Ditadura
invertida
Paulo Francis chamava
de Máfia do Dendê "os baianos
que gostam de cantar na televisão". É a turma encabeçada por Caetano,
disfarçada de liberal e intelectual, que controla a produção de música
brasileira e apoiava Antônio Carlos Magalhães. Ninguém ousa desafiá-los: não
tem espaço, se for músico; e perde o emprego, se for jornalista. É um esquema
canalha e corrupto, mas nunca discutido. Um método grotesco de promoção da
mediocridade, que afoga a criatividade e cala a resistência. Isso é, em bom
português, ditadura. Imposta exatamente pelos metidos a bacanas que, há poucas
décadas, brincavam de oposição. E, hoje, lucram com isso, colecionando elogios
de celebridades, de Sontag a Almodóvar, e dinheiro fácil, incorporando estilos
e reciclando fórmulas. Uma moleza.
Mas não é, na verdade,
só de moleza que eles gostam. Caetano, por exemplo. Em 1993, quando um
jornalista foi procurá-lo em Londres para uma entrevista, quando comemorava 25
anos de exílio, foi curto e grosso: só concederia em troca de uma coisa. E
vocês sabem qual é. O homem saiu correndo. E quase perdeu o emprego por causa
disso. É assim que funciona: a Máfia do
Dendê também tem os seus métodos próprios de tortura. Que são
indiscutivelmente piores do que muitos aplicados pela Ditadura Militar. Uma
aplicação de Caetano Veloso é talvez o pior massacre a que um homem pode se
submeter. Esta é - reparem no trocadilho - uma ditadura invertida.
Quem conta essa
história, com todas as letras, é o premiado jornalista investigativo Cláudio
Tognolli, em imperdível conversa com, entre outros, Roberto Freire e Sérgio
Martins. E aponta, ainda, os membros da Máfia, que todo mundo sabe qual é: além
de Caetano, Gilberto Gil, Maria Betânia, e Gal Costa.
Essa patrulha nojenta
encontra, na imprensa brasileira, um único opositor, segundo Tognolli: Luís
Antônio Giron, "o homem que mais entende de música". Mas seu empenho
solitário dificilmente será suficiente. A Máfia
do Dendê abafa com facilidade ruídos dissonantes. E, com insistente
promoção, cativa novas gerações, que mereceriam, em 2002, coisa melhor ou, no
mínimo, diferente do que seus pais, há três décadas, tiveram. A doutrinação,
que começa na escola - com Caetano elevado a poeta erudito - e passa pela
imprensa - como se fossem eles expoentes do bom gosto -, está na hora de
acabar. Esta ditadura está longa demais. Cansou.
(Fonte: Blog Digestivo Cultural)
Caracole! Pra que tanto ódio no coração,a Tropicália sempre pecou por absorver todos os artistas e gêneros musicais,aliás,este é o único ponto fraco do movimento.Apesar que se não fosse assim,não seria o que foi.
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