– E tua nova vizinha?
– Ainda não tive contato. Ela é feia demais! Usa óculos fundo de garrafa
e só anda com um saião; parece um bumba-boi – responde Serginho em tom
sarcástico.
– Não julgue a menina pelas vestimentas.
– Que nada Paulo!
– Ela costuma sair com frequência?
– Nem isso! Só sai de casa acompanhada dos pais para o culto na igreja
do nosso bairro.
– Ela não vai à escola?
– Não.
– Ela já deve ter concluído o Ensino Médio. Quanto a nós, chegamos na
derradeira etapa.
– Graças a Deus! Não aguento mais aquele colégio.
Após o encerramento do turno de aulas, os amigos Serginho e Paulo
conversam despreocupadamente no Bar do
Osmar. Os diálogos eram corriqueiros; debatiam sobre futebol e carros, mas
as mulheres sempre eram a principal temática.
Serginho tinha 17 anos. Era desleixado nos estudos, todavia demonstrava
muito apreço pelo trabalho. No turno oposto ao colégio, labutava com afinco na oficina
do pai. À noite, dava uma volta de bicicleta pela cidade. Costumava dormir
cedo. Diferentemente dos seus colegas, não era tão assíduo nas redes sociais. O
garoto nem prestava atenção em Rute, a nova vizinha citada por Paulo. Porém,
certo dia, tudo mudou...
O dia estava ensolarado. Serginho foi ao quintal pegar a toalha. Um
pormenor usurpou a atenção do garoto...
“Uau!
E essa lingerie vermelha no varal? Não é da velha. Só pode ser de Rute” – Serginho comenta consigo.
O pobre garoto não conseguia tirar a lingerie vermelha da cabeça. Na
escola, no trabalho, nos bate-papos com Paulo, nos passeios noturnos de bike, só surgia uma imagem mental: a
lingerie vermelha. Certa vez, Serginho confessara a Paulo que tinha fetiche por
mulher com lingerie vermelha.
Serginho esqueceu os óculos fundo de garrafa e o saião de Rute. Não a
via mais como um bumba-boi. Somente a via trajada com a lingerie vermelha. O
garoto passou a observá-la de forma mais atenta; toda a rotina da vizinha foi
mapeada. Serginho até sonhou com a bendita lingerie vermelha.
O pobre garoto passou a dormir mais tarde depois da lingerie vermelha.
Ficava a conjecturar mil e um planos para chegar até a dona da lingerie
vermelha...
“Vou
puxar conversa com ela pelo Facebook. Melhor não. Vou pedir o WhatsApp. Não
será uma boa ideia. Vou chamá-la para sair. Ela não vai aceitar...”
Coincidentemente, a janela do quarto de Rute estava alinhada com a
janela do quarto de Serginho. Essa peculiaridade o torturava ainda mais. O
fetiche pela lingerie vermelha estendeu-se para Rute. Serginho estava mui
apaixonado pela menina feia com óculos fundo de garrafa.
Certa vez, por volta da meia-noite, Serginho ouviu a janela da vizinha
ranger. Ele olhou pelo buraco e contemplou Rute sem óculos. Bradou para si...
“Nossa!
Ela é linda demais! Que rosto perfeito!”
Na noite subsequente, a janela abriu no mesmo horário. Serginho correu
para bisbilhotar. Rute estava com um baby-doll
branco. O pobre garoto ficou congelado como uma estátua. O coração acelerou. O
suor correu pelo rosto. O nervosismo e o desejo dominaram o corpo de
Serginho...
“Nossa
senhora! Ela tem um corpo escultural!”
Na noite posterior, uma vez mais, a janela rangeu. Rute esbanjava um baby-doll vermelho. Serginho não sabia o
que fazer. As pernas ficaram trêmulas. Caiu de costas na cama e imaginou
incontáveis peripécias sexuais com Rute...
“Ela
é muito gostosa! Quem dera deslizar minha boca naquele corpo.”
Seguindo o script das três noites anteriores, a janela se
abriu. Serginho seria arrebatado. Rute ostentava a lingerie vermelha. Serginho
pulou na janela do quarto da agora linda vizinha; agiu de forma instintiva. Ela
deu quatro passos para trás e parou ao lado da cama. Com o dedo indicador, fez
um sinal de “venha” para Serginho. O afobado garoto, não hesitou e correu
desesperado para os braços de Rute. A jovem advertiu-o com toda tranquilidade:
– Calma. Fique calmo. Respire. Faremos tudo bem devagar.
– Sim! Sim! – responde Serginho com a voz meio embargada.
– Não abro mão das preliminares...
Na manhã seguinte, Serginho acordou radiante de felicidade. Na noite passada,
viveu um sonho de amor. Na escola e no trabalho, todos perceberam a contagiante
alegria do garoto. Serginho jamais fora tão feliz. A noite chegou. A janela
abriu religiosamente. Serginho nos braços de Rute. A lingerie vermelha na borda
da cama. Desejo insano, volúpia, êxtase...
– Serginho, preciso te dizer algo. Talvez você não goste.
– Diga, Meu Amor.
– Estou noiva.
– Eu sabia. Vi no teu Facebook.
– Minha família congrega numa religião muito conservadora. O noivado foi,
mais ou menos, um conchavo entre a minha família e a do meu noivo com a
interseção do pastor.
– Sem problema, Meu Amor. Eu aceito passivamente ser teu amante.
– Grata pela compreensão!
– Porém, desejo que você atenda um pedido meu.
– Fique à vontade.
– Nunca use a lingerie vermelha com teu noivo; nem depois do casamento.
– Teu desejo é uma ordem. Eu te prometo! – após ouvir a promessa de
Rute, os olhos de Serginho cintilaram de emoção.
– Sem querer abusar. Posso te fazer outro pedido?
– Faça.
– Amanhã, use novamente a lingerie vermelha.
– Claro que sim, Meu Bem!
– Por tudo isso que eu te amo...
Ual. Crônica Espetacular.
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