Prezado
Leitor, antes da incursão na historicidade dos nossos amados heróis, visitemos
à Prússia do século XIX. Friedrich Nietzsche revolucionou a filosofia com um
estilo metafórico e assistemático, posicionando-o no lugar de destaque no
Panteão dos Grandes Filósofos. A filosofia
do martelo de Nietzsche fizera rachaduras irreparáveis na tradição
filosófica. Logo na sua primeira publicação, O Nascimento da Tragédia, o original pensador nos apresentara a
contenda entre Apolo e Dionísio, propondo uma análise trágica do itinerário da
existência. Consoante os gregos antigos, a tragédia tinha o poder da
purificação. Amiúde, a vida é trágica e a biografia dos Guardiões não foge deste
script.
Neste
modesto artigo, centralizarei a abordagem no Universo Cinematográfico da
Marvel. Seria uma tarefa hercúlea adentrar nas vastas sendas das HQs; façamos
justiça, as revistas em quadrinhos são os cânones de heróis, vilões,
anti-heróis, etc. Peter Quill, o Senhor
das Estrelas, raptado por um bando de saqueadores do espaço após presenciar
a morte da mãe por um câncer; depois viera a descobrir que a terrível doença
foi introduzida pelo seu pai, o Celestial Ego. Gamora, sua mãe foi assassinada
pelas tropas de Thanos e, incrivelmente, o Titã
Louco a adotara e preparou-a para ser a mulher mais temida do universo.
Drax, esposa e filha assassinadas por Thanos, traz consigo a sede de vingança
como sentido existencial. Rocket, rotulado de raposa, guaxinim, lebre, entre
outras adjetivações, fruto de experimentos genéticos. Por fim, Groot, a
simpaticíssima árvore que só consegue falar “eu sou Groot”, expulso do próprio
planeta por discordar dos poderosos do poder.
Como
está explícito no parágrafo anterior, as vidas dos nossos heróis comungam tragédias
familiares e solidão. Irrefutavelmente, a família é a instituição mais sagrada.
Segundo Aristóteles, no livro Política,
a família é a associação natural para suprir as necessidades diárias dos seres
humanos. Sem família, o ser humano é como um navegador ao léu no oceano. Os
Guardiões se associaram e formaram uma família por intermédio de circunstâncias
pouco convencionais. Sobre a solidão: a companheira eterna de qualquer ser
humano; às vezes, mesmo acompanhado, o indivíduo se sente sozinho. O cônjuge
mais fiel da humanidade é a solidão. No final, ela sempre nos abraçará.
Nascemos sós e morreremos sós. Tragicamente, só nos restará a solidão do
túmulo.
Os
personagens em questão foram bem construídos. Os Guardiões, exceto a Gamora que
é muito sisuda, exalam bom humor, uma contraposição às tétricas histórias de
vida. Em meio à carência de significação existencial, uniram-se na incumbência
de vasculhar preciosidades no espaço como saqueadores, logo, angariaram alguns
inimigos, sobretudo quando Peter Quill encontra a Joia do Poder, trazendo contra si a ira do perigoso Ronan, o Acusador, que inicialmente
estava a serviço de Thanos. No combate e na subsequente vitória contra Ronan, nossos heróis foram intitulados
com a alcunha de “Os Guardiões da Galáxia”. Na sequência, enfrentaram um dos
vilões mais poderosos da Marvel, o Celestial Ego, que objetivava dizimar a vida
no universo. O Senhor das Estrelas
carregará eternamente no seu âmago o fardo do parricídio.
Reflitamos
sobre o título deste artigo. A priori,
são personagens deveras carismáticos que conquistam o carinho dos fãs. Os
Guardiões espelham as chagas que afligem a existência humana: solidão,
melancolia, angústia, injustiça, saudade de entes queridos... Quem conhece a
trajetória de cada personagem gesta uma imediata identificação. Ademais, no
filme de maior sucesso do Universo Cinematográfico da Marvel, Guerra Infinita, Peter, Groot e Drax
foram apagados após o icônico estalo de dedos de Thanos. Tragédia maior a de
Gamora, assassinada pelo pai adotivo em troca da Joia da Alma. Apenas o Rocket sobrevivera. Por ora, a exitosa
franquia que arrecadou mais de 1 bilhão e meio de dólares está ameaçada com a
demissão de James Gunn pela Disney, justificada pela publicação de piadas sobre
estupro e pedofilia no Twitter,
postagens antigas, das quais, Gunn já pedira desculpas. Façamos uma menção
especial ao genial diretor, pois teve a audácia de apostar num grupo de heróis
desconhecidos do grande público. Só quem é fã sabe o quão que a supracitada
demissão está sendo dolorosa. Presentemente, Gunn personifica a tragicidade que
rodeia os personagens idealizados por ele. Os Guardiões da Galáxia nos levam a
recordar que a vida é essencialmente trágica, todavia não devemos perder o
sorriso e o bom humor. Obrigado Guardiões! Obrigado James Gunn!
Tosta Neto, 12/09/2018
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