Descoberta
pode ajudar a entender como os seres humanos desenvolveram a compreensão
numérica
O raciocínio lógico dos
primatas parece ser mais avançado do que se imaginava. A conclusão surgiu de
uma pesquisa feita por Jessica Cantlon, professora de ciências cerebrais e
cognitivas da Universidade de Rochester, nos EUA. Nos últimos anos, ela se
dedicou a estudar primatas para entender como os seres humanos desenvolvem o
conceito de números – desde a simples contagem até o complexo raciocínio
matemático.
Em 2013, Cantlon conduziu um experimento com uma
equipe de pesquisadores. Diante de porções variadas de amendoins, babuínos (com
apenas um ano de idade) mostraram capacidade de fazer distinção entre pequenas
e grandes quantidades do alimento. Com a descoberta, a dúvida era se essa
capacidade poderia ser influenciada por dimensões, como a área de superfície
relativa. Ou seja, era preciso descobrir se a escolha dos babuínos se dava pelo
número (quantidade) ou pela proporção do objeto (tamanho).
No estudo de 2016, a
pesquisa foi feita com macacos rhesus
(com capacidades neurais e cognitivas muito parecidas com a dos humanos) e,
paralelamente, com humanos – adultos e crianças dos EUA e um grupo de pessoas
do Tsimane, uma tribo da Bolívia que têm “pouco conhecimento numérico”.
O resultado foi
divulgado no começo deste ano, na Nature
Communications, e mostra que os primatas têm mesmo um senso lógico e
conseguem identificar grandes e pequenas quantidades de objetos
independentemente da área de superfície que parecem ocupar. E a novidade: esse
raciocínio é o mesmo dos seres humanos.
Para testar a
“quantidade versus área”, os cientistas apresentaram matrizes com vários
pontinhos aos indivíduos e aos animais, que tinham que escolher dois exemplos –
um para representar a maior porção e outro para a menor quantidade.
Todos os grupos
mostraram tendência para os números. “Isso mostra que o aspecto espontâneo da
extração de informações numérica tem uma base evolutiva, uma vez que isso foi
observado em todos os seres humanos e em espécies de primatas”, explicou o
pesquisador Steve Ferrigno à Nature.
O estudo também mostrou
que o entendimento da dimensão numérica foi mais forte em humanos e está
relacionado à idade e à educação. “À medida que envelhecem, as crianças estão
mais propensas a interpretar informações numéricas e contrapor com as
quantitativas. O mesmo aconteceu com os adultos de Tsimane que tinham mais
conhecimento matemático”, acrescentou Ferrigno.
O estudo é o primeiro a
comparar a percepção do número e pode, no futuro, ser um indicador de como é o
processo de aprendizagem na matemática em crianças. “Trata-se de compreender
como os seres humanos evoluíram processos de pensamento que são matematicamente
sofisticados”, concluiu o pesquisador.
(Fonte: Superinteressante)
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