para chegar até a dona da lingerie vermelha...
“Vou puxar conversa com ela pelo Facebook. Melhor não. Vou pedir o WhatsApp. Não será uma boa ideia. Vou chamá-la para sair. Ela não vai aceitar...”
    Coincidentemente, a janela do quarto de Rute estava alinhada com a janela do quarto de Serginho. Essa peculiaridade o torturava ainda mais. O fetiche pela lingerie vermelha estendeu-se para Rute. Serginho estava mui apaixonado pela menina feia com óculos fundo de garrafa.
    Certa vez, por volta da meia-noite, Serginho ouviu a janela da vizinha ranger. Ele olhou pelo buraco e contemplou Rute sem óculos. Bradou para si...
“Nossa! Ela é linda demais! Que rosto perfeito!”
    Na noite subsequente, a janela abriu no mesmo horário. Serginho correu para bisbilhotar. Rute estava com um baby-doll branco. O pobre garoto ficou congelado como uma estátua. O coração acelerou. O suor correu pelo rosto. O nervosismo e o desejo dominaram o corpo de Serginho...
“Nossa senhora! Ela tem um corpo escultural!”
    Na noite posterior, uma vez mais, a janela rangeu. Rute esbanjava um baby-doll vermelho. Serginho não sabia o que fazer. As pernas ficaram trêmulas. Caiu de costas na cama e imaginou incontáveis peripécias sexuais com Rute...
“Ela é muito gostosa! Quem dera deslizar minha boca naquele corpo.”
    Seguindo o script das três noites anteriores, a janela se abriu. Serginho seria arrebatado. Rute ostentava a lingerie vermelha. Serginho pulou na janela do quarto da agora linda vizinha; agiu de forma instintiva. Ela deu quatro passos para trás e parou ao lado da cama. Com o dedo indicador, fez um sinal de “venha” para Serginho. O afobado garoto, não hesitou e correu desesperado para os braços de Rute. A jovem advertiu-o com toda tranquilidade:
    – Calma. Fique calmo. Respire. Faremos tudo bem devagar.
    – Sim! Sim! – responde Serginho com a voz meio embargada.
    – Não abro mão das preliminares...
    Na manhã seguinte, Serginho acordou radiante de felicidade. Na noite passada, viveu um sonho de amor. Na escola e no trabalho, todos perceberam a contagiante alegria do garoto. Serginho jamais fora tão feliz. A noite chegou. A janela abriu religiosamente. Serginho nos braços de Rute. A lingerie vermelha na borda da cama. Desejo insano, volúpia, êxtase...
    – Serginho, preciso te dizer algo. Talvez você não goste.
    – Diga, Meu Amor.
    – Estou noiva.
    – Eu sabia. Vi no teu Facebook.
   – Minha família congrega numa religião muito conservadora. O noivado foi, mais ou menos, um conchavo entre a minha família e a do meu noivo com a interseção do pastor.
    – Sem problema, Meu Amor. Eu aceito passivamente ser teu amante.
    – Grata pela compreensão!
    – Porém, desejo que você atenda um pedido meu.
    – Fique à vontade.
    – Nunca use a lingerie vermelha com teu noivo; nem depois do casamento.
    – Teu desejo é uma ordem. Eu te prometo! – após ouvir a promessa de Rute, os olhos de Serginho cintilaram de emoção.     
    – Sem querer abusar. Posso te fazer outro pedido?
    – Faça.
    – Amanhã, use novamente a lingerie vermelha.
    – Claro que sim, Meu Bem!
    – Por tudo isso que eu te amo...

Um comentário:

CURTA!