domingo, 15 de julho de 2018

Multiétnica: Campeã da Copa 2018, França tem jogadores com raízes em 17 países

França que conquistou o bicampeonato no Mundial neste domingo, em Moscou, é multicultural. Há imigrantes, filhos de imigrantes e mais de uma dezena de nações envolvidas. E nem sempre dá para dizer que essa herança étnica influi na questão socioeconômica dos jogadores.

Segundo levantamento do jornalista Rodrigo Oliveira, 12 atletas possuem origens africanas, como Sidibé e Kanté (Mali), Kimpembe, Matuidi e N'Zonzi (República Democrática do Congo), Rami (Marrocos), Pogba (Guiné), Mbappé (Camarões), Fekir (Argélia), Mendy e Dembelé (Senegal) e Tolisso (Togo), cujos pais emigraram para a França ainda antes de os atletas nascerem. Há ainda o lateral Lucas Hernández, de ascendência espanhola.

Hugo Lloris, o capitão da seleção francesa que ergueu a taça depois da vitória por 4 a 2 contra a Croácia, tem origem catalã/espanhola. Não veio da periferia de Paris, como muitos de seus colegas de time, como N'Golo Kanté ou Paul Pogba. Foi criado em Nice, na Côte D'Azur, é filho de um banqueiro em Mônaco e de uma mãe advogada, falecida em 2008.
É uma das peças entre a delegação tão multifacetada. E o futebol nem era a total prioridade do goleiro. Ia ser tenista. Até que um dia, aos 10 anos, fez um teste como e todos se assustaram com o reflexo do jovem debaixo das traves. Depois, então, colocou o futebol como prioridade e pode levantar a taça de campeão do mundo neste domingo, no estádio Luzhniki. 
Em entrevista ao jornal francês Libération, Lloris lembrou dos valores dos pais: "Eles me deram base para eu evoluir e que carrego até hoje: o respeito, o gosto pelo trabalho e a abertura aos outros".
O diálogo usa na liderança dos vestiários e, apesar da diferença para os demais por ter tido uma infância abastada, Lloris tem um ponto em comum com o resto do elenco: os seus antepassados foram imigrantes.
"Black-Blanc-Beur", em tradução livre, significa "Negros, Brancos e Árabes" e foi um estereótipo que foi moda fora de campo daquela seleção campeã de 1998.
Colocar a questão da imigração e, atualmente, dos refugiados para dentro de campo pode ser um erro, na avaliação do correspondente do L'Équipe no Brasil. "Vinte anos depois está começando surgir de novo esse conceito. Os políticos vão querer usar, claro, essa onda para dizer que está tudo bem. Que a França está bem representada e integrada. Mas nada mudou 20 anos depois", completa Frosio.
"Tem muita caricatura nisso. É exatamente igual à de 98. E não dá para misturar com a questão dos refugiados. Não há nenhum refugiado nessa seleção, por exemplo", afirma Darmani. "A seleção não está mostrando tudo isso da sociedade francesa", continua.
Misturar o time nacional com a questão dos imigrantes é corriqueiro na França. Já houve polêmica entre o ex-presidente Nicolas Sarkozy e o lateral Lilian Thuram. Na época, Sarkozy era ministro do interior e usou uma palavra pejorativa, algo perto de "marginal ou bandido", para definir pessoas da periferia. Thuram, que é de uma delas, rebateu em uma coletiva de imprensa na seleção. E também há o caso de Karim Benzema, atacante do Real Madrid, que foi à Copa de 2014 e está ausente de 2018, segundo ele, por pressão da direita racista. Benzema tem origem argelina.

A influência na juventude da terra natal dos pais

Com a maioria filhos de imigrantes, muitos dos jogadores não se colocam na discussão política. Mas levaram em conta a influência a dupla nacionalidade.



O zagueiro reserva Presnel Kimpembe, nascido na França, é filho de pai congolês e mãe haitiana. Quando mais jovem, aceitou a defender as cores da seleção júnior da República Democrática do Congo, em 2014.
No ano seguinte, já tinha sido chamado para defender os Bleus e aceitou para nunca mais deixar de vestir o uniforme azul, branco e vermelho. Fora de campo, Kimpebe também recebe a torcida do Haiti e usa seu Instragram para mostrar que escuta e gosta das músicas do país caribenho.
Aréola, goleiro nascido em Paris, é companheiro de Kimpembe no Paris Saint-Germain e também na seleção e tem pais filipinos. Desde 15 anos joga com a seleção francesa, mas recebeu forte influência para atuar pelas Filipinas. Teve que tomar sua decisão e preferiu o país que o formou.

França é o que mais exporta jogadores nesta Copa

A seleção francesa que hoje é bem heterogênea nas origens teve recente polêmica racial. Laurent Blanc, antigo treinador francês, foi envolvido em uma grande discussão em 2011 por ter participado de um sistema de cotas para negros e árabes nas seleções de base da Federação Francesa de Futebol. O ex-jogador chegou a se desculpar depois. As cotas tanto não vingaram que dão caldo para outra discussão: a saída de jogadores formados na base da França
"A França é o país nação que tem mais jogadores na Copa", lembra Darmani. "Eles são franceses, se formam na França e vão jogar por outroa países. Ninguém fala isso aqui no Brasil". De fato, em um levantamento do jornalista Rodolfo Rodrigues, são 20 jogadores franceses fora da seleção nacional, um recorde entre todos os outros países que disputam o mundial da Rússia.
O jornalista explica que, diferentemente do Brasil, o acesso aos times para iniciar uma carreira tem incentivo dos governos e é estruturado. Ser um jogador profissional ou não, ou defender as cores da França ou não, é uma decisão posterior.
Marrocos têm 10 nascidos na França. E a seleção de Senegal tem oito. O tunisiano Wahbi Khazri, que fez o gol da única vitória do time na Copa sobre o Panamá, é francês, assim como outros oito integrantes da seleção tunisiana.
O caso mais famoso não é de um jogador de origem africana ou árabe. E, sim, latina. O atacante argentino Gonzalo Higuaín nasceu em Brest e chegou a ser convocado para a seleção francesa, mas preferiu atuar pela terra de Maradona.
Fonte: BBC Brasil

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