Prezado Leitor, o
século XXI está bem distante de seu fim, todavia minha intuição musical me diz
que dificilmente surgirá uma canção que supere a grandiosidade do clássico Que tiro foi esse, interpretado pela
transcendental Jojo Todynho. Essa obra-prima da música brasileira foi
consagrada como hit do Carnaval. Em cada rincão, nos blocos de rua e nos trios
do carnaval soteropolitano, Que tiro foi
esse foi entoada efusivamente pelos foliões. O refrão marcante fica
“martelando” no inconsciente coletivo, induzindo o indivíduo a cantá-lo de
forma deveras espontânea.
Se tu permitires Caro
Leitor, realizarei uma análise da melodia do novo e insuperável clássico da MPB.
Notoriamente, o campo melódico é riquíssimo, composto de vários acordes
dissonantes de rara beleza. Quem conferir a partitura de Que tiro foi esse ficará estupefato com a enorme quantidade de
notas e semicolcheias. Eu, mero mortal, tentei tocar essa música no violão,
porém perante tamanha complexidade hercúlea, acabei desistindo de tal
empreitada. Qualquer crítico musical imparcial concluirá de maneira
insofismável que Que tiro foi esse
está no patamar da 5ª Sinfonia de
Beethoven e das Quatro Estações de
Vivaldi. Se Mozart e Bach estivessem vivos, teriam inveja da beleza harmônica
do clássico em questão. Indubitavelmente, a Orquestra Sinfônica de Berlim ficaria
mui lisonjeada em executar Que tiro foi
esse.
Ademais, não posso me
furtar de analisar a letra. Compreensivo Leitor, confira a graciosidade dos
versos: “Que tiro foi esse? Que tiro foi esse que tá um arraso?! Que tiro foi
esse, viado? Que tiro foi esse que tá um arraso?! Samba, na cara da inimiga,
vai samba, desfila com as amigas...” É muita poesia! O eu-lírico denota a
angústia existencial da humanidade sobre a violência e a inveja. Os autores
deveriam ganhar o Prêmio Nobel de Literatura e, por tabela, conquistar cadeiras
cativas na Academia Brasileira de Letras. A ordem dos versos está coadunada ao
rigor estilístico do Parnasianismo. Olavo Bilac aplaudiria esta proeza poética.
Atrevo-me afirmar que o trecho supracitado irá superar o encanto dos versos de
Camões no soneto Amor é fogo que arde sem
se ver...
A “Música do Século”
foi potencializada pelo talento inato e inquestionável de Jojo Todynho, sem
dúvida, a maior revelação musical nos derradeiros anos. Cantora carismática com
uma voz privilegiada pela natureza, equivalente a divas do naipe de Ella
Fitzgerald, Dionne Warwick e Whitney Houston. Hoje, podemos asseverar com toda
tranquilidade, que Jojo Todynho é um patrimônio da música brasileira; cantora
revolucionária que quebrou todos os paradigmas da arte de cantar. Não seria
exagero colocar Jojo Todynho no nível de Elis Regina, Maria Bethânia, Gal Costa
e Nana Caymmi. A intérprete de Que tiro
foi esse é um exemplo emblemático da magnífica e iluminada fase da música
brasileira, trazendo consigo outros artistas titânicos como Anitta, Pablo
Vittar, Lucas Lucco, etc.
Que
tiro foi esse realiza uma crítica abissal e
contundente à violência; a genuína denúncia sobre o caos social que nosso país
enfrenta. Além disso, a canção traz uma linguagem regionalista típica do Rio de
Janeiro. A letra da “Música do Século” já está no panteão das grandes obras clássicas
da Literatura Brasileira. Com o sucesso estrondoso no Carnaval, Que tiro foi esse poderia ser elevada à
categoria de hino nacional, haja vista a identificação do “povo” ao seu ritmo
marcante e sua letra rebuscada. Sabe-se que certas músicas são passageiras, mas
Que tiro foi esse nasceu condenada à
eternidade. Bendita a nação que tem Que
tiro foi esse como ícone musical.
Tosta
Neto, 15/02/2018
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