Certa noite, numa
conversa mui agradável com o amigo José Júnior, tive o insight para escrever
este modesto artigo. Caro Amigo, desde já, eternamente grato pelo riquíssimo
diálogo. O avanço da internet no século XXI transmutou as relações sociais,
trazendo consigo uma paranoia mental, cujo fluxo desordenado de informações não
é apreendido pelo internauta. Ao ativar o Wi-Fi ou os escassos dados móveis do
smartphone, uma erupção de mensagens surge no visor: WhatsApp, Facebook, Badoo,
Cartola, Instagram... Ufa! É muito tempo para visualizar esse turbilhão de
mensagens. Particularmente, eu não tenho tamanha paciência, não visualizo e
apago quase tudo.
A popularização do
smartphone particularizou a relação entre o indivíduo e a internet. Na época de
supremacia dos computadores, a relação citada acima não era tão
individualizada; por ser um bem material relativamente caro, o uso do
computador é mais coletivo. Portanto, não há nada e nem ninguém entre o celular
e o internauta: o aparelho eletrônico em questão ganha ares de afetividade,
outrossim, uma extensão do corpo do indivíduo. Algumas pessoas não conseguem
viver longe do smartphone, ainda para alguns, parcos minutos de distanciamento
causam uma lancinante crise de abstinência. Quando o WhatsApp fica fora do ar,
“é um Deus nos acuda”. Sem internet, a vida fica descolorida e depressiva,
restando apenas, caçar desesperadamente o sacro Wi-Fi e descobrir a senha do
roteador do vizinho. O efeito disso tudo é a dependência doentia da
ininterrupta conexão.
As redes sociais
moldaram as relações pessoais. Outrora, o indivíduo se deslocava até a casa do
amigo para bater papo, tirar uma dúvida, enfim, o contato presencial
(“tête-à-tête”). Em dias de hoje, é preferível enviar mensagens pelo WhatsApp.
Os aplicativos de redes sociais são campeões mundiais em downloads,
configurando uma verdadeira febre coletiva, sobretudo, entre os rebentos da
“Geração WhatsApp” (adolescentes). Por questão de obviedade, a relação via rede
social é deveras artificial e impessoal, quadro que desguarnece o diálogo
presencial. Eu acho totalmente chato e deselegante conversar e o interlocutor fica
o tempo todo no celular; a conversa não flui e cai numa abissal chatice. É
engraçado, quiçá curioso, “conversar” com outrem pela rede social e não
cumprimentar ao encontrá-lo na rua. A frieza da comunicação virtual é um
sintoma da crise de identidade que acomete os tempos hodiernos, pois a internet
influencia o inconsciente coletivo nas diversas postagens pelas redes
sociais.
Neste parágrafo, não
posso olvidar de citar outra imbecilidade contemporânea, o tal do namoro
virtual. Estou fora desse tipo de namoro, prefiro “olhos nos olhos”, calor,
respiração, corpo... Essa anomalia é fruto de um comportamento massificado nas
redes sociais, cujos certos indivíduos vivem no mundo paralelo desconectado da
realidade. No submundo virtual tudo é permitido: externar supostos momentos de
felicidade, opinar – sem conhecimento de causa – sobre qualquer temática,
compartilhar postagem fake news e
namorar uma desconhecida do outro lado do planeta. Este tipo de internauta
encarna um personagem que submete o próprio autor, ou seja, quando o criador se
ajoelha para criatura.
O ser humano está sendo
despido de sua condição de autenticidade, transformando-se num ser autômato
movido para o abismo da irreflexão. Estar on-line virou prerrogativa básica
para ser notado e notar o outro, isto é, a necessidade da conexão angariou uma
primazia patológica. Ficar off-line é um verdadeiro desespero, afinal, suscita
a sensação de perda da possibilidade de ser notado. O ser virtual é o produto
duma sociedade cada vez mais impessoal e artificializada. Estamos caminhando
para um “Big Brother”, onde o indivíduo é vigiado e observado pelo Estado e
pelos outros a todo instante, questão apontada por George Orwell em 1984. Por conseguinte, as redes sociais
ratificam o status quo de vigilância
e exibição rotineiras. Câmeras, computadores, smartphones, internet, ícones
onipresentes do cotidiano; inegavelmente, a sociedade contemporânea não pode ser
compreendida sem a devida análise dos ícones supracitados. A sociedade “Big
Brother” deseja incessantemente notar e ser notada: ficar on-line é o êxtase,
off-line, um amálgama de ansiedade, solidão e melancolia, logo, o acesso ao
Wi-Fi é imprescindível para o alcance da felicidade. Enfim, sem Wi-Fi, a vida
não tem mais sentido.
Tosta
Neto, 08/06/2017
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