O jornal Le Monde que chegou às bancas na tarde
desta terça-feira (28) dá novamente destaque para a política brasileira. Com o
título “Brasil, o reinado da impunidade”, a correspondente do vespertino em São
Paulo tenta explicar o contexto atual do país.
A jornalista Claire
Gatinois diz que diante do processo da Lava Jato, que se aproxima cada vez mais
do presidente Michel Temer, o chefe de Estado parece estar tentado se proteger
de uma possível acusação. No entanto, a tática não está passando despercebida,
comenta a correspondente, lembrando que Temer teve até que fazer, em meados de
fevereiro, uma coletiva para garantir que “o governo federal não tenta proteger
ninguém”.
No entanto, lembra a
jornalista, o presidente ressaltou durante essa coletiva que apenas um
indiciamento justificaria a demissão de um de seus ministros. “E como os
processos são muito lentos no Brasil”, relata Le Monde, com uma média de 14 meses de espera para os casos
envolvendo políticos no poder, o governo Temer estaria protegido até o final de
seu mandato, em 2018.
“Muitíssimo impopular,
Temer não para de dar sinais ambíguos”, analisa a jornalista. Ela relata, por
exemplo, a escolha recente de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal
Federal. A correspondente explica que o ex-ministro é conhecido por sua simpatia
pelo presidente, o que suscita questões sobre sua nomeação. Mesmo se ele não
vai herdar todos os processos do juiz Teori Zavascki, que cuidava da Lava Jato,
Moraes será o revisor do processo no plenário, comenta o texto.
Tudo
vai terminar em pizza?
Além disso, continua o
vespertino francês, a reputação linha-dura de Moraes, que deu a entender que
defendia a tortura, além do fato de ter apoiado o ex-presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, não ajudam a melhorar sua imagem. Seguem ainda as escolhas de
Osmar Serraglio, que substitui Alexandre de Moraes e defendeu a destituição de
Dilma Rousseff, e de Moreira Franco, que já foi citado dezenas de vezes na Lava
Jato, continua relata a jornalista.
A correspondente do Le Monde comenta que todos esses eventos
recentes levam o país a se questionar sobre o peso de Foro Privilegiado. “Um
privilégio que se transformou em uma ferramenta muito cômoda para desacelerar
ou até mesmo enterrar algumas investigações”, pode-se ler nas páginas do jornal
francês.
Para dar uma ideia da
impunidade que reina no Brasil, a jornalista tenta explicar aos leitores
franceses a existência daquela famosa expressão no país segundo a qual, uma
hora ou outra, os processos na justiça terminam em pizza. “Se formos ouvir os
mais cínicos, tudo leva a crer que Temer já estaria esquentando a sua pizza
quatro queijos”, escreve a correspondente do Le Monde.
(Fonte: As Vozes do Mundo)
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