Eles têm senso de
justiça apurado, podem identificar quando você está mentindo e sabem fazer
trocas vantajosas como ninguém. De tão inteligentes, não seria nada absurdo se
um primata lhe desse um baile em uma partida de jokenpô. Bom, caso o desafiante
for um dos chimpanzés treinados na Universidade de Kyoto, no Japão, a chance
realmente existe. E de acordo um estudo publicado no periódico Primates, você não poderia culpar só seu
azar em caso de derrota: os símios realmente entendem os mecanismos do jogo, tão
bem quanto uma criança de quatro anos.
Ok, é verdade que o
desafio japonês depende essencialmente da sorte. As possibilidades de resultado
(vitória, derrota ou empate) derivam da relação circular entre os elementos.
Seja papel, pedra ou tesoura, cada um derrota um único tipo – enquanto perde para
outro. No entanto, de nada vale ter um trevo de quatro folhas no bolso se você
não conhecer as regras. E os macacos demonstraram que conseguem captá-las muito
bem.
Essa conclusão vem de
um experimento com sete chimpanzés (Pan
troglodytes) que vivem no Instituto de Pesquisa de Primatas da Universidade
de Kyoto. No grupo de cobaias, havia fêmeas e machos com diferentes idades.
Sentados frente a um monitor touch screen, eles foram treinados para entender a
dinâmica e julgar situações de jogo da maneira correta.
O treinamento era
bastante simples: mãos de chimpanzé ou humanas apareciam na tela fazendo duas
das três posições possíveis. Então, eles tinham de clicar no formato que sairia
vencedor do confronto. Se acertassem, por exemplo, que a mão aberta (representação
de papel) ganha da mão fechada (pedra), um alarme soava, e eles eram
recompensados com um apetitoso pedaço de maçã. Quando eles escolhiam errado, um
outro sinal sonoro era ativado – e o participante ficava sem recompensa.
Desse intensivão de jokenpô
que os primatas fizeram, os cientistas puderam observar alguns comportamentos
interessantes. Um deles foi a dificuldade dos símios em entender que a tesoura
vencia o papel. Para matar a relação, eles precisaram, em média, de 14
tentativas, bem mais do que aconteceu com as outras possibilidades de confronto.
Para que entendessem a
conexão pedra-tesoura, foram apenas 3 repetições. Gravar na mente que pedra
derrota papel foi ainda mais fácil: a média foi de 1.7 vezes até que
aprendessem o padrão. Já para gabaritar o treinamento elaborado para o estudo,
respondendo sem errar nenhuma vez, os cinco chimpanzés de melhor desempenho
precisaram de 307 repetições.
A efeito de comparação,
os cientistas ensinaram a mesma brincadeira para 38 crianças em idade de pré-escola
– de três a seis anos. Os pequenos, claro, nadaram de braçada: tiveram que
repetir a sequência apenas 5 vezes até entenderem o desafio. Segundo os
pesquisadores, o desempenho dos humanos melhorou de acordo com a idade. Quem
tinha 5 anos tinha mais facilidade em recuperar informações, e ficou menos
refém dos 50% de chance em cada escolha.
“As crianças mudavam
imediatamente sua opção depois de fazer uma escolha equivocada. Os macacos,
porém, normalmente demoravam várias rodadas até corrigirem seu erro”, explica
Jie Gao , que liderou o estudo. Apesar da disparidade, isso não desqualifica o
desempenho satisfatório dos primatas. Sua performance, de acordo com os
pesquisadores, foi similar à de crianças na faixa dos quatro anos.
(Fonte: Superinteressante)
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