A eleição de 2018, é fato, ficará
grafada com negrito especial na história da República. Havia todo um ceticismo
acerca da candidatura do capitão da reserva, além de ter sido tratada com
deboche por alguns adversários e “especialistas” em ciências políticas. Numa
análise apressada, ficaria difícil imaginar a vitória de Jair Bolsonaro, graças
a uma série de declarações polêmicas no seu itinerário político, porém, saindo
da esfera superficial, o triunfo em questão não foi tão surpreendente o quão o
senso comum sugere. Há vários fatores que facilitam a compreensão do fenômeno eleitoral Bolsonaro na corrida
pelo Palácio do Planalto.
Nos últimos anos, Bolsonaro
emplacou um discurso alinhado ao conservadorismo, o que acabou cativando uma
parcela significativa da população. Não nos enganemos, apesar dos partidos de
esquerda defenderem a tese contrária, o chamado “povão” é conservador. Por
sinal, o candidato vencedor conseguiu avançar nos redutos mais pobres, que comumente
têm um predomínio do PT. Citemos também, que no plano externo é perceptível uma
“onda conservadora”, veja a vitória de Trump nos Estados Unidos e de Matteo
Salvini na Itália. A “onda conservadora” já encontrou ecos aqui na América do
Sul: a chegada ao poder do líder de centro-direita Sebastián Piñera no Chile é
algo sintomático. É óbvio que o Brasil seria atingido em maior ou menor grau
por essa onda.
Bolsonaro filiou-se ao recém-criado
PSL (Partido Social Liberal), partido que serviu como receptáculo de
candidatura. Seria difícil intuir que um partido pequeno faria frente à
gigantesca e carcomida estrutura partidária. O PSL tinha 1 deputado na Câmara,
angariou 56 vagas, formando a segunda maior bancada; há a perspectiva de ser a
primeira com vindouras adesões. Ademais, conquistou três governos estaduais
(Roraima, Rondônia e Santa Catarina). Bolsonaro, segundo declaração de despesas
de campanha ao TSE, gastou apenas 2,4 milhões; em contrapartida, a candidatura
derrotada gastou 37,5 milhões. Um trunfo imprescindível de Bolsonaro foi o uso
eficiente das redes sociais, plataforma que ditou o ritmo da campanha. O mundo
mudou. Os comportamentos mudaram. As redes sociais estão cada vez mais
presentes nas relações humanas, logo, para entender o resultado desta eleição,
a internet é um componente fundamental. A televisão não tem mais o peso de
pleitos anteriores.
O pleito eleitoral de 2018 teve um
fato inédito: um candidato a presidente sofreu uma tentativa de homicídio. Num
raciocínio precipitado, poderíamos inferir que a facada sofrida por Bolsonaro
foi decisiva no resultado da eleição. Porém, precisamos enfatizar algumas
questões. É lógico que a tentativa de homicídio suscitou clamor popular e mais
visibilidade a Bolsonaro, contudo, ele foi tirado do front. Sabe-se que o corpo a corpo tem muito peso na campanha. Um
fator que deve ser elencado: o apoio maciço do eleitorado evangélico ao candidato
do PSL; os pastores mais renomados entraram de corpo e alma na candidatura
conservadora. A vitória de Bolsonaro também é explicada pela rejeição
exacerbada ao PT. Os escândalos do Mensalão
e do Petrolão transformaram o PT em
sinônimo de corrupção. Não olvidemos a prisão de Lula, o arquiteto principal
dos esquemas de corrupção supracitados. A maioria do eleitorado rejeitou o PT e
o presidiário. Em qualquer eleição, normalmente, a rejeição é um imenso
empecilho para que determinado candidato seja vencedor.
É inconteste que Bolsonaro foi um
fenômeno eleitoral. Eis algumas evidências: Eduardo Bolsonaro foi o deputado
federal mais votado da história em votos absolutos; em alguns estados que
tiveram 2º turno, os dois candidatos apoiaram Bolsonaro, haja vista no Rio
Grande do Sul (Eduardo Leite e José Ivo Sartori); subsequente ao resultado do
1º turno, João Doria, candidato do PSDB de Alckmin, contrariando o partido e o
padrinho político, declarou apoio a Bolsonaro. Assim como Trump, guardadas as
devidas diferenças, Bolsonaro encarnou o espírito de anti-establishment, não contando com a simpatia da grande mídia e
da “classe artística”. Os fatores acima e outros não enumerados neste modesto
artigo apresentam um norte para apreender que a vitória de Jair Bolsonaro não
foi um capricho do acaso.
Tosta Neto, 13/12/2018
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