Descoberta
reforça tese de que os polinésios participaram do povoamento da América e
desembarcaram no continente séculos antes do que os europeus
Na época da colonização
portuguesa, diversos grupos indígenas que ocupavam as regiões onde hoje se
encontram os estados de Minas Gerais e Espírito Santo receberam o nome genérico
de “botocudos”, em referência aos botoques que utilizavam para ornamentar o
rosto – aqueles grandes discos de madeira que alargavam a boca e as orelhas.
Apesar de terem sido muito numerosos naquela época, hoje estão praticamente
extintos.
Um artigo publicado na
revista Current Biology revelou os
resultados obtidos a partir de testes genéticos realizados nos crânios de dois
índios botocudos, que viveram por volta de 1800. Os pesquisadores não
encontraram no DNA nenhum traço de ancestralidade de americanos nativos, mas
sim de grupos originários da Polinésia.
“As populações humanas
primitivas exploraram extensivamente o planeta”, disse a autora Anna-Sapfo
Malaspinas ao site EurekAlert. “As
versões de apostila dos eventos da colonização humana – o povoamento das Américas,
por exemplo – precisam ser reavaliadas utilizando dados genômicos”, afirmou. A
pesquisadora também colaborou com outro artigo publicado na mesma edição do
periódico que oferece uma explicação embasada na genética e na arqueologia ao
mistério dos genes polinésios dos botocudos do Brasil.
O estudo analisou o DNA
de 27 indivíduos do povo nativo da Ilha de Páscoa, os rapanui. As descobertas
mostraram que o material genético desta população é 76% polinésio, 8% americano
nativo e 16% europeu. Por meio de padrões de mistura de genes, notou-se que
entre os anos 1300 e 1500 houve um contato intenso entre os rapanui e os
habitantes da América do Sul, há cerca de 19 a 23 gerações. A mistura com os
europeus só foi ocorrer séculos mais tarde, por volta de 1850.
Os cientistas acreditam
que quem empreendia as viagens de barco eram as pessoas da ilha, pois para eles
era garantido que rumando para o leste chegariam ao continente; a missão era
muito mais difícil para os americanos, que teriam de encontrar uma porção de
terra relativamente pequena no meio do oceano. O trajeto de cerca de 3000
quilômetros poderia levar de duas semanas a dois meses para ser percorrido.
A Ilha de Páscoa está
localizada na extremidade leste do triângulo polinésio, formado também pelas
ilhas da Nova Zelândia e do Havaí. Evidências arqueológicas indicam que o
povoamento do território ocorreu por volta de 1200, quando de 30 a 100
indivíduos da Polinésia chegaram ali em canoas, entre eles homens, mulheres e
crianças. Vivendo em uma das localidades mais isoladas do planeta a ser
habitada por seres humanos, esta população construiu nos séculos seguintes
cerca de 900 moais, as famosas estátuas de pedra, com algumas chegando a pesar
82 toneladas.
(Fonte: Revista Galileu)
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