“Você
disse… pipoca?”
Um dos episódios mais
clássicos do Pica-Pau apresenta ao mundo Jubileu, um corvo fã de pipoca na
manteiga. Seduzido por uma proposta tentadora do protagonista, ele aceita
trocar de lugar e perder as regalias que tinha com seu dono. Após descobrir a falcatrua
e perceber que fora enganado, Jubileu retorna furioso para se vingar.
Pode até parecer, mas
esse senso de justiça e oportunidade do passarinho preto não é fruto da cabeça
de Walter Lantz, criador do desenho do Pica-Pau. Você, leitor da SUPER, talvez
se recorde, por exemplo, que os corvos de fato conseguem lembrar o rosto de
quem os enganou por até dois meses. E uma pesquisa recente demonstrou que eles
também são capazes de entender relações de causa e consequência muito bem.
Conforme descrito na revista Science,
eles preferem abrir mão de uma recompensa favorável para esperar algo que seja
ainda mais recompensador.
Cumprir tarefas para
receber recompensas é algo que os corvos costumam tirar de letra. Outros
experimentos já demonstraram que eles são craques em dar soluções inteligentes
a situações lógicas – como jogar pedras dentro de um reservatório fundo para
que o nível da água suba e eles consigam saciar sua sede, ou entortar um arame
para fazer um anzol e pescar algo boiando.
Tudo porque esse tipo
de desafio é algo que eles costumam encarar na natureza. Para se alimentar de
moluscos, por exemplo, os corvos pegam as conchas com o bico, voam até o alto e
soltam os objetos lá de cima, em alguma área pedregosa. Com a queda, o casulo
se rompe, e uma saborosa refeição gosmenta pode ser apreciada. O mesmo serve
para áreas urbanas: eles terceirizam o serviço de quebrar nozes muito duras às
rodas dos automóveis que passam pelas redondezas.
Para testar a mente
brilhante dessas aves, os pesquisadores do estudo prepararam uma situação deste
tipo – que obrigasse os corvos a agir para ganhar uma recompensa maior depois.
Posicionadas frente a uma comida saborosa, eles tinham de fazer uma escolha
difícil. Se optassem por não comer logo de cara o quitute, ganhariam uma
ferramenta especial. O instrumento funcionava para abrir uma caixa, onde um
alimento ainda mais saboroso os aguardava. Os corvos aprenderam que, quando
optavam por não comer, os cientistas chegavam com a caixa ou ferramenta em até
15 minutos. Aí, era só desbloquear o prêmio.
O ato de barganhar com
os cientistas, esperando o momento certo para usar a ferramenta, foi repetido
por 86% das cobaias. De acordo com os pesquisadores, esse autocontrole para
renunciar recompensas imediatas demonstra a capacidade que essas aves possuem
de tomar decisões pensadas.
Ou seja: é como se os
corvos efetivamente planejassem o futuro, como fazem os humanos. Preferir a
ferramenta, para eles, seria como guardar aquele dinheirinho na poupança, e
recuperar o montante daqui um tempo quando ele já tivesse rendido um pouco. A
resposta dos corvos, segundo os cientistas, foi mais satisfatória do que seria
a de espécies mais inteligentes de macacos.
(Fonte: Superinteressante)
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