Na fúnebre manhã de
terça (29/11/2016), o Brasil acordou estupefato com as notícias da tragédia que
ceifou a vida de jogadores, membros da comissão técnica, dirigentes,
jornalistas e tripulantes do voo que levava a delegação da Chapecoense para
Colômbia. Terrivelmente, 71 mortes e apenas 6 sobreviventes; o maior acidente
aéreo da história envolvendo uma equipe esportiva. De imediato, a crônica
jornalística delineou os acidentes aéreos com o Torino e o Manchester United.
Confesso para ti nobre leitor, que escrevi este artigo com muito pesar e
amargor. Busquei forças nas profundezas do meu ser para tentar externar na
escrita tão inominável tragédia.
As primeiras notícias do
acidente geraram uma comoção mundial, maximizada pelo alcance das redes
sociais. Surgiram diversas homenagens: minutos de silêncio nos treinos de
Barcelona, Benfica e Real Madrid, no jogo do Liverpool, vídeo do Guns N’ Roses,
menção em jogo da NBA... Mas, a homenagem mais marcante foi protagonizada pelo
Atlético Nacional da Colômbia, adversário da Chapecoense na final da Copa
Sul-Americana. A torcida trajada de branco lotou o estádio e cercanias,
realizando uma homenagem emocionante que ficará para sempre registrada na
memória coletiva. Com esses fatos, os laços entre Chapecoense e Atlético
Nacional, Brasil e Colômbia, ficaram deveras estreitos. Foi de arrepiar a
torcida entoando “eh, vamo vamo Chape” no Atanasio Girardot. Toda vez que um
brasileiro avistar a bandeira tricolor colombiana, terá um sentimento de
carinho e gratidão. Muchas gracias Atlético Nacional! Muchas gracias Colômbia!
A Associação
Chapecoense de Futebol foi fundada em 1973 por empresários do oeste de Santa
Catarina. O jovem e simpático time, numa ascensão meteórica e surpreendente,
saiu da Série D em 2009 e atingiu seu espaço na elite do futebol brasileiro em
2014. Com campanhas regulares, a Chapecoense vem se mantendo sem sufoco na
Série A. A trajetória vitoriosa da Chapecoense demonstra o quão é eficiente um
planejamento sério e organizado. É possível enfrentar as grandes potências
futebolísticas, haja vista, a dificuldade de tirar pontos do “Verdão do Oeste”
na Arena Condá. A Chape, termo
carinhosamente utilizado pelos torcedores, vivia a melhor fase de sua história:
campeã catarinense, pontuação robusta no Brasileirão (chegando a flertar com o
G6) e, apenas na 2ª participação numa competição internacional, conseguiu a
vaga na final da Sul-Americana. Um conto de fadas que teve final fatídico.
O sonho e a tragédia da
Chapecoense têm no goleiro Danilo a mais icônica personificação. Nas oitavas de
final contra o Independiente – maior campeão da Copa Libertadores com 7 taças,
conhecido na Argentina como “Rei de Copas” – numa atuação antológica, Danilo
pegou 4 cobranças na disputa de penalidades máximas. Na semifinal com o San
Lorenzo – "time do Papa" e Campeão da Libertadores em 2014 – Danilo efetuou uma
defesa milagrosa no findar da partida, sendo decisivo na classificação da Chape
à finalíssima. Inclusive, saiu um vídeo nas redes sociais contendo uma narração
memorável de Deva Pascovicci da Fox Sports (também perdeu a sua vida no voo
para Medellín) sobre a defesa supracitada. Subsequente ao acidente, suscitou a
seguinte especulação: “e se Danilo não fizesse aquela defesa? Aquela bola
deveria ter entrado”. No horário que seria o jogo da final, em homenagem na
Arena Condá, um dos momentos mais emblemáticos foi quando apareceu a imagem de
Danilo no telão. Também, foi de cortar o coração a foto de Danilo e o filho.
Danilo sintetizou a apoteose e o drama da Chapecoense, angariando o status de
titã no Panteão dos Ídolos do time de Chapecó.
O Brasil chora... O
mundo chora... Uma melancolia abissal rasga o âmago das pessoas. O brasileiro
se sentiu como familiar dos mortos. A tragédia nos trouxe inúmeras reflexões
sobre a brevidade da vida. A morte é algo plenamente natural, porém, o ser
humano nunca está preparado para tal fato, principalmente com a morte de um
ente próximo. A vida é breve. A morte de um ente próximo nos alerta sobre a
nossa condição de finitude. Consoante o filósofo alemão Martin Heidegger, o ser
humano é um “ser-para-a-morte”. A cada segundo que passa estamos mais próximos
da morte. A morte é o próprio nada e o nada gera angústia. Por conseguinte,
vivamos de forma plena o instante. Cada instante sagrado de vida deve ser
vivido com exacerbada intensidade. Adotemos a máxima dos romanos: carpe diem.
A Chapecoense se tornou
o 2º time do torcedor brasileiro. Toda vez que a Chape entrar em campo, um
misto de emoções ficará à flor da pele. A defesa de Danilo e a explosão de Caio
Júnior após o fim da partida com o San Lorenzo, jamais se apagarão da nossa
memória. O menino vestido de índio, mascote da Chape, a doce lembrança em meio
a tanta tristeza. O regresso dos heróis a Arena Condá, cenas que emanaram dor e
melancolia. Ficarão as lembranças e as saudades. A delegação da Chapecoense
pegou um voo sem volta. Portanto, o grito da torcida soará eternamente nas
nossas lembranças... “Eh, vamo vamo Chape...”
Tosta Neto,
04/12/2016
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