Em
pelo menos um depoimento, empreiteira admite repasse ilegal de R$ 30 milhões na
disputa eleitoral de 2014; relato pode influenciar julgamento no TSE
BRASÍLIA - A chapa da
presidente cassada Dilma Rousseff e do presidente Michel Temer recebeu dinheiro
de caixa 2 da Odebrecht na campanha de 2014, segundo delação da empreiteira à
força-tarefa da Lava Jato. Os relatos, já documentados por escrito e gravados
em vídeo, foram feitos na semana passada durante os depoimentos de executivos
ao Ministério Público Federal.
Em pelo menos um
depoimento, a Odebrecht descreve uma doação ilegal de cerca de R$ 30 milhões
paga no Brasil – para a coligação “Com a Força do Povo”, que reelegeu Dilma e
Temer em outubro de 2014. O valor representa cerca de 10% do total arrecadado
oficialmente pela campanha. O Estado
apurou que durante os depoimentos de delação premiada, os procuradores se
consultavam por meio de um grupo de WhatsApp para trocar informações.
Justiça
eleitoral. O relato da Odebrecht deve ter repercussão no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que apura abuso de poder político e
econômico na campanha. A fase de instrução na Corte ainda não foi concluída, o
que permite que uma das partes ou o Ministério Público peçam o compartilhamento
do material da Lava Jato ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori
Zavascki, após a homologação das delações.
Ao TSE, até agora,
nenhuma das 37 pessoas que prestaram depoimento na ação que investiga a chapa
relatou pagamento de caixa 2 diretamente para a campanha Dilma-Temer. Por essa
razão, a importância dos depoimentos da Odebrecht. Uma possível explicação é
que, na disputa presidencial de 2014, várias empreiteiras já tinham sido alvo
da Lava Jato. A 7.ª fase, deflagrada em novembro daquele ano, prendeu 17
executivos. Não era o caso da Odebrecht. Marcelo, então presidente do grupo, só
foi preso em junho de 2015.
Neste período, a
Odebrecht ainda desafiava os investigadores, primeira explicação encontrada na
Lava Jato para o fato de a empresa supostamente ter recorrido ao caixa 2 em
meio às investigações. A segunda é a de que o dinheiro para a chapa Dilma-Temer
seria uma forma de tentar se blindar das investigações, comprando ainda mais
apoio político. “Era a única empreiteira que ‘estava em condições’ de fazer
contribuições ilícitas”, afirma um dos envolvidos.
Mais
um caso. Outra delação premiada em negociação também deve
citar caixa 2 para a chapa Dilma-Temer. O casal de marqueteiros João Santana e
Mônica Moura já sinalizou que vai relatar pagamento de recursos não
contabilizados em 2014, envolvendo a Odebrecht. Um documento da Polícia
Federal, revelado pela revista Época, em março, mostrou que Santana recebeu R$
21,5 milhões da Odebrecht após o pleito de 2014, no Brasil.
O Estado apurou que a proposta de delação da publicitária, que cuidava
ao lado do marido das campanhas do PT, ainda estaria em negociação.
Defesa.
O advogado Gustavo Guedes, que defende Temer no processo do TSE, disse que
“desconhece absolutamente o assunto” e só vai se manifestar quando as delações
forem homologadas. “É difícil comentar delação em tese”, afirmou.
Sobre depoimentos de
delatores da Odebrecht serem compartilhados no processo que tramita no TSE, ele
afirma que tem dúvidas sobre a possibilidade jurídica de isso ocorrer, uma vez
que seria agregar novos fatos ao inquérito.
Defensor da presidente
cassada Dilma Rousseff no caso, Flávio Caetano disse que quem responde pelas
doações para a campanha de 2014 é o ex-tesoureiro Edinho Silva. Em depoimento
ao TSE, em novembro, ele disse que a Odebrecht foi a única empreiteira que
repassou dinheiro via diretório do PT. As demais não utilizaram a triangulação
e depositaram diretamente na conta da chapa. Edinho nega as acusações.
"Refuto com
veemência qualquer acusação de doações ilegais na campanha presidencial de
2014, todos os recursos utilizados foram declarados ao Tribunal Superior Eleitoral,
que após rigorosa auditoria aprovou por unanimidade as contas eleitorais",
informou Edinho, em nota. Ele foi eleito em outubro de 2016 prefeito de
Araraquara (SP).
A Odebrecht diz, em
nota, que não comenta as delações, mas reafirma seu compromisso de colaborar
com a Justiça.
(Fonte: Estadão)
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