quinta-feira, 8 de junho de 2017

"Sem Wi-Fi, a vida não tem mais sentido" por Tosta Neto

Certa noite, numa conversa mui agradável com o amigo José Júnior, tive o insight para escrever este modesto artigo. Caro Amigo, desde já, eternamente grato pelo riquíssimo diálogo. O avanço da internet no século XXI transmutou as relações sociais, trazendo consigo uma paranoia mental, cujo fluxo desordenado de informações não é apreendido pelo internauta. Ao ativar o Wi-Fi ou os escassos dados móveis do smartphone, uma erupção de mensagens surge no visor: WhatsApp, Facebook, Badoo, Cartola, Instagram... Ufa! É muito tempo para visualizar esse turbilhão de mensagens. Particularmente, eu não tenho tamanha paciência, não visualizo e apago quase tudo.
A popularização do smartphone particularizou a relação entre o indivíduo e a internet. Na época de supremacia dos computadores, a relação citada acima não era tão individualizada; por ser um bem material relativamente caro, o uso do computador é mais coletivo. Portanto, não há nada e nem ninguém entre o celular e o internauta: o aparelho eletrônico em questão ganha ares de afetividade, outrossim, uma extensão do corpo do indivíduo. Algumas pessoas não conseguem viver longe do smartphone, ainda para alguns, parcos minutos de distanciamento causam uma lancinante crise de abstinência. Quando o WhatsApp fica fora do ar, “é um Deus nos acuda”. Sem internet, a vida fica descolorida e depressiva, restando apenas, caçar desesperadamente o sacro Wi-Fi e descobrir a senha do roteador do vizinho. O efeito disso tudo é a dependência doentia da ininterrupta conexão.
As redes sociais moldaram as relações pessoais. Outrora, o indivíduo se deslocava até a casa do amigo para bater papo, tirar uma dúvida, enfim, o contato presencial (“tête-à-tête”). Em dias de hoje, é preferível enviar mensagens pelo WhatsApp. Os aplicativos de redes sociais são campeões mundiais em downloads, configurando uma verdadeira febre coletiva, sobretudo, entre os rebentos da “Geração WhatsApp” (adolescentes). Por questão de obviedade, a relação via rede social é deveras artificial e impessoal, quadro que desguarnece o diálogo presencial. Eu acho totalmente chato e deselegante conversar e o interlocutor fica o tempo todo no celular; a conversa não flui e cai numa abissal chatice. É engraçado, quiçá curioso, “conversar” com outrem pela rede social e não cumprimentar ao encontrá-lo na rua. A frieza da comunicação virtual é um sintoma da crise de identidade que acomete os tempos hodiernos, pois a internet influencia o inconsciente coletivo nas diversas postagens pelas redes sociais. 
Neste parágrafo, não posso olvidar de citar outra imbecilidade contemporânea, o tal do namoro virtual. Estou fora desse tipo de namoro, prefiro “olhos nos olhos”, calor, respiração, corpo... Essa anomalia é fruto de um comportamento massificado nas redes sociais, cujos certos indivíduos vivem no mundo paralelo desconectado da realidade. No submundo virtual tudo é permitido: externar supostos momentos de felicidade, opinar – sem conhecimento de causa – sobre qualquer temática, compartilhar postagem fake news e namorar uma desconhecida do outro lado do planeta. Este tipo de internauta encarna um personagem que submete o próprio autor, ou seja, quando o criador se ajoelha para criatura.


O ser humano está sendo despido de sua condição de autenticidade, transformando-se num ser autômato movido para o abismo da irreflexão. Estar on-line virou prerrogativa básica para ser notado e notar o outro, isto é, a necessidade da conexão angariou uma primazia patológica. Ficar off-line é um verdadeiro desespero, afinal, suscita a sensação de perda da possibilidade de ser notado. O ser virtual é o produto duma sociedade cada vez mais impessoal e artificializada. Estamos caminhando para um “Big Brother”, onde o indivíduo é vigiado e observado pelo Estado e pelos outros a todo instante, questão apontada por George Orwell em 1984. Por conseguinte, as redes sociais ratificam o status quo de vigilância e exibição rotineiras. Câmeras, computadores, smartphones, internet, ícones onipresentes do cotidiano; inegavelmente, a sociedade contemporânea não pode ser compreendida sem a devida análise dos ícones supracitados. A sociedade “Big Brother” deseja incessantemente notar e ser notada: ficar on-line é o êxtase, off-line, um amálgama de ansiedade, solidão e melancolia, logo, o acesso ao Wi-Fi é imprescindível para o alcance da felicidade. Enfim, sem Wi-Fi, a vida não tem mais sentido.

Tosta Neto, 08/06/2017     

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